Chikungunya é ameaça real
América do Sul está em alerta com vírus transmitido pelo Aedes, mosquito vetor da dengue. Ministério da Saúde alerta estados e municípios, uma vez que sintomas são muito parecidos, acrescidos de fortes dores articulares
Paula Takahashi
Estado de Minas: 05/03/2014
Originário da Tanzânia e amplamente disseminado entre países africanos e asiáticos, o vírus chikungunya fez as primeiras vítimas em solo caribenho em dezembro e acendeu o sinal de alerta ao longo de toda a América do Sul. Muito parecida com a dengue – inclusive o vetor de transmissão, o mosquito Aedes aegypti, é o mesmo –, a doença também acarreta febre, dor de cabeça e fadiga. A grande diferença está nas dores articulares, que podem acompanhar o paciente por meses. Nos casos mais agudos, essas dores se assemelham à artrite reumatoide e em situações extremas podem levar a deformidades. Essa foi a primeira vez que o vírus foi transmitido no hemisfério ocidental de forma autóctone, ou seja, já contaminou os mosquitos locais.
Os casos registrados anteriormente foram todos importados por meio de turistas picados em países onde a doença é endêmica (veja quadro). Inclusive, no Brasil foram identificadas, em 2010, três situações como essa. Na época, os viajantes já chegaram infectados vindos da Indonésia e da Índia. Até então não havia nenhuma identificação de contágio dentro do continente americano. Diante da proximidade e das condições favoráveis, especialistas já cogitam a possibilidade de propagação para a América Central e do Sul. "Acho que em cinco anos no máximo ele estará aqui. Mas pode ser antes", admite o infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein Artur Timerman, umas das principais autoridades no assunto.
Ciente do risco, o Ministério da Saúde (MS) anunciou a implantação do sistema de vigilância e monitoramento da febre do chikungunya no país. Entre as ações adotadas, o órgão emitiu comunicado às secretarias estaduais e municipais de Saúde, alertando sobre as características e sintomas da doença. Segundo informações da Secretaria de Vigilância em Saúde, do MS, um manual está sendo preparado para distribuição entre os profissionais da área. O material trará detalhamento completo das ações que devem ser adotadas com foco na prevenção e controle da doença.
"Uma equipe de médicos foi enviada à ilha de Martinica para atualização clínica no manejo de pacientes, que servirá para capacitação dos profissionais da área de assistência no Brasil", antecipou a secretaria. As medidas não param por aí. Laboratórios centrais de saúde pública (Lacen) das secretarias estaduais de Saúde vão ser capacitados com técnicas de diagnóstico para servirem de apoio às ações de vigilância, controle e assistência.
GRANDES EVENTOS E COPA Pedro Vasconcelos, chefe da seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas do Instituto Evandro Chagas (IEC), único no Brasil preparado para realizar o diagnóstico da doença, informou que uma equipe de profissionais já foi treinada e outra já está sendo formada. Tudo para que, assim que o vírus entrar no país, as ações de contenção sejam colocadas em prática. "O risco de o vírus se disseminar existe. A chance aumenta com eventos como a Copa do Mundo, que vai atrair milhares de pessoas de vários locais para o Brasil, inclusive de áreas onde o vírus já está circulando", observa Pedro. O especialista lembra que os tipos 1, 2 e 3 do vírus da dengue entraram no país pelo Rio de Janeiro, logo depois do período de carnaval, o que também aumenta o alerta.
PRODUÇÃO DE ANTÍGENO
O Instituto Evandro Chagas é o único laboratório da América Latina a possuir o vírus Chikungunya para produção de antígeno e anticorpos utilizados no diagnóstico da patologia. "Foi firmado um acordo entre o governo brasileiro e dos Estados Unidos para que recebêssemos esse material e pudéssemos realizar a produção local. Desta forma, não dependemos do fornecimento externo", observa Pedro Vasconcelos. O vírus chegou no Brasil em 2002 e desde então o antígeno e os anticorpos estão sendo elaborados. "Hoje a quantidade que temos vem sendo usada para treinamento. Vamos enviar material para alguns poucos laboratórios que são referência regional, mas a distribuição mais intensa ocorrerá à medida em que os casos forem confirmados", afirma. A Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Minas Gerais, estaria entre os laboratórios candidatos.
Conheça a doença
Transmissão
>> Por meio da picada do mosquito contaminado. O vetor é o mesmo da dengue, o Aedes aegypti. O Aedes albopictus é responsável pela transmissão em países da Ásia, Europa e África.
Sintomas
>> No início, são muito semelhantes ao da dengue. Além de febre, as dores de cabeça, fadiga e náuseas estão entre os sintomas em comum. A grande diferença está nas dores musculares e nas articulações – normalmente nas mãos e pés –, que lembram muito uma artrite. Essas dores podem durar semanas até vários meses. Ao contrário da dengue, a chikungunya não é fatal, já que não leva a hemorragias.
Tratamento
>> Assim como em casos de dengue, não há remédios específicos para o vírus chikungunya. Repouso, hidratação e medicamentos para aliviar os sintomas de febre e dores no corpo.
Cuidados para afastar o inseto incluem repelente e roupas
Publicação: 05/03/2014 04:00
As ilhas caribenhas estão no topo da lista dos destinos turísticos mais desejados entre os brasileiros. Por isso, vale um alerta para quem pretende visitar regiões onde já foram confirmados casos da febre do chikungunya. "O uso de repelente adequado e roupas são as principais formas de evitar o contágio. Para as praias do Caribe é difícil a adesão a essas medidas de controle, mas os viajantes precisam ficar atentos", orienta o infectologista responsável pelo checape do viajante do Laboratório Fleury Medicina e Saúde, Jessé Alves. Sem vacina, assim como a dengue, a única forma de impedir a transmissão do vírus é evitando a picada do mosquito. Telas nas janelas, ar-condicionado e mosquiteiro compõem a ação preventiva.
Na praia, o repelente deve ser usado sempre depois do protetor solar. "Dê preferência a produtos que tenham a menor quantidade possível de perfume. Aliás, os cheiros, principalmente florais, devem ser evitados, já que podem atrair os mosquitos", lembra Jessé. Depois do mergulho, o produto deve ser reaplicado. "O ideal é buscar um repelente com concentração alta da substância ativa. Complexo B e até pílula de alho, que muitos acreditam proteger, são grandes mitos", alerta o infectologista.
DOR PARECIDA COM REUMATISMO
A fase de incubação do vírus (entre a picada e os primeiros sintomas) pode ser de dois a 12 dias, mas o mais comum é que os primeiros sinais de contágio surjam ainda na primeira semana, a partir de terceiro dia de contágio. Em uma semana, grande parte dos pacientes já apresenta melhoria do quadro, mas não são raros os casos que evoluem e podem prolongar as dores nas articulações. "A complicação da artrite se torna o maior problema. Em casos mais graves, as dores articulares se assemelham ao reumatismo e podem persistir por meses", afirma o infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein Artur Timerman. Apesar do agravante, a doença dificilmente evolui para óbito, ao contrário da dengue.
Também não apresenta um tratamento específico que atualmente consiste em atacar os sintomas. "É sintomático, para abaixar a febre e reduzir a dor", reconhece o infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz Stefan Cunha Ujvari. Segundo o especialista, durante a fase de infecção, em que a pessoa apresenta o sintoma de febre, aumentam as chances de contágio do mosquito que venha a picar o paciente. "Basta que uma pessoa esteja contaminada e que um mosquito a pique para que a doença inicie seu processo de propagação. Caso como esse aconteceu na Itália, quando apenas um turista voltou contaminado e, depois dele, surgiram vários outros casos", afrima Stefan.
1952
ano em que o vírus foi registrado pela primeira vez na Tanzânia
1951
casos registrados nas ilhas caribenhas desde a confirmação das primeiras vítimas
1
morte confirmada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na ilha Saint Martin
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