EM DIA COM A PSICANÁLISE »
Caixa de costura
Regina Teixeira da Costa
Estado de Minas: 16/03/2014
Definitivamente, as coisas não são como queremos. Nunca serão. O mundo não foi feito para atender nossas vontades. Ele é duro e não se molda aos nossos desejos, vontades ou caprichos. Ao contrário, nós é que precisamos nos conformar ou aceitar a vida como ela é. Precisamos e devemos, pois ir na contramão é estar sempre em uma forma de guerra, de peleja.
As coisas são como são. Pela interferência humana alguma coisa pode se transformar. Podemos retirar do mundo o que precisamos para sobreviver, mas nunca podemos exigir que tudo saia a nosso gosto. Nossos atos são capazes de algum efeito no real e podem fazer cortes e costuras, moldando situações, tornando-as menos áridas. Mas há um limite intransponível diante do qual é preciso se deter. Acatar.
A começar pela sobrevivência da espécie, tão precoce ao nascer, quando dependemos do outro integralmente. E tudo que passa pela mão do outro tem o selo do dono e difere no de cada um. O desejo não coincide, a opinião diverge, o gosto nem se discute. A fé é de cada um e os objetivos são plurais. A multiplicidade é radical.
Isso tem consequências na vida prática, pois vivemos em face de tensões e conflitos diante das diferenças. Concordar sempre nos anularia, discordar parece tenso, não que o seja de fato. São as pessoas que têm medo de contrariar as outras. Algum resquício daquela dependência antiga ou efeito da educação para nos inserir na cultura.
Para nos ensinar a fazer laços, talvez nos ensine também a abrir mão de nós mesmos. A medida certa escondida de nossa capacidade nos faz errantes e seria preciso muita sabedoria para evitar as cabeçadas que têm suas raízes nas nossas miseriazinhas de cada dia.
Por isso, achei muito bonita a poesia que recebi de um amigo, que fala sobre a habilidade de lidar com coisas delicadas nem sempre a nosso alcance. Fala sobre a sensibilidade e a delicadeza que nem sempre tivemos. Sobre a possibilidade de manobrar melhor o real, como um tecido capaz de se tornar roupa do corpo. Com agulhas e linhas e, por que não?, tesouras, que nos permitam sempre melhores formas. O poema é sobre impossíveis desejos que queríamos realizar.
Caixa de costura
Janaína Cavallin
A gente podia poder costurar o tempo,
bordando em cima dos erros para que eles sumissem.
Costurar as pessoas que gostamos pertinho.
Costurar os domingos, um mais perto do outro.
Costurar o amor verdadeiro no peito de quem a gente ama.
Costurar a verdade na boca dos seres.
Costurar a saudade no fundo de um baú, para que ela de lá não fuja.
Costurar a autoestima bem alto, pra que nunca ela caia.
Costurar o perdão na alma e a bondade na mão.
Costurar o bem no bem e o bem sobre o mal.
Costurar a saúde na enfermidade e a felicidade em todo lugar.
Regina Teixeira da Costa
Estado de Minas: 16/03/2014
Definitivamente, as coisas não são como queremos. Nunca serão. O mundo não foi feito para atender nossas vontades. Ele é duro e não se molda aos nossos desejos, vontades ou caprichos. Ao contrário, nós é que precisamos nos conformar ou aceitar a vida como ela é. Precisamos e devemos, pois ir na contramão é estar sempre em uma forma de guerra, de peleja.
As coisas são como são. Pela interferência humana alguma coisa pode se transformar. Podemos retirar do mundo o que precisamos para sobreviver, mas nunca podemos exigir que tudo saia a nosso gosto. Nossos atos são capazes de algum efeito no real e podem fazer cortes e costuras, moldando situações, tornando-as menos áridas. Mas há um limite intransponível diante do qual é preciso se deter. Acatar.
A começar pela sobrevivência da espécie, tão precoce ao nascer, quando dependemos do outro integralmente. E tudo que passa pela mão do outro tem o selo do dono e difere no de cada um. O desejo não coincide, a opinião diverge, o gosto nem se discute. A fé é de cada um e os objetivos são plurais. A multiplicidade é radical.
Isso tem consequências na vida prática, pois vivemos em face de tensões e conflitos diante das diferenças. Concordar sempre nos anularia, discordar parece tenso, não que o seja de fato. São as pessoas que têm medo de contrariar as outras. Algum resquício daquela dependência antiga ou efeito da educação para nos inserir na cultura.
Para nos ensinar a fazer laços, talvez nos ensine também a abrir mão de nós mesmos. A medida certa escondida de nossa capacidade nos faz errantes e seria preciso muita sabedoria para evitar as cabeçadas que têm suas raízes nas nossas miseriazinhas de cada dia.
Por isso, achei muito bonita a poesia que recebi de um amigo, que fala sobre a habilidade de lidar com coisas delicadas nem sempre a nosso alcance. Fala sobre a sensibilidade e a delicadeza que nem sempre tivemos. Sobre a possibilidade de manobrar melhor o real, como um tecido capaz de se tornar roupa do corpo. Com agulhas e linhas e, por que não?, tesouras, que nos permitam sempre melhores formas. O poema é sobre impossíveis desejos que queríamos realizar.
Caixa de costura
Janaína Cavallin
A gente podia poder costurar o tempo,
bordando em cima dos erros para que eles sumissem.
Costurar as pessoas que gostamos pertinho.
Costurar os domingos, um mais perto do outro.
Costurar o amor verdadeiro no peito de quem a gente ama.
Costurar a verdade na boca dos seres.
Costurar a saudade no fundo de um baú, para que ela de lá não fuja.
Costurar a autoestima bem alto, pra que nunca ela caia.
Costurar o perdão na alma e a bondade na mão.
Costurar o bem no bem e o bem sobre o mal.
Costurar a saúde na enfermidade e a felicidade em todo lugar.
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