Tereza Cruvinel - Guardar as armas
Mercadante recebe amanhã o líder rebelde que o governo quis isolar
Estado de Minas: 16/03/2014
Está previsto, mas
não anunciado, para amanhã um encontro entre o ministro-chefe da Casa
Civil, Aloizio Mercadante, e o líder da rebelião parlamentar da semana
passada, Eduardo Cunha, do PMDB. Depois de ter rachado o tal blocão,
cooptando alguns partidos com afagos e concessões, o Planalto faz o
primeiro aceno de paz ao desafiante que lhe impôs derrotas
significativas. A crise na coalizão tende a arrefecer. Por ora, convém a
todos cobrir as brasas com as cinzas da autodefesa: o horizonte está
informando que a disputa presidencial não será um passeio.
Como
toda crise, dessa alguns saíram feridos, outros fortalecidos. Até no
Planalto se ouve que o líder da insurgência aliada, Eduardo Cunha,
“cresceu muito” no episódio. O governo, em verdade, subestimou a força
que ele já tinha nas bancadas quando aceitou a queda de braço e acabou
levando uma sova no plenário da Câmara e nas comissões. Já o
vice-presidente Michel Temer perdeu na crise a credencial de elo entre
Dilma e o PMDB. Nem por isso está com o posto na chapa ameaçado. Já
Eduardo Cunha, que sabe ouvir e seduzir, começa a empolgar o baixo clero
como eventual candidato a presidente da Câmara no início de 2015,
embora o atual, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), teoricamente possa
disputar um segundo mandato. Isso vai depender, fundamentalmente, de
qual partido elegerá a maior bancada. Hoje, quem tem mais deputados é o
PT, que muito se arrepende de ter cedido a vaga ao aliado, dentro de um
acordo de revezamento. Como o PMDB era majoritário no Senado, acabou
ficando com as duas Casas, o que lhe deu enorme poder de pressão sobre o
Planalto.
Muito mais que ministérios, emendas e imposições
palacianas sobre a agenda parlamentar, o terror à hipótese de perder o
comando do Legislativo é o que alimenta a raivosa inquietação do PMDB.
Há algum tempo, sentiu-se dormindo com o inimigo ao captar sinais de que
o PT estaria se valendo de todos os recursos propiciados pela cota
maior de poder para eleger a maior bancada. E, assim, depender menos do
PMDB e de outros aliados, promovendo, quem sabe, uma reforma política
que favoreça os sonhos de longo prazo. Há um exagero nessa leitura. É
bastante provável que o PT novamente eleja a maior bancada. É razoável
supor que ela vá crescer, mas, no sistema partidário fragmentado que
temos, nenhum partido fará muito mais do que 100 deputados, fração que
não garante absoluta hegemonia no Congresso. Depois da Constituinte,
quando o PMDB sozinho elegeu a maioria absoluta, ninguém repetiu o
feito. Desde então, impera o inevitável presidencialismo de coalizão. Os
presidentes chegam lá com milhões de votos, mas seus partidos não
alcançam sequer os 20% das cadeiras da Câmara.
A refrega foi
também o batismo de fogo do ministro Mercadante em seu novo cargo, ao
qual chegou com implícito papel de chefe da articulação política do
governo. Ele cometeu erros iniciais ao administrar as pressões dos
aliados, chegando a dizer que, na campanha, todos vão querer tirar
fotografia com Dilma para se eleger na garupa do favoritismo dela.
Subestimou Eduardo Cunha, menosprezou o baixo clero e confiou demais no
servilismo ao Executivo. Mas, depois que a situação desandou, aterrissou
na realidade. Chamou cada partido do blocão para negociar, ouviu,
concedeu, rachou o ajuntamento. Teria convencido a presidente a concluir
de uma tacada a reforma ministerial, nomeando nomes de sua escolha, mas
palatáveis ao PMDB. Agora, fará o mais complicado. Conversar com
Eduardo Cunha, que o governo inicialmente planejou isolar. Na
sexta-feira, confirmando o encontro, o líder disse à coluna: “Eu nunca
me neguei a dialogar nem rompi com o governo. Mas, sem negociação, vamos
derrotá-lo novamente no Marco Civil da Internet”. Evitar essa nova
derrota é o desafio afirmativo de Mercadante.
Aécio e Eduardo
Ontem,
no Rio, a coalizão PSB/Rede-PPS deve ter batido o martelo sobre a
candidatura própria ao governo do estado, aprovando o apoio ao deputado
Miro Teixeira, do Pros. O também deputado Alfredo Sirkis (PSB-RJ) já
havia recusado a candidatura lá atrás, depois mudou de ideia. E, com
isso, Eduardo Campos atende uma das três exigências de Marina Silva para
ser confirmada como candidata a vice. Ela insistiu em candidaturas
próprias também em São Paulo e no Amazonas. Os números das pesquisas
convenceram Eduardo: nas simulações em que ela aparece como vice, seus
índices quase duplicam. Em São Paulo, em vez de apoio ao tucano Geraldo
Alckmin, haverá a escolha entre o deputado Walter Feldman (Rede/PSB) e o
vereador Ricardo Young (PPS). No Amazonas, o apoio à deputada pepista
Rebecca Garcia foi retirado, e lançada uma chapa puro-sangue, com o
deputado estadual Marcelo Ramos para governador e o federal Marcelo
Serafim para senador. No dia 27, os dois estrelam o programa de
televisão semestral do PSB. Se tudo estiver resolvido, Marina pode até
ser anunciada como vice no programa.
Campos vem fazendo críticas
cada vez mais estridentes a Dilma, embora alvejando pontos já levantados
pelo tucano Aécio Neves, agora empenhado em capitalizar as previsões de
que a redução das tarifas de energia promovida pela presidente teria
consequências para o setor elétrico. De carga tributária, crise
federativa e barbeiragem na economia, Aécio já falava quando Campos
ainda estava no campo governista, dizem os tucanos mais próximos ao
candidato, garantindo não estar havendo ali nenhuma paúra com
possibilidade de Eduardo, anabolizado por Marina, ultrapassá-lo e ficar
com a vaga no segundo turno. Lembram que o PSDB tem capilaridade muito
maior, que o socialista ainda tem muito caminho a andar para se tornar
nacionalmente conhecido e que o estreitamento das alianças para atender
Marina não o ajudará. Mas se for ele que chegar lá, é claro, terá o
apoio tucano.
Um sinal de que a campanha já começou, mobilizando
inclusive os artistas, como sempre ocorre, é a chuva de mensagens de
celebridades na página de Aécio no Facebook cumprimentando-o pelos 54
anos completados no dia 10.
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