domingo, 20 de abril de 2014

EM DIA COM A POLíTICA » Tempos de barbárie?

EM DIA COM A POLíTICA » Tempos de barbárie? A violência crescente e a incapacidade dos governos de lidar com o problema da insegurança estão por trás de tudo isso.


Alessandra Mello
Estado de Minas: 20/04/2014



Ainda não há estatísticas oficiais, mas é fato que uma onda de linchamentos, espancamentos e casos de justiça feita por conta própria tem ganhado força no Brasil. Cada vez mais casos do gênero são noticiados e muitos contam com o apoio de uma parcela da população. O fenômeno não é restrito ao Brasil. Na Argentina, fatos semelhantes vêm acontecendo e suscitaram até mesmo manifestação recente do papa Francisco, que condenou, em carta, essa forma de violência.

O primeiro caso recente de repercussão no Brasil aconteceu no Rio de Janeiro, quando um adolescente acusado de assalto foi agredido e amarrado nu em um poste. Desde então, casos semelhantes ganharam força em todo o país. E para agravar o quadro, muitas das agressões são filmadas e exibidas nas redes sociais, sem nenhum constrangimento. Pelo contrário, as imagens e fotos são quase sempre postadas como um troféu por quem participa da barbárie.
A violência em alta e a incapacidade dos governos estaduais e federal de lidar com o problema da insegurança estão por trás de tudo isso. Mas não é só. As instituições do Estado sofrem de um descrédito crescente. A polícia mata sem dó nas periferias da cidade. As milícias agem livremente. A Justiça é lenta e quase sempre pune apenas os mais fracos. A segurança privada garante aos que têm dinheiro uma vida mais segura, enquanto a população pobre vive ao léu. Há anos o Congresso promete reformar a Justiça e as leis, mas tudo continua como antes. É nesse vácuo que essas manifestações de violência ganham corpo. São os tempos do olho por olho, dente por dente.

Em troca de apoio
Filiado ao PT e militante na causa agrária, Alcides Guerra Filho foi exonerado na semana passada do cargo de delegado do Ministério de Desenvolvimento Agrário em Minas Gerais. Em seu lugar, entrou o pastor e consultor de marketing Ricardo Sapi, filiado ao PRB. A exoneração de Alcides foi publicada em 7 de abril, como sendo “a pedido”. Dois dias depois, foi retificada no Diário Oficial da União: no texto, ficou apenas o verbo exonerar. A troca de comando aconteceu dias depois de o PRB anunciar apoio à candidatura de Fernando Pimentel (PT).

Lei Bernardo
A página criada no Facebook para tentar localizar o garoto Bernardo Boldrini continua no ar, mas agora com outra finalidade. Participantes da rede social transformaram a busca de notícias do garoto, encontrado morto no dia 14, em uma campanha pela alteração da legislação para garantir mecanismos mais eficientes para a proteção de crianças e adolescentes vítimas de maus- tratos e abusos cometidos pela família. A madrasta é acusada do crime, e a suspeita é de que ela tenha contado com a ajuda do pai do garoto, que está preso. Parentes do menino tentavam conseguir sua guarda, depois de denúncias de abandono e maus- tratos cometidos pelo pai e pela madrasta. O próprio garoto procurou a Justiça e pediu para deixar a casa do pai. 



 (Beto Magalhães/EM/D.A Press - 12/2/13)

Direitos iguais

Entrou em vigor uma resolução conjunta do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária e do Conselho Nacional de Combate à Discriminação que estabelece parâmetros para os homossexuais presos em unidades penitenciárias no Brasil. A norma garante direitos básicos como espaços específicos, direito à visita íntima e de ser chamado pelo nome social. O presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis (ABLGT), Carlos Magno (foto), comemorou a norma, segundo ele, uma reivindicação de décadas. No entanto, ele considera que a luta por direitos iguais nos presídios ainda é longa, pois o texto não tem força de lei, ou seja, pode ou não ser seguido pelos estados. “É uma grande conquista, mas temos um longo caminho a percorrer para garantir que essa resolução saia do papel.” 

Senhor doutor
Depois do caso do sujeito que roubou duas galinhas avaliadas em R$ 40, o Supremo Tribunal Federal (STF) vai ter de decidir agora sobre uma ação em que um juiz de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, pede para ser chamado de doutor ou senhor pelo zelador do seu prédio. Durante a tramitação, que começou em 2004, o juiz chegou a ter algum sucesso, mas como acabou perdendo a ação, resolveu recorrer ao STF, alegando que o caso diz respeito à Corte por envolver princípios constitucionais da dignidade e igualdade. 

Homenagens a todo o vapor As votações na Câmara Municipal de Belo Horizonte andam para lá de lentas, mas as homenagens estão em ritmo frenético. Somente este ano, os vereadores já fizeram 21 sessões de homenagens das mais diversas. Para este mês ainda estão programadas mais 5. Muitas são entregas de títulos de cidadania honorária ou comenda de honra ao mérito a presidentes de partidos, integrantes do governo do estado e parlamentares estaduais e federais. 


Pinga Fogo
A militância petista na internet promoveu ontem, sábado de aleluia, uma malhação virtual do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). A desculpa é que ele traiu Dilma, ao passar para a oposição e fazer duras críticas ao governo federal. A hashtag, palavra ou expressão chave usada para marcar postagem com o mesmo conteúdo, era “Dudu traíra”.
O ministro da Secretaria de Aviação Civil, o peemedebista Moreira Franco, quer barrar no Rio de Janeiro o “Aezão”, dissidência do partido no estado que defende o voto no candidato do PSDB, Aécio Neves, e no governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, que concorre à reeleição.
A presidente da Confederação Nacional da Agricultura, senadora Kátia Abreu (TO-PMDB), publicou ontem um artigo em que defende “cidadania para os índios”. No texto, ela acusa a Fundação Nacional do Índio de ser ideológica e de incitar o Conselho Indigenista Missionário a travar uma luta contra o agronegócio, o lucro, o mercado e os produtores rurais. E finaliza dizendo que fez uma “homenagem pessoal aos povos indígenas” ao batizar seus filhos de Irajá, Iratã e Iana. É tanto amor pelos índios, não é senadora?
Enquanto o Judiciário no Brasil todo teve direito a feriadão prolongado, a Justiça Eleitoral não para. Cartórios eleitorais funcionaram durante todo o final de semana. É que vence em 7 de maio o prazo para quem quiser regularizar sua situação, mudar de domicílio eleitoral e tirar título para votar nas eleições de outubro.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário