Por que as pessoas mentem?
Getúlio Chaves
Analista comportamental e professor de eneagrama
Estado de Minas: 01/04/2014
A mentira é uma afirmação que omite, desvirtua, descaracteriza ou nega uma verdade e, geralmente, é usada como meio de fuga das consequências que uma verdade traria. Para algumas pessoas, torna-se um hábito que, com o passar do tempo, leva à descredibilidade. A Universidade de Amsterdã constatou que nem todos mentem, e que boa parte dos indivíduos consegue ser sincero o tempo todo, em pesquisa realizada com 527 pessoas. Conforme o estudo, 41% dos participantes afirmaram que não contaram nenhuma mentira nas últimas 24 horas; 51% revelaram que proferiram de uma a cinco inverdades no mesmo intervalo de tempo e 8% mentiram seis vezes ou mais.
Apesar dos dados, é muito difícil encontrarmos pessoas que não mentem, pois a ocorrência da mentira pode não ser percebida conscientemente, como acontece com pessoas que gostam de elogiar os outros, mesmo quando o reconhecimento não tem fundamento. Por outro lado, podemos localizar pessoas que, por meio do autoconhecimento, aumentaram sua resistência e a capacidade de administrar situações complicadas. Isso faz com que tenham uma atitude positiva e enfrentem momentos embaraçosos com determinação, porque sabem que o atalho oferecido pela mentira não é duradouro nem, muito menos, útil. Essas pessoas utilizam para a vida a metáfora que diz que a “mentira tem perna curta”, sendo estimuladas a seguir o caminho da sinceridade.
As pessoas descomprometidas com os outros e com suas tarefas tendem a mentir mais, pois estão sempre em busca de justificativas para suas atitudes inadequadas, de fato buscando alcançar o sucesso e, até mesmo, procurando manipular os outros, seja no meio profissional ou social.
Todos são capazes de mentir, mas, segundo a filosofia do eneagrama, algumas personalidades têm mais dificuldade em proferir inverdades que outras. O eneatipo 1, por exemplo, é definido como o organizado, disciplinado e responsável. As pessoas com essa personalidade são perfeccionistas e reprimem seus impulsos e desejos para manter uma postura que consideram ideal. O tipo 1 pode até mentir, mas não sabe permanecer no erro, pois suas atitudes, ações e os “efeitos colaterais” da mentira como nervosismo, transpiração excessiva, gagueira e rubor o entregam.
Diferentemente do eneatipo 1, os eneatipos 3 e 7 têm mais facilidade. As pessoas do tipo 3 estão sempre em busca do sucesso profissional e, por isso, muitas vezes, mentem, até mesmo inconscientemente, para criar uma imagem falsa e conseguir a admiração dos outros. Já pessoas com a personalidade de número 7 são consideradas divertidas e irresponsáveis, pois tendem a dispersar facilmente e estar sempre em busca de opções mais prazerosas em tudo o que faz. Agindo assim, esse eneatipo perde seu foco e, às vezes, seu comprometimento e vínculos com as tarefas e pessoas do cotidiano. As pessoas assim mentem, mas não para se vangloriar e conquistar a admiração alheia, e, sim, porque acreditam que sua imaginação e ilusões fazem parte da realidade.
Não é fácil reconhecer que a mentira está presente na atitude humana. Muitos se autointitulam sinceros, afirmando que não mentem ou não gostam de inverdades. Contudo, quando reconhecemos que temos o impulso de mentir e percebemos que essa não é a melhor forma de lidarmos com nossos medos e receios, é mais fácil promover uma mudança interna. Enfim, podemos optar por sermos mais corajosos e ousados, a ponto de modificarmos e desmascararmos nossos fantasmas. A transformação não acontece instantaneamente, mas de forma gradual, no cotidiano. Pode ser difícil; entretanto, não é impossível.
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