sexta-feira, 9 de maio de 2014

CARLOS HERCULANO LOPES » Os dois amigos‏

CARLOS HERCULANO LOPES » Os dois amigos
Estado de Minas: 09/05/2014





Foi com surpresa, há uns dois meses, quando estava se preparando para deitar depois de um dia cansativo de trabalho, que Zé Roberto recebeu o telefonema do amigo Luiz Cláudio. Há mais de 30 anos, desde que esse se mudara para os Estados Unidos, eles não se encontravam nem tiveram notícias um do outro. “Há um bom tempo estou vivendo novamente em Belo Horizonte, Beto. Aluguei um apartamento no Prado e gostaria muito de encontrá-lo uma hora dessas”, ele disse.

E foi assim, no início da semana passada, num restaurante lá mesmo no bairro, que os dois velhos amigos, criados em Governador Valadares desde que as famílias se mudaram de Açucena para aquela cidade, voltaram a se ver. O Zé Roberto havia engordado muito, ao contrário de Luiz Cláudio, que continuava bem magro. Uns 30 quilos, ou mais. O outro, em compensação, estava mais velho.

Depois dos cumprimentos, do forte abraço e de perguntarem pelas famílias, que também haviam se distanciado, foi a vez do Zé Roberto querer saber como estava indo a vida do amigo. “E a adaptação a Belo Horizonte, depois desse período todo fora, como tem sido? Está tudo bem?”, perguntou, enquanto pedia uma cerveja ao garçom.

Depois de ficar alguns instantes em silêncio, Luiz Cláudio respondeu ao amigo que as coisas, ao contrário do que sonhara enquanto vivia “na América”, não estavam indo como queria. Nada saiu como planejara, nem Belo Horizonte era a cidade que tinha deixado.

 “Estou me sentindo um estranho aqui, não conheço mais ninguém e não tenho conseguido me estabelecer em nada. Tem hora que dá até vontade de me mandar de novo”, respondeu o Luiz. “E por que você só está me procurando agora? Por que não me deu um toque antes?”, quis saber o Roberto, enquanto se lembrava, olhando para o amigo, das pescarias no Rio Doce, quando os dois costumavam nadar escondidos dos pais.

Novamente alguns segundos de silêncio, um breve abaixar de olhos, para o outro responder que não queria incomodá-lo. Tentava se firmar em alguma coisa antes de rever o amigo. “Mas nada deu certo, Beto. Primeiro, comprei uma loja de confecções, mas tive de fechá-la, pois as vendas não estavam cobrindo nem o aluguel nem os impostos. Com o dinheiro que sobrou, fiz sociedade numa fabriqueta de carimbos com um cara que conheci lá em Nova York, mas entrei pelo cano”, disse.

“Não queria conversar com você nessas circunstâncias. Mas estou aqui para ver se me ajuda a conseguir algum trabalho, pois há três meses estou parado. Topo qualquer coisa, irmão, menos voltar para a construção civil, porque, nesta altura da vida, não aguento mais carregar saco de cimento nem pintar parede”, prosseguiu o Luiz Cláudio, com os olhos no chão. Desde então, pois sempre foi um excelente motorista, ele está trabalhando na empresa de engenharia do amigo, uma das mais conhecidas de BH, onde construiu dezenas de prédios. Até o momento, como Zé Roberto contou dia desses, ainda não tiveram nenhum problema.

>> carloslopes.mg@diariosassociados.com.br

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