O taxista e o passageiro rodavam num fim de
tarde pelas ruas de Belo Horizonte, em direção ao Jardim América, quando
passaram em frente a uma casa lotérica, que estava cheia, com a fila
tomando um pedaço do passeio. Fazia um calor abafado, mas sem nenhum
sinal de chuva. “Todo mundo à procura do sonho, não é amigo?”, disse o
motorista, voltando-se para o homem a seu lado, tão absorto em
pensamentos que demorou para dar a resposta. “É isso, todas as pessoas
têm seus sonhos, não é mesmo?”.
E, antes que o motorista quisesse saber os seus, ele se adiantou com a pergunta. Ao que o outro, como se estivesse esperando, disse, mostrando ser uma pessoa de conversa fácil, acostumado ao convívio diário com estranhos: “Desde rapaz tive dois sonhos...”. E fez uma pausa, como se para causar suspense ou alimentar a curiosidade do ouvinte, que aproveitou para afrouxar o nó da gravata. “E quais são?”.
Mas no instante em que o taxista, cujo nome era Boschi, como mostrava a plaqueta de identificação, ia começar a revelá-los, foram parados por uma blitz. Vários soldados, alguns com metralhadoras nas mãos, tinham bloqueado parte da Avenida Getúlio Vargas, tornando o trânsito ainda mais lento. Documentos mostrados, tudo em dia com o carro, foi hora de prosseguirem viagem, não sem antes o motorista elogiar o trabalho da PM. “Tem de ser assim mesmo, a cidade está muito violenta”, disse.
“E os seus sonhos, amigo, quais são?”, adiantou-se novamente o passageiro, já deveras curioso, ao que o condutor, depois de abrir um largo sorriso, disse, não sem antes querer saber seu nome: “O primeiro, vou te contar, Carlos, e você pode até achar que é bobagem: é fazer um cruzeiro com minha mulher e meus netos, num desses navios chiques, transatlânticos mesmo, com direito a shows de Roberto Carlos e tudo mais”.
“E por que você não se dá esse presente? Pelo que ouvi dizer, não fica assim tão caro”, arriscou o passageiro, encorajando-o. “É, mas antes teria de acabar de quitar minha casa e conseguir ter uma placa, pois pago diária nesse carro, e ela não é barata”, contou o Boschi, como se já tivesse tido essa conversa com outros. Pelo menos foi a impressão que o homem teve, para em seguida indagar: “E o outro sonho, qual é?”. “Ah, esse é meio esquisito, mas se você quer mesmo saber, vou te contar.” Nisso o táxi foi fechado pelo carro de uma mulher, que estava falando ao celular. “É assim o dia todo, estou acostumado”, adiantou-se o motorista. “Meu outro sonho é conhecer a Itália.... Mas não a Itália toda, só um pedacinho de Milão, do qual meu pai não cansava de falar.” “Ele era de lá?”, perguntou o Carlos. “Sim, ele era, e veio para cá logo depois da guerra, sem ter onde cair morto.”
“Mas que pedacinho de Milão é esse do qual seu pai tanto falava?”, indagou o passageiro, já todo ouvidos. “Você pode até achar que sou doido. O velho tinha lutado na guerra, ele era um partisan e estava em Milão no dia em que penduraram o corpo de Mussolini e da amante, Clara Petacci, na Piazzale Loreto. É esse lugar que tenho vontade de conhecer, de tanto que meu pai falava disso e da cena que viu...”
“O que você está esperando que não vai até lá com sua mulher? Pegam um navio no Rio e pronto, olha o sonho realizado.” “Ah, meu amigo, mas para fazer isso só se eu ganhasse na mega, que por sinal, está acumulada”, emendou o Boschi.
Foi então que, por uma dessas coincidências, estavam passando em frente a uma outra casa lotérica, cuja fila, como a primeira, já não era tão grande. Nos minutos seguintes, aqueles dois homens, como velhos amigos, aproveitaram para fazer um joguinho.
E, antes que o motorista quisesse saber os seus, ele se adiantou com a pergunta. Ao que o outro, como se estivesse esperando, disse, mostrando ser uma pessoa de conversa fácil, acostumado ao convívio diário com estranhos: “Desde rapaz tive dois sonhos...”. E fez uma pausa, como se para causar suspense ou alimentar a curiosidade do ouvinte, que aproveitou para afrouxar o nó da gravata. “E quais são?”.
Mas no instante em que o taxista, cujo nome era Boschi, como mostrava a plaqueta de identificação, ia começar a revelá-los, foram parados por uma blitz. Vários soldados, alguns com metralhadoras nas mãos, tinham bloqueado parte da Avenida Getúlio Vargas, tornando o trânsito ainda mais lento. Documentos mostrados, tudo em dia com o carro, foi hora de prosseguirem viagem, não sem antes o motorista elogiar o trabalho da PM. “Tem de ser assim mesmo, a cidade está muito violenta”, disse.
“E os seus sonhos, amigo, quais são?”, adiantou-se novamente o passageiro, já deveras curioso, ao que o condutor, depois de abrir um largo sorriso, disse, não sem antes querer saber seu nome: “O primeiro, vou te contar, Carlos, e você pode até achar que é bobagem: é fazer um cruzeiro com minha mulher e meus netos, num desses navios chiques, transatlânticos mesmo, com direito a shows de Roberto Carlos e tudo mais”.
“E por que você não se dá esse presente? Pelo que ouvi dizer, não fica assim tão caro”, arriscou o passageiro, encorajando-o. “É, mas antes teria de acabar de quitar minha casa e conseguir ter uma placa, pois pago diária nesse carro, e ela não é barata”, contou o Boschi, como se já tivesse tido essa conversa com outros. Pelo menos foi a impressão que o homem teve, para em seguida indagar: “E o outro sonho, qual é?”. “Ah, esse é meio esquisito, mas se você quer mesmo saber, vou te contar.” Nisso o táxi foi fechado pelo carro de uma mulher, que estava falando ao celular. “É assim o dia todo, estou acostumado”, adiantou-se o motorista. “Meu outro sonho é conhecer a Itália.... Mas não a Itália toda, só um pedacinho de Milão, do qual meu pai não cansava de falar.” “Ele era de lá?”, perguntou o Carlos. “Sim, ele era, e veio para cá logo depois da guerra, sem ter onde cair morto.”
“Mas que pedacinho de Milão é esse do qual seu pai tanto falava?”, indagou o passageiro, já todo ouvidos. “Você pode até achar que sou doido. O velho tinha lutado na guerra, ele era um partisan e estava em Milão no dia em que penduraram o corpo de Mussolini e da amante, Clara Petacci, na Piazzale Loreto. É esse lugar que tenho vontade de conhecer, de tanto que meu pai falava disso e da cena que viu...”
“O que você está esperando que não vai até lá com sua mulher? Pegam um navio no Rio e pronto, olha o sonho realizado.” “Ah, meu amigo, mas para fazer isso só se eu ganhasse na mega, que por sinal, está acumulada”, emendou o Boschi.
Foi então que, por uma dessas coincidências, estavam passando em frente a uma outra casa lotérica, cuja fila, como a primeira, já não era tão grande. Nos minutos seguintes, aqueles dois homens, como velhos amigos, aproveitaram para fazer um joguinho.
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