Droga interrompe os efeitos da radiação
Em teste com ratos, cientistas conseguem cessar estragos causados no aparelho digestivo pela exposição a substâncias tóxicas
Em teste com ratos, cientistas conseguem cessar estragos causados no aparelho digestivo pela exposição a substâncias tóxicas
Bruna Sensêve
Estado de Minas: 16/05/2014
Durante as inspeções à usina de Fukushima, a proteção era obrigatória: o contato com agentes radioativos pode levar à morte
Brasília – Após 40 anos de operação, a usina de Fukushima Daiichi, no Japão, sofreu o maior acidente nuclear desde Chernobil. Em abril de 1986, a nuvem tóxica lançada ao ar por um reator no norte da Ucrânia matou diretamente 64 pessoas. Já no desastre de março de 2011, no Japão, a quantidade de radiação liberada foi 10 vezes menor e não houve óbitos diretos. Porém, em ambos, é quase impossível calcular o número de pessoas incapacitadas pela exposição descontrolada ou mesmo quantas perderam a vida em decorrência de doenças e males desenvolvidos anos depois. Por esse motivo, a exposição a substâncias radioativas continua a ser um problema de saúde pública e uma ameaça militar.
Entre os prejuízos ao corpo, está a síndrome de radiação aguda, também conhecida como doença da radiação, na qual doses elevadas de elementos tóxicos podem causar danos a órgãos vitais, incluindo a medula óssea e a estrutura gastrointestinal. A toxicidade da medula óssea por radiação pode ser atenuada com um transplante, mas não há tratamento aprovado para a toxicidade gastrointestinal. Uma possível solução vem do trabalho de Amato Giaccia e Cullen Taniguchi com colaboradores. Os pesquisadores do Departamento de Radiologia Oncológica da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, descobriram que uma classe de drogas desenvolvida recentemente para tratar outros males pode também ajudar a salvar vidas em graves situações radioativas, como as de Fukushima e Chernobil.
Trata-se da pequena molécula chamada dimethyloxallyl glicina (DMOG), cujos efeitos radioprotetores foram descritos na edição de ontem da revista científica Science Translational Medicine. Ela funciona como um inibidor de hidroxilases de prolil (PHD), regulando uma série de genes que promovem a integridade do tecido no trato gastrointestinal. O tratamento com a DMOG reforçou o tecido epitelial e evitou a perda de fluido e infecções em cobaias expostas à radiação.
Os camundongos que receberam a medicação 24 horas depois do contato letal sobreviveram. Os não tratados morreram em 10 dias. De acordo com os cientistas, a droga foi capaz de proteger os ratinhos contra danos gastrointestinais, o que a torna uma candidata promissora para o tratamento das exposições às radiações não planejadas. Os estudiosos também acreditam que a terapia poderá ser usada para prevenir pacientes com câncer da toxicidade gastrointestinal quando eles são submetidos à quimioterapia.
Cicatrização Atualmente, não há terapias aprovadas pela agência de vigilância sanitária dos Estados Unidos (Food and Drug Administration – FDA) destinadas a tratar a síndrome gastrointestinal induzida por radiação. “Demonstramos, por meio de métodos genéticos e farmacológicos, que as proteínas PHD são reguladoras críticas da sensibilidade à radiação do trato intestinal”, resume Giaccia. Ele conta que os inibidores de PHD, como a DMOG, já eram conhecidos por promover a cicatrização do intestino após estresse químico. “Mas o nosso estudo mostra que essa molécula é capaz de proteção robusta e reprodutível contra doses supraletais de radiação ionizante para o abdômen ou mesmo o corpo inteiro”, garante.
O pesquisador reforça que os experimentos foram feitos somente em camundongos, portanto, a eficácia e a segurança da DMOG terá de ser confirmada em seres humanos antes de o medicamento ser usado na prática clínica. No entanto, mesmo sque seja considerado impróprio para uso humano, “a compreensão do seu mecanismo e o conhecimento de que a segmentação hidroxilases prolil pode atenuar a toxicidade radiativa serão de valor inestimável para o desenvolvimento de futuros tratamentos para proteger pacientes humanos da radiação”. Uma vez que os inibidores da PHD já estão sendo desenvolvidos para o tratamento de outras condições, como a anemia, ganha mais força a possibilidade dessa classe de droga ser usada como uma medida preventiva após a exposição à radiação de grande escala.
Saiba mais
Nível máximo de alerta
O acidente nuclear de Fukushima, em 2011, foi resultado de uma série de falhas de equipamentos da Central Nuclear de Fukushima I, no Japão. Receios de vazamentos de radiação levaram a uma evacuação de 200 quilômetros de raio ao redor da planta nuclear. Em 11 de abril, as autoridades japonesas designaram a magnitude do perigo em reatores 1, 2 e 3 no último nível da Escala Internacional de Acidentes Nucleares. Medições realizadas pelo Ministério da Ciência e Educação japonês até 50 quilômetros do local do acidente apresentaram níveis de césio radioativo suficientes para causar preocupação. Alimentos produzidos na área foram proibidos de serem vendidos. Contaminação por plutônio foi detectada no solo em dois locais da central nuclear.
Estrago generalizado
Consiste em um conjunto de sintomas e sinais clínicos decorrentes da exposição do organismo à elevada quantidade de radiação. Tem sido detectado em trabalhadores do programa nuclear da União Soviética e também em indivíduos de áreas onde ocorreram acidentes nucleares. Clinicamente, essa síndrome divide-se em três apresentações: hematopoiéticas, gastrointestinais e neurológica/vascular. Os sintomas podem ou não ser precedidos por náuseas, vômitos, anorexia, diarreia, mal-estar generalizado e febre. A velocidade de início deles está relacionada ao tempo de contato com as substâncias tóxicas.
Brasília – Após 40 anos de operação, a usina de Fukushima Daiichi, no Japão, sofreu o maior acidente nuclear desde Chernobil. Em abril de 1986, a nuvem tóxica lançada ao ar por um reator no norte da Ucrânia matou diretamente 64 pessoas. Já no desastre de março de 2011, no Japão, a quantidade de radiação liberada foi 10 vezes menor e não houve óbitos diretos. Porém, em ambos, é quase impossível calcular o número de pessoas incapacitadas pela exposição descontrolada ou mesmo quantas perderam a vida em decorrência de doenças e males desenvolvidos anos depois. Por esse motivo, a exposição a substâncias radioativas continua a ser um problema de saúde pública e uma ameaça militar.
Entre os prejuízos ao corpo, está a síndrome de radiação aguda, também conhecida como doença da radiação, na qual doses elevadas de elementos tóxicos podem causar danos a órgãos vitais, incluindo a medula óssea e a estrutura gastrointestinal. A toxicidade da medula óssea por radiação pode ser atenuada com um transplante, mas não há tratamento aprovado para a toxicidade gastrointestinal. Uma possível solução vem do trabalho de Amato Giaccia e Cullen Taniguchi com colaboradores. Os pesquisadores do Departamento de Radiologia Oncológica da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, descobriram que uma classe de drogas desenvolvida recentemente para tratar outros males pode também ajudar a salvar vidas em graves situações radioativas, como as de Fukushima e Chernobil.
Trata-se da pequena molécula chamada dimethyloxallyl glicina (DMOG), cujos efeitos radioprotetores foram descritos na edição de ontem da revista científica Science Translational Medicine. Ela funciona como um inibidor de hidroxilases de prolil (PHD), regulando uma série de genes que promovem a integridade do tecido no trato gastrointestinal. O tratamento com a DMOG reforçou o tecido epitelial e evitou a perda de fluido e infecções em cobaias expostas à radiação.
Os camundongos que receberam a medicação 24 horas depois do contato letal sobreviveram. Os não tratados morreram em 10 dias. De acordo com os cientistas, a droga foi capaz de proteger os ratinhos contra danos gastrointestinais, o que a torna uma candidata promissora para o tratamento das exposições às radiações não planejadas. Os estudiosos também acreditam que a terapia poderá ser usada para prevenir pacientes com câncer da toxicidade gastrointestinal quando eles são submetidos à quimioterapia.
Cicatrização Atualmente, não há terapias aprovadas pela agência de vigilância sanitária dos Estados Unidos (Food and Drug Administration – FDA) destinadas a tratar a síndrome gastrointestinal induzida por radiação. “Demonstramos, por meio de métodos genéticos e farmacológicos, que as proteínas PHD são reguladoras críticas da sensibilidade à radiação do trato intestinal”, resume Giaccia. Ele conta que os inibidores de PHD, como a DMOG, já eram conhecidos por promover a cicatrização do intestino após estresse químico. “Mas o nosso estudo mostra que essa molécula é capaz de proteção robusta e reprodutível contra doses supraletais de radiação ionizante para o abdômen ou mesmo o corpo inteiro”, garante.
O pesquisador reforça que os experimentos foram feitos somente em camundongos, portanto, a eficácia e a segurança da DMOG terá de ser confirmada em seres humanos antes de o medicamento ser usado na prática clínica. No entanto, mesmo sque seja considerado impróprio para uso humano, “a compreensão do seu mecanismo e o conhecimento de que a segmentação hidroxilases prolil pode atenuar a toxicidade radiativa serão de valor inestimável para o desenvolvimento de futuros tratamentos para proteger pacientes humanos da radiação”. Uma vez que os inibidores da PHD já estão sendo desenvolvidos para o tratamento de outras condições, como a anemia, ganha mais força a possibilidade dessa classe de droga ser usada como uma medida preventiva após a exposição à radiação de grande escala.
Saiba mais
Nível máximo de alerta
O acidente nuclear de Fukushima, em 2011, foi resultado de uma série de falhas de equipamentos da Central Nuclear de Fukushima I, no Japão. Receios de vazamentos de radiação levaram a uma evacuação de 200 quilômetros de raio ao redor da planta nuclear. Em 11 de abril, as autoridades japonesas designaram a magnitude do perigo em reatores 1, 2 e 3 no último nível da Escala Internacional de Acidentes Nucleares. Medições realizadas pelo Ministério da Ciência e Educação japonês até 50 quilômetros do local do acidente apresentaram níveis de césio radioativo suficientes para causar preocupação. Alimentos produzidos na área foram proibidos de serem vendidos. Contaminação por plutônio foi detectada no solo em dois locais da central nuclear.
Estrago generalizado
Consiste em um conjunto de sintomas e sinais clínicos decorrentes da exposição do organismo à elevada quantidade de radiação. Tem sido detectado em trabalhadores do programa nuclear da União Soviética e também em indivíduos de áreas onde ocorreram acidentes nucleares. Clinicamente, essa síndrome divide-se em três apresentações: hematopoiéticas, gastrointestinais e neurológica/vascular. Os sintomas podem ou não ser precedidos por náuseas, vômitos, anorexia, diarreia, mal-estar generalizado e febre. A velocidade de início deles está relacionada ao tempo de contato com as substâncias tóxicas.
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