sexta-feira, 25 de julho de 2014

AVC: conhecer e combater o inimigo‏

AVC: conhecer e combater o inimigo 
 
Gustavo Daher Vieira de Moraes Barros
Neurologista, coordenador do serviço de neurologista do Mater Dei Contorno
Estado de Minas: 25/07/2014


Toda pessoa é igual, na maneira como o corpo funciona e se mantém vivo, mas, ao mesmo tempo, cada uma é única, com suas histórias, experiências, sonhos e medos. Na engenharia da natureza, fomos projetados de forma que mente e corpo fossem regidos por um mesmo órgão: o cérebro. Ele carrega a nossa memória, conhecimento e sentimentos, permite nosso relacionamento com o mundo por meio do movimento, da linguagem, da visão, das sensações, além de garantir que o corpo funcione bem, mantendo-o em equilíbrio para que possamos continuar vivendo.

Com todas essas funções, o cérebro é o maior consumidor de oxigênio do corpo, que chega a ele através de uma complexa rede de vasos sanguíneos. Se um desses vasos for obstruído ou rompido, uma área do cérebro morre por falta de oxigênio. A obstrução causa um “AVC isquêmico” e o rompimento, um “AVC hemorrágico”.

Como cada parte desse órgão tem uma função, o acidente vascular cerebral (AVC) pode gerar desde perdas de movimentos até a incapacidade de comunicação. Ele pode afetar os sentidos, a memória e até a personalidade da pessoa. Muitas vítimas do AVC tornam-se dependentes de outros para atividades básicas da vida, como andar e comer. Essa doença ataca o indivíduo em sua essência, pois mente e corpo são afetados, comprometendo a interação com o mundo, roubando a qualidade de vida.

O AVC é a principal causa de morte no Brasil e a maior causa de incapacidade funcional adquirida no mundo. A imensa maioria dos sobreviventes necessita de reabilitação para as sequelas neurológicas consequentes, sendo que aproximadamente 70% não retornam ao seu trabalho e 30% necessitam de auxílio para caminhar.

O combate a esse inimigo exige alguns passos. O primeiro é o conhecimento. Falta interesse nas pessoas em conhecer mais sobre a própria saúde. Todos temem o “derrame”, mas muitos não sabem o que ele significa, quais os seus sintomas e como preveni-lo e tratá-lo.

Depois vem a prevenção. Combatendo o tabagismo, alcoolismo, obesidade e sedentarismo, tratando a hipertensão arterial, as arritmias cardíacas, o diabetes e o colesterol, e fugindo do estresse excessivo, até 90% dos AVCs podem ser evitados.

O terceiro passo é a identificação imediata dos sintomas de um AVC agudo, permitindo um atendimento neurológico rápido e efetivo. Uma boa assistência neurológica, com a presença de um neuroemergencista capacitado 24 horas em uma estrutura adequada, pode reduzir ou até reverter as sequelas do AVC, que, do contrário, seriam definitivas. O problema é que o tempo para esse tratamento é muito curto. Durante um AVC isquêmico, a cada minuto, quase 2 milhões de neurônios são perdidos. Após cerca de 4 horas e meia, provavelmente, a perda já terá sido completa.

Por isso, é fundamental que as pessoas suspeitem rapidamente dessa doença, para que possam chegar a tempo em um hospital capacitado. O AVC sempre causa um sintoma súbito, repentino, sendo os mais comuns: fraqueza ou formigamento na face, braço ou perna, especialmente quando em um lado só do corpo; dificuldade de falar ou compreender; alteração da visão; alteração do equilíbrio com dificuldade de andar; dor de cabeça intensa, sem precedentes. Caso a pessoa tenha qualquer um destes sintomas, pode ser o início de um AVC e é fundamental uma avaliação médica urgente.

O AVC é uma doença extremamente grave, mas que pode ser prevenida na maioria das vezes e que, se bem tratada, reduz dramaticamente o risco de sequelas e de morte. A luta contra o AVC deve ser constante e de toda a sociedade. É uma batalha na qual, para vencermos, precisamos nos conhecer melhor. Cuidando do corpo e da mente, poderemos sair vitoriosos, tendo o direito de usufruir desta vida com o máximo de qualidade e dignidade.

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