Tempo de inocência
Carlos Herculano Lopes
carloslopes.mg@diariosassociados.com.br
Estado de Minas: 25/07/2014
Carlos Herculano Lopes
carloslopes.mg@diariosassociados.com.br
Estado de Minas: 25/07/2014
Da janela do seu
apartamento, que fica no segundo andar de um prédio bem alto, o homem vê
um menino e uma menina conversando no pilotis, ao lado da piscina. A
tarde começa a cair, e sopra um vento morno, que desce das bandas da
Avenida Raja Gabaglia. Ambos são morenos, devem ter uns 8 anos, e estão
próximos um do outro. Como tem todo o tempo do mundo naquele dia, o
homem os observa. Talvez, inconscientemente, esteja se lembrando da sua
infância, que já vai longe, quando também ele, não muitas vezes, viveu
situações semelhantes, que sempre insistem em voltar à sua memória.
De repente, o garoto, tomando a iniciativa, pega nas mãos da menina, que as estende para ele, com o rostinho mais sério deste mundo. Ficam uns instantes em silêncio, olhos nos olhos, até que este se vira para ela e diz, da maneira mais solene possível: “Você será minha princesa sempre. Com todo o meu coração vou te amar, te proteger, te dar todo o carinho do mundo, além de um reino lindo e encantado...”.
Palavra nenhuma, como o homem percebe, vem de imediato da boca da menina. Aquele mutismo dura pouco, só o suficiente, quem sabe, para criar um clima, ou talvez porque faça parte da brincadeira, se é que se possa pensar assim. Até que ela, também com cerimônia, pega nas mãos dele e diz: “Você sempre será meu príncipe. Com meu coração vou te amar, te proteger, viver com você no castelo encantado, lhe dar muitos filhos e filhas, que serão o nosso maior tesouro....”. Ah!, que coisa mais bonita, o homem pensa. Terão aprendido isso na escola? Com amigos da mesma idade, ou a história saiu de suas cabeças?
Vai saber. Daí a pouco, aqueles dois se levantam, saem correndo de mãos dadas e, talvez num ritual previamente combinado, ou que faça parte do jogo, dão algumas voltas ao redor da piscina, para nos instantes seguintes, ofegantes e às gargalhadas, pararem no mesmo lugar de antes. O vento, que desce da Raja, continua a soprar em lufadas mais fortes, que esvoaçam os cabelos da garota.
Aproveitando a situação, o menino, num gesto tímido, mas sem a desenvoltura do príncipe todo-poderoso de pouco antes – solene e seguro na sua declaração de amor – se permite acariciá-la, levando as mãos ao seu rosto. A menina, visivelmente perturbada, novamente se levanta e sai correndo. Sua felicidade é total.
O garoto a segue com a mesma alegria, e os dois, entre carreiras e risos, ficam ali mais uns minutos, até que uma mulher, quem sabe mãe da menina, chega em uma janela e a chama. Os dois então se despedem, sob o testemunho oculto do homem. Talvez ainda nem saibam que numa tarde de vento morno, no pilotis de um prédio em Belo Horizonte, viveram lindos momentos de amor, dos quais, por mais que o tempo passe, jamais irão se esquecer.
De repente, o garoto, tomando a iniciativa, pega nas mãos da menina, que as estende para ele, com o rostinho mais sério deste mundo. Ficam uns instantes em silêncio, olhos nos olhos, até que este se vira para ela e diz, da maneira mais solene possível: “Você será minha princesa sempre. Com todo o meu coração vou te amar, te proteger, te dar todo o carinho do mundo, além de um reino lindo e encantado...”.
Palavra nenhuma, como o homem percebe, vem de imediato da boca da menina. Aquele mutismo dura pouco, só o suficiente, quem sabe, para criar um clima, ou talvez porque faça parte da brincadeira, se é que se possa pensar assim. Até que ela, também com cerimônia, pega nas mãos dele e diz: “Você sempre será meu príncipe. Com meu coração vou te amar, te proteger, viver com você no castelo encantado, lhe dar muitos filhos e filhas, que serão o nosso maior tesouro....”. Ah!, que coisa mais bonita, o homem pensa. Terão aprendido isso na escola? Com amigos da mesma idade, ou a história saiu de suas cabeças?
Vai saber. Daí a pouco, aqueles dois se levantam, saem correndo de mãos dadas e, talvez num ritual previamente combinado, ou que faça parte do jogo, dão algumas voltas ao redor da piscina, para nos instantes seguintes, ofegantes e às gargalhadas, pararem no mesmo lugar de antes. O vento, que desce da Raja, continua a soprar em lufadas mais fortes, que esvoaçam os cabelos da garota.
Aproveitando a situação, o menino, num gesto tímido, mas sem a desenvoltura do príncipe todo-poderoso de pouco antes – solene e seguro na sua declaração de amor – se permite acariciá-la, levando as mãos ao seu rosto. A menina, visivelmente perturbada, novamente se levanta e sai correndo. Sua felicidade é total.
O garoto a segue com a mesma alegria, e os dois, entre carreiras e risos, ficam ali mais uns minutos, até que uma mulher, quem sabe mãe da menina, chega em uma janela e a chama. Os dois então se despedem, sob o testemunho oculto do homem. Talvez ainda nem saibam que numa tarde de vento morno, no pilotis de um prédio em Belo Horizonte, viveram lindos momentos de amor, dos quais, por mais que o tempo passe, jamais irão se esquecer.
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