Células-tronco dão qualidade de vida aos animais
Empresa nacional, Celltrovet investe na medicina regenerativa para animais de pequeno e grande portes
Junia Oliveira
Estado de Minas: 07/07/2014
O veterinário Luiz Fernando Lucas Ferreira vem usando as células-tronco há um ano e já vê vários resultados positivos |
Lula é um cão da raça beagle que, durante muito tempo, lutou contra uma insuficiência renal. Idoso, com baixo peso e um sofrimento diário, ele estava condenado a morrer. Mas um tratamento com célula-tronco salvou sua vida e, seis meses depois, ele está feliz, ativo e até mais jovem. A terapia inédita e desenvolvida no Brasil é voltada para animais acometidos por doença renal crônica, aplasia medular, lesões tendíneas e ligamentares, sequelas neurológicas de cinomose, fraturas e não união óssea, lesão de coluna, osteoartrites e osteoartrose.
A tecnologia usa um concentrado 100% de células-tronco e foi desenvolvida pela Celltrovet, empresa que atua nas áreas de terapia com células-tronco, medicina regenerativa e engenharia tecidual para pequenos e grandes animais. No laboratório, elas são isoladas do tecido adiposo retirado de animais clínica e laboratorialmente saudáveis, de até seis meses de idade. Diversos testes estabelecidos pela comunidade científica, como de diferenciação e proliferação celular, são feitos para comprovar a qualidade do material, que é armazenado.
O presidente da empresa, Enrico Jardim Clemente Santos, explica que, como o sistema imunológico do receptor não reconhece as células-tronco, é possível aplicar o concentrado com o material de um determinado animal em outro. “Isso evita que um cão muito debilitado seja submetido a uma anestesia para a retirada do tecido adiposo, eliminando, assim, o risco de ele vir a óbito por causa dessa injeção”, diz. O procedimento de isolamento das células é propriedade industrial da empresa e é único. A Celltrovet é ainda a primeira da América Latina a trabalhar com células-tronco em animais de pequeno porte, de acordo com Santos.
O tecido adiposo é recolhido no momento da castração ou de alguma outra cirurgia, com uma incisão de menos de cinco centímetros. Simultaneamente, é coletado o sangue do animal para fazer diversos testes moleculares, a fim de constatar que o animal não está doente. Se detectado qualquer patógeno, o material é imediatamente descartado. O tecido é processado somente depois da comprovação de qualidade. “É pedida autorização ao dono, que normalmente concorda e ainda fica feliz pelo fato de o animalzinho dele poder ajudar outros.”
Enrico Santos alerta que o concentrado só é disponibilizado ao veterinário mediante protocolos clínicos que garantem a necessidade do tratamento. As amostras são armazenadas em vários tubos de 1,5 centímetro – cada um deles tem 2 milhões de células. Nas garrafinhas de cultivo elas crescem numa quantidade infinita de células. “Até hoje, temos células de 2005 que são usadas e anualmente testadas”, diz. Enrico, que trabalha com células-tronco desde 1995, resolveu testar seus conhecimentos no assunto ligados à veterinária depois de ver, em 2005, quando terminava o doutorado na Universidade de São Paulo (USP), um site de uma empresa norte-americana que usava a metodologia para tratar cavalos. A empresa ficou incubada na USP durante quatro anos e depois saiu para comercialização.
EXEMPLOS DE SUPERAÇÃO Já foram tratados mais de 300 animais com uma taxa de sucesso superior a 80%. Assim como Lula, Mel, uma buldogue de sete meses de vida e portadora de cinomose, uma doença degenerativa que acomete principalmente o sistema nervoso dos animais, também se recuperou depois do tratamento. Os veterinários já haviam indicado a eutanásia e o dono então recorreu ao tratamento de células-tronco como última opção. Hoje, a cachorrinha corre e brinca em casa.
Outro exemplo é a Hanna, uma gatinha de 5 anos que sofria de doença renal crônica e aplasia medular (quando a medula para de produzir todos os tipos celulares, células brancas, vermelhas e plaquetas). Ela também tinha os dias contados. Atualmente, Hanna é uma gata saudável, que brinca diariamente com o seu irmão. Fabio, um gato de 14 anos, acometido por doença renal crônica e insuficiência pulmonar, é hoje um animal saudável que nunca mais precisou fazer fluidoterapia para normalizar seus índices de ureia e creatinina, tampouco usar bombinha para melhorar seu quadro respiratório.
Mas a tecnologia começa a se disseminar agora, de acordo com o presidente da Celltrovet. “Nossos resultados na medicina veterinária mostram que funciona. Por enquanto trabalhamos com veterinários empreendedores, que acreditam na proposta. É um trabalho de formiguinha apresentar essa alternativa.” Ele ressalta que o tratamento é um conjunto de soluções. “As células-tronco não são milagrosas. Não se deve deixar de lado a fisioterapia ou a acupuntura, quando indicadas. A aplicação do concentrado otimiza e torna mais eficiente os outros tratamentos, ajudando veterinários e donos de animais com um serviço de maior qualidade e possibilidade de cura.”
Receio e, depois, sobrevida para vários pacientes
Publicação: 07/07/2014 04:00
O médico-veterinário Luiz Fernando Lucas Ferreira afirma que o tratamento com células-tronco é indicado principalmente para animais idosos e diagnosticados com problemas ósseos ou articulares – próprios da velhice e que impedem o bicho de andar. A aplicação representa uma melhora na qualidade de vida, permitindo uma regeneração da articulação e a redução drástica do uso de remédios para dor e anti-inflamatórios.
Da Clínica Professor Israel, no Bairro São Pedro, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, Ferreira é um dos parceiros da Celltrovet e conta que começou receoso, mas logo comprovou a eficácia do tratamento em seus pacientes. Há quase um ano usando o método, já são cerca de 20 animais tratados. “Na medicina veterinária, um cão com insuficiência renal vai morrer, porque não temos hemodiálise nem transplantes como em humanos. Com 14 ou 12 anos de idade, em no máximo seis meses esse bichinho vem a óbito. Com o transplante de células- tronco consegue-se a regeneração do órgão”, diz. “Os resultados em meus pacientes foram muito bons. Alguns fizeram o tratamento e não precisaram mais de remédios”, conta.
O médico alerta que o sucesso do tratamento, depende do organismo do animal. “Fazemos uma triagem, para não oferecer tratamento que tem custo alto para casos que não vão dar certo. O dono deve entender ainda que é uma sobrevida.” “É um tratamento inédito e que serve de base para a medicina humana olhar essa terapêutica, que realmente tem utilidade para quem necessita.”
O PROCESSO
O tecido adiposo do animal é recolhido durante a castração. A incisão é de menos de 5cm
O sangue do animal é coletado para testes moleculares que comprovarão se está ou não saudável
Se detectado algum patógeno, o material é descartado
Se for comprovado que é saudável, as células tronco são isoladas do tecido adiposo, formando um concentrado
As amostras são armazenadas em tubos de 1,5 centímetro. Cada concentrado tem 2 milhões de células tronco
Nas garrafas de cultivo, elas continuam crescendo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário