Carinho com torcedores, rivais e maturidade para lidar com a glória, marcas de David Luiz
Paulo Galvão
Enviado especial
Estado de Minas: 07/07/2014
O consolo ao artilheiro colombiano James Rodríguez, eliminado, foi avaliado por torcedores como um gesto de grandeza e exemplo para o futebol |
Teresópolis
– Enquanto a maior parte dos atletas deixava o campo de treinamento e
seguia para o vestiário, ele ficou ao lado do campo 1 da Granja Comary.
Pacientemente, atendeu aos convidados que aguardavam para uma foto, um
autógrafo, uma conversa.
A atitude é uma constante desde que o grupo chegou à concentração, em 26
de maio. Campeão em simpatia, David Luiz não dispensa atenção somente
aos que chegam ali pelas mãos dos patrocinadores da CBF e que podem
ficar na pequena arquibancada do CT. Muitas vezes, o zagueiro atravessou
os dois campos e foi também até o alambrado que limita a propriedade da
entidade máxima do futebol nacional, onde se postam os moradores do
condomínio vizinho e uma trupe de visitantes.
Com a ausência de Thiago Silva, suspenso, caberá a ele usar a braçadeira de
capitão da Seleção Brasileira no jogo pelas semifinais da Copa do
Mundo, contra a Alemanha, amanhã, em Belo Horizonte. Isso, porém, não é
nenhum problema para o jogador que é uma das lideranças do Escrete
Canarinho e um dos mais queridos por todos – companheiros, membros da
comissão técnica, funcionários da Granja Comary, torcedores e até
adversários.
Sempre bem-humorado, o zagueiro cativa quem está a sua volta. Isso ocorre até
mesmo com quem não tem a oportunidade do contato pessoal com ele, mas
encontra identidade seja pelas caretas sarcásticas nas fotos publicadas
nas redes sociais ou pelas palavras sempre sensatas durante as
entrevistas que dá.
Mas nada disso seria o bastante se ele não tivesse bom desempenho em campo.
O jogador vem mantendo uma regularidade invejável nesta Copa do Mundo,
chegando a figurar como o melhor da competição em avaliação da Fifa,
desbancando craques como o companheiro Neymar e o colombiano James
Rodríguez, ainda que no último ranking tenha perdido terreno mesmo com
atuações destacadas e gols nas oitavas de final e nas quartas.
Não é só a boa fase que o faz se sentir à vontade para “herdar”
momentaneamente o posto de capitão. “Estou preparado para função. Até
porque este grupo é muito fácil de liderar, são pessoas simples,
humildes, com muita vontade de ajudar”, diz o camisa 4.
Os companheiros concordam e elogiam o comportamento do companheiro. “David
Luiz é um cara muito equilibrado, bastante profissional, um cara
totalmente concentrado. Ele vem trabalhando superbem para cada partida”,
diz o atacante Bernard, que sempre está ao lado do defensor nos
treinamentos e também na concentração, como mostram as imagens na
imprensa e nas redes sociais.
Se está bem nas quatro linhas, tudo fica mais fácil fora dela. Porém,
David Luiz não prefere a humildade ao deslumbramento. Mesmo curtindo a
glória, como o gol marcado na última partida, se mostra ainda mais
atencioso com todos.
CUIDADO
Ele mostra o lado boa praça até com os adversários. Depois do jogo com a
Colômbia, fez questão de consolar James Rodríguez, que chorava por
causa da eliminação do Mundial com a derrota por 2 a 1.
A torcida brasileira certamente será total para que o gesto se repita amanhã. Só que em vez de um colombiano, que o consolado seja um alemão, como o atacante Schurrle, que era seu companheiro no Chelsea-ING – o brasileiro acaba de se transferir para o Paris Saint-Germain, da França.
Desde 1938, foram seis variações
Mayko Silva
Especial para o EM
Publicação: 07/07/2014 04:00
Em 2006, na Alemanha, o lateral-direito Cafu usou a tarja, que foi assumida momentaneamente pelo goleiro Dida |
Quando David Luiz puxar a fila para entrar em campo no Mineirão amanhã, contra a Alemanha, ele estará repetindo o que somente seis jogadores brasileiros fizeram na história das Copas, desde 1930, no Uruguai. Assim como vai ocorrer nesta edição com o zagueiro, dois colocaram a tarja no braço em apenas uma partida: Orlando Peçanha, em 1966, e Rivellino, em 1978. Em 2006, Dida começou um jogo como capitão e assumiu em outro, depois de Cafu ser substituído.
No terceiro Mundial, em 1938, na França, Silveira foi o capitão nos 6 a 5 sobre a Polônia (oitavas de final) e no empate com a Tchecoslováquia por 1 a 1 (quartas de final). No jogo-desempate (2 a 1 sobre os tchecos), o armador não entrou e Leônidas da Silva assumiu. Silveira retomou a condição na semifinal (2 a 1 sobre a Itália), mas a braçadeira voltou a Diamante Negro nos 4 a 2 sobre a Suécia, que rendeu o terceiro lugar. Em 1966, na Inglaterra, Bellini foi o líder contra a Bulgária (vitória por 2 a 0) e Hungria (derrota por 3 a 1). No terceiro confronto (derrota para Portugal por 3 a 1), a missão coube a Orlando Peçanha.
Em 1974, na Alemanha, o técnico Zagallo promoveu um rodízio. Na primeira fase – empates por 0 a 0 com Iugoslávia e Escócia e vitória por 3 a 0 sobre o Zaire –, Piazza foi o escolhido. O zagueiro Marinho Peres foi o da segunda – vitória por 1 a 0 sobre a Alemanha Oriental, 2 a 1 sobre a Argentina e derrota por 2 a 0 para a Holanda. Capitaneado novamente por Piazza, o Brasil derrotou a Polônia por 1 a 0 e ficou com o terceiro lugar. Em 1978, na Argentina, Rivellino foi o capitão da estreia (empate por 1 a 1 com a Suécia). Leão assumiu no 0 a 0 com a Espanha e ficou até a vitória por 2 a 1 sobre a Itália, a da terceira colocação.
Sacado
Na campanha do tetra, em 1994, nos Estados Unidos, Raí foi o capitão durante toda a primeira fase, mas acabou sacado pelo técnico Carlos Alberto Parreira. Dunga herdou a braçadeira nas oitavas de final (vitória por 1 a 0 sobre os EUA) e foi o responsável por levantar o troféu depois de empatar com a Itália por 0 a 0 e levar a melhor nos pênaltis na final.
Cafu havia sido o dono da tarja no penta, em 2002, e a manteve em 2006, na Alemanha. Entretanto, foi poupado por Parreira no terceiro jogo da fase de grupos (vitória por 4 a 1 sobre o Japão) e Dida foi o escolhido – no fim do segundo tempo, o goleiro foi substituído por Rogério Ceni e Ronaldo teve o gostinho por alguns minutos. Dida ainda usou a braçadeira por algum tempo, quando Cafu foi substituído na derrota por 1 a 0 para a França, nas quartas de final.
Dupla liderança
Copa Capitão
1938 Silveira e Leônidas da Silva
1966 Bellini e Orlando Peçanha
1974 Marinho Peres e Piazza
1978 Rivellino e Leão
1994 Raí e Dunga
2006 Cafu e Dida
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