segunda-feira, 7 de julho de 2014

No esporte, tamanho não é documento? Carlos Eduardo Guilherme (Pacome)

Estado de Minas: 07/07/2014  



Há controvérsia. Pois, em se tratando de certos esportes, o tamanho é, sim, muito importante. No basquete e no vôlei, por exemplo, a estatura é primordial para o sucesso do atleta. Nas “peneiras” dessas modalidades, os jovens de melhor biotipo (pernas e braços compridos, quadril alto e tornozelos finos) saem na frente dos demais, antes mesmo de tocarem na bola, enquanto os baixinhos são sumariamente dispensados. Não adianta contestar, meninos e meninas esguios têm preferência. Parece cruel, mas é fato. O preconceito com a altura nesses esportes é grande. Carregar a pecha de “tampinha”, ou outros adjetivos nada agradáveis, é um martírio. Por isso, muitas vezes, os pais de crianças normais, porém baixas, procuram auxílio médico em busca do milagre do crescimento.

Nenhum medicamento altera a genética do crescimento. Segundo o IBGE, a altura média do homem brasileiro é de 1,70m. Daí a dificuldade de se encontrar pretendente promissor para fazer carreira como atleta de alto rendimento no basquete e no vôlei. Futuramente, quem sabe, com o avanço da engenharia genética e do Projeto Genoma Humano, os pais poderão programar a altura de seus filhos.

Em circunstâncias normais, o sono de boa qualidade (o pico de produção do GH – hormônio do crescimento – ocorre durante o sono), as atividades esportivas e uma alimentação saudável ajudam no crescimento dos jovens. Mas, indiscutivelmente, o fator determinante é a herança genética. Já treinei atletas de origem humilde que tiveram deficiências nutricionais na infância e na adolescência e, mesmo assim, alcançaram estaturas acima dos 2m na fase adulta, enquanto outros, criados com ótimos padrões de conforto e nutrição, não chegaram a 1,70m. Ninguém cresce além do potencial genético definido por suas características familiares.

Para se destacar no basquete e no vôlei, esportes que privilegiam os indivíduos longilíneos, o atleta deverá estar próximo ou, de preferência, acima dos 2m na fase adulta. Existem esportes em que a exigência é contrária, como, por exemplo, na ginástica artística: o ginasta deverá ser brevilíneo e medir em torno de 1,60m (homens) e 1,50m (mulheres). A ex-atleta Daiane dos Santos mede 1,44m. Convenhamos, com essa altura, ela não teria o mesmo sucesso se jogasse basquete ou vôlei. Como ginasta, ela foi destaque internacional. Imagine Lionel Messi, de 1,69m e 67kg, disputando um rebote com o astro do basquete norte-americano Roy Hibbert, de 2,18m e 130kg. O efeito causado pelo choque entre os dois corpos, seria comparado à colisão frontal de um fusquinha com um A380 da Airbus, maior avião comercial de passageiros do mundo. Não sobraria nada do craque argentino. No entanto, no futebol, ele nos encanta com seus dribles e gols geniais. Vale ressaltar que cada modalidade esportiva requer um biotipo específico. A compleição física exigida por um esporte nem sempre é adequada a outro.

A lei da seleção natural é inexorável. De maneira implacável, ela se encarrega de selecionar os atletas de melhor biotipo, de acordo com a especificidade de cada esporte. Segundo Charles Darwin, os organismos mais bem adaptados ao meio têm maiores chances de sobrevivência do que os menos adaptados. Nos países mais evoluídos, onde há efetivamente a simbiótica integração da ciência com o esporte, o tipo físico é o primeiro critério para a escolha do esporte no período de iniciação dos jovens. No Brasil, ainda é muito comum a introdução esportiva de base sem embasamento científico. A metodologia esportiva moderna sugere que não devemos contrariar o biotipo dos atletas, sob pena de fracasso no alcance dos objetivos, sem mencionar a frustração do técnico e, principalmente, dos atletas e seus familiares.

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