Carlos Herculano Lopes
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Estado de Minas: 15/08/2014
Enquanto a tarde corria, temperatura amena, das mais agradáveis em Belo Horizonte, o homem aproveitava também, num daqueles raros dias de folga, para ouvir música. De todas as artes, embora pelas manhas do destino tenha se voltado para a literatura, é a que mais gosta. Saber tocar sanfona ou violão foi um dos sonhos acalentados na infância, infelizmente não realizado. Naquela época, ainda vivendo em sua terra, ouvir Afonso Abdala, da vizinha Rio Vermelho, e Dimar Silveira arrasarem numa oito baixos, ou Athayde Gomes e Miguel, no “velho pinho”, era o que havia de melhor.
Mas os tempos passaram e, morando em Belo Horizonte, aonde chegou adolescente, o tom era dado por Milton Nascimento e Fernando Brant. Escutar Travessia, uma das mais belas canções da MPB, era como receber um empurrão para seguir adiante quando as coisas não iam bem. Uma vez, tomando cerveja no Cozinha de Minas, em uma mesa onde Fernando estava, teve a oportunidade de contar-lhe essa história.
“Já não sofro, hoje faço, com meu braço o meu viver.” Não pode haver coisa mais bonita. Mercedes Sosa, “La Negra”; Athaualpa Yupanqui, autor de Los hermanos; a chilena Violeta Parra, com aquela vozinha miúda, mas que se agigantava quando cantava Gracias a la vida; o Grupo Taracón, que se apresentava nos DCEs das universidades ou em casas de shows alternativas também faziam nossas cabeças. Suas canções eram hinos rebeldes embalando aqueles devaneios de jovens que sonhavam mudar o mundo.
Uma vez, quando começou a trabalhar no Estado de Minas, teve a oportunidade de participar de entrevista com Mercedes Sosa, no La Taberna, dirigida por Fátima e Carlos Carretero. Foi glória maior. Como também foi – e já contou essa história aqui – levar Luiz Gonzaga ao Mercado Central. Ali, o Rei do Baião, com bastante dificuldade para enxergar, conversou com as pessoas, deu autógrafos, comprou queijo, farinha de mandioca e goiabada. Comerciante nenhum cobrou um tostão do mestre.
Enquanto a tarde corria, naquele sábado de vento ameno, que soprava sobre BH, o homem, não sem uma ponta de nostalgia, da qual às vezes não dá para escapar, lembrava-se de tudo isso. Mas também, após ouvir alguns CDs dos “velhos tempos”, voltou-se para os dias de hoje e, bem ansioso, porque tinha comprado o disco numa loja do Centro, começou a escutar Monica Salmaso, que ainda não conhecia.
“Você está perdendo”, havia dito um colega de trabalho. E o amigo tinha razão. Corpo de baile, o mais novo disco da cantora paulista, é um primor. As 14 que ela interpreta são de autoria de dois gigantes: Paulo César Pinheiro e Guinga. Navegante e Porto de Araújo foram eleitas por ele as mais bonitas. Assim como estão ótimos os arranjos, que de longe são o grande diferencial da MPB.
Mas não ficou só nisso. Naquele fim de tarde, que logo seria noite, mais música o esperava. Depois de tomar banho e fazer um lanche, o homem seguiu para o Teatro Bradesco, onde ocorria o projeto Viva os mestres, idealizado por Carminha Guerra, que há anos batalha pela cultura em Minas.
Assistiu, para coroar a noite, a um concerto sobre a obra de Strauss, com palestra de abertura feita por Guilherme Nascimento. Svetlana Tovstukha no violoncelo; Luiz Gustavo Carvalho ao piano; Baptiste Rodrigues no violino; Eliseu Barros na viola; e a soprano Eliane Coelho, todos arrasaram. Não precisava melhor.
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