O problema é mais
grave nos países em desenvolvimento, segundo um levantamento feito na
Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard
Roberta Machado
Estado de Minas: 14/08/2014
De acordo com o relatório, cada pessoa consome, em média, 3,95g de sódio todos os dias |
Mais de 1,6 milhão de pessoas morrem todos os anos em decorrência de problemas cardiovasculares causados pelo consumo excessivo de sódio. A informação é resultado de um levantamento feito na Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, que analisou dados de saúde de 187 países. De acordo com o relatório, cada pessoa consome, em média, 3,95g de sódio todos os dias. A porção é quase o dobro do limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2g diários. No Brasil, esse índice é de 3,2g. O problema atinge com mais gravidade os países em desenvolvimento e a parcela pobre da população, que concentra quatro entre cada cinco vítimas de problemas cardiovasculares provocados pela substância.
Para calcular o efeito do sódio sobre a saúde global, os pesquisadores compararam informações de mais de 200 estudos sobre consumo com dados de causas de morte registradas entre 1980 e 2010 no mundo de acordo com idade, etnia e gênero. O levantamento mostrou que a cada 10 mortes associadas a causas cardiovasculares, uma ocorreu devido ao exagero de sal na alimentação.
Somente em 2010, estima-se que a ingestão exagerada provocou 687 mil óbitos por doenças coronárias, 685 mil devido a derrames e 276 mil por outros tipos de problemas cardiovasculares. O levantamento mostra que os homens representam 61,9% das fatalidades e que 40,4% das vítimas tinham menos de 70 anos. Os números podem, no entanto, ser ainda maiores. “Focamos a mortalidade cardiovascular, mas o sódio na dieta também é associado a doenças cardiovasculares não fatais, a doenças renais e ao câncer gástrico, o segundo maior em fatalidades no mundo”, ressalta o estudo publicado na revista The New England Journal of Medicine.
Maus hábitos Mais de 99% da
população mundial exagera no sal, de acordo com o trabalho. Os níveis
variam de 2,18g diários de sódio, registrados na África Subsaariana, a
5,51g, na Ásia Central. Dos 187 países estudados, 119 excedem o limite
sugerido pela OMS em mais de 1g por dia. O estudo também encontra
evidências de que o consumo mais moderado ajuda a combater a
hipertensão. As populações com pressão mais baixa são aquelas em que o
consumo diário fica entre 614mg e 2.391mg de sal.
Se todas as nações igualassem o consumo de sódio com a média mundial, os pesquisadores calculam que mais de meio milhão de mortes seriam evitadas todos os anos. “Nós vivemos banhados em sal”, lamenta Claudio Kater, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). “O sal é eliminado pelo rim. Mas, com a idade e com a própria hipertensão que o excesso provoca no organismo, o rim começa a perder a sua função, e acaba retendo mais sal. E isso causa um círculo vicioso.”
O sódio é encontrado naturalmente em diversos tipos de alimentos, mas está presente, principalmente, em comidas industrializadas e processadas. De acordo com dados da OMS, uma porção de carne enlatada tem 20 vezes a quantidade de sal contida no alimento em estado natural. Grãos in natura têm 35 vezes menos sódio do que flocos produzidos a partir deles, e amendoins ganham 400 vezes mais sal quando tostados e conservados para consumo.
“Estamos comendo mais alimentos processados do que naturais ao longo do dia. Até o leite passa por um processamento, o que leva à adição de sódio”, alerta Virginia Nascimento, vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran). Os efeitos nocivos também podem ser compensados com o consumo de potássio, elemento presente em leguminosas, frutas e vegetais, como feijão, ervilhas e bananas. No entanto, o valor nutricional dessas comidas só é completo quando elas são consumidas ainda frescas, sem sal ou molhos. “Tem quem não consiga comer uma salada sem sal, e daqui a pouco a salada vai ser uma vilã”, ressalta a especialista.
Consumo nacional No Brasil, o Ministério da Saúde anunciou na terça-feira uma redução de 1,2 mil toneladas de sódio em pães industrializados e macarrões instantâneos. A previsão é de que, até 2020, mais de 28 mil toneladas da substância estejam fora das prateleiras como resultado de quatro termos de compromisso firmados entre Ministério da Saúde e a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia). O limite estabelecido para massas instantâneas, já em 2012, foi de 1,9g a cada porção de 100g. Agora, em 2014, pães de forma devem ter até 522mg, e as bisnaguinhas, 430m, para a mesma quantidade.
Carlos Alberto Machado, diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), acredita que os limites impostos à indústria alimentícia deveriam ser mais severos. “Esse acordo é pífio. Em vez de pactuar pela média dos produtos, ele pactua pelo teto”, critica o médico, que participou ativamente das negociações entre a Abia, o Ministério da Saúde e o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Uma em cada 10 marcas de comidas industrializadas testadas pelo Idec não cumpriu as metas determinadas em 2011, e muitas continham mais sódio do que o informado na embalagem – a legislação sanitária permite uma variação de 20% com relação aos valores declarados.
“Isso é muito sério. Não dá para apenas melhorar o rótulo, porque a população não tem hábito de lê-lo. Tinha de vir um alerta de que o alimento é rico em sal e que aumenta o risco de hipertensão e de doença cardiovascular”, defende Machado. Uma resolução publicada pela Anvisa em 2010 restringia a publicidade de alimentos com quantidades elevadas de açúcar, gordura e sódio, e determinava que esses produtos deveriam exibir um alerta aos consumidores sobre os riscos que representam para a saúde. De acordo com a norma, todo alimento que contivesse mais de 400mg de sódio a cada porção de 100g deveria ter o aviso em sua embalagem. A resolução, no entanto, foi contestada e derrubada na Justiça pela Abia.
Se todas as nações igualassem o consumo de sódio com a média mundial, os pesquisadores calculam que mais de meio milhão de mortes seriam evitadas todos os anos. “Nós vivemos banhados em sal”, lamenta Claudio Kater, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). “O sal é eliminado pelo rim. Mas, com a idade e com a própria hipertensão que o excesso provoca no organismo, o rim começa a perder a sua função, e acaba retendo mais sal. E isso causa um círculo vicioso.”
O sódio é encontrado naturalmente em diversos tipos de alimentos, mas está presente, principalmente, em comidas industrializadas e processadas. De acordo com dados da OMS, uma porção de carne enlatada tem 20 vezes a quantidade de sal contida no alimento em estado natural. Grãos in natura têm 35 vezes menos sódio do que flocos produzidos a partir deles, e amendoins ganham 400 vezes mais sal quando tostados e conservados para consumo.
“Estamos comendo mais alimentos processados do que naturais ao longo do dia. Até o leite passa por um processamento, o que leva à adição de sódio”, alerta Virginia Nascimento, vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran). Os efeitos nocivos também podem ser compensados com o consumo de potássio, elemento presente em leguminosas, frutas e vegetais, como feijão, ervilhas e bananas. No entanto, o valor nutricional dessas comidas só é completo quando elas são consumidas ainda frescas, sem sal ou molhos. “Tem quem não consiga comer uma salada sem sal, e daqui a pouco a salada vai ser uma vilã”, ressalta a especialista.
Consumo nacional No Brasil, o Ministério da Saúde anunciou na terça-feira uma redução de 1,2 mil toneladas de sódio em pães industrializados e macarrões instantâneos. A previsão é de que, até 2020, mais de 28 mil toneladas da substância estejam fora das prateleiras como resultado de quatro termos de compromisso firmados entre Ministério da Saúde e a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia). O limite estabelecido para massas instantâneas, já em 2012, foi de 1,9g a cada porção de 100g. Agora, em 2014, pães de forma devem ter até 522mg, e as bisnaguinhas, 430m, para a mesma quantidade.
Carlos Alberto Machado, diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), acredita que os limites impostos à indústria alimentícia deveriam ser mais severos. “Esse acordo é pífio. Em vez de pactuar pela média dos produtos, ele pactua pelo teto”, critica o médico, que participou ativamente das negociações entre a Abia, o Ministério da Saúde e o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Uma em cada 10 marcas de comidas industrializadas testadas pelo Idec não cumpriu as metas determinadas em 2011, e muitas continham mais sódio do que o informado na embalagem – a legislação sanitária permite uma variação de 20% com relação aos valores declarados.
“Isso é muito sério. Não dá para apenas melhorar o rótulo, porque a população não tem hábito de lê-lo. Tinha de vir um alerta de que o alimento é rico em sal e que aumenta o risco de hipertensão e de doença cardiovascular”, defende Machado. Uma resolução publicada pela Anvisa em 2010 restringia a publicidade de alimentos com quantidades elevadas de açúcar, gordura e sódio, e determinava que esses produtos deveriam exibir um alerta aos consumidores sobre os riscos que representam para a saúde. De acordo com a norma, todo alimento que contivesse mais de 400mg de sódio a cada porção de 100g deveria ter o aviso em sua embalagem. A resolução, no entanto, foi contestada e derrubada na Justiça pela Abia.
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