Zero Hora - 13/08/2014
Sempre simpatizei com essa expressão, tanto que a uso direto em
conversas entre amigos, mas nunca a relacionei com meu trabalho. Pois
chegou o momento: onde fui amarrar meu bode na hora em que resolvi dar
pitaco sobre Torres?
Não leio o que rola nas redes sociais, mas já soube que fui
esculhambada num grau temeroso: não duvido que temperem minha casquinha
de siri com soda cáustica caso eu ouse retornar à cidade.
Bom, aos fatos. Quarta passada, publiquei uma bronca por a praia da
minha infância não ter realizado seu potencial, com a burrada de ter
falado em beleza, charme e bom gosto quando se sabe que são valores
relativos, e de ainda ter concluído o texto subestimando o estrago dos
prédios altos à beira-mar, como quem diz: perdido por um, perdido por
mil. Com 20 anos de colunismo nas costas, eu já deveria ter aprendido
algumas coisinhas sobre o poder desastroso das ironias.
A boa notícia é que estou desinformada, segundo os moradores. É
possível. Fui a Torres poucas vezes nos últimos anos, por no máximo 48
horas, sendo que a última foi em fevereiro deste ano, quando me hospedei
na Prainha, que é onde a Torres real ainda equaliza com a Torres da
minha fantasia.
Não circulei, não fiquei 10 dias, um mês, e por isso não sabia nada
sobre o que me contaram: que a atual gestão está empenhada em corrigir
os descasos das gestões anteriores, que Torres faz parte de uma Rota
Gastronômica, que há muitos hotéis e pousadas de primeira linha, que
turistas estrangeiros costumam visitar a cidade com frequência, que um
cinema 3D será inaugurado em novembro, que não há mais areia sobre o
calçadão e que eu sou uma toupeira, claro.
Assim como eu não sabia dessa evolução toda, talvez muitos
brasileiros também não saibam, já que Torres não costuma ser indicada
como destino turístico imperdível. A revista Claudia, publicação
feminina de maior circulação do país, veiculou uma matéria na edição de
julho cujo título foi “Seja bem-vindo, tchê!”, em que personalidades
nacionais nascidas aqui (escritores, atores, atletas, blogueiros,
apresentadores, chefs de cozinha) recomendavam os lugares que não se
deve deixar de visitar no Rio Grande do Sul.
Eles citaram as cidades da Serra, os aparados, os vinhedos, o pampa,
algumas cidades do Interior e a Capital. O esquecimento da mais bela
praia do litoral gaúcho pode ter sido por causa do inverno, mas
aconteceu: Torres foi mencionada uma única vez. Modestamente, por mim.
Que minha defesa arrole isso nos autos.
Continuo achando que Torres merecia uma infraestrutura turística de
muito mais qualidade, mas já que os moradores garantem que estão
chegando lá, retiro o desânimo, peço desculpas pelo mau jeito e em breve
voltarei à cidade para conferir in loco. Garçom, a minha caipirinha sem
cianureto, por favor.
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