domingo, 7 de setembro de 2014

EM DIA COM A PSICANÁLISE » A natureza selvagem‏

Regina Teixeira da Costa
Estado de Minas: 07/09/2014




O documentário China selvagem, da BBC, exibiu episódio muito interessante sobre o povo chinês, apontando sua origem e modificações fisionômicas herdadas dos africanos. Incrível, não? Quem diria que aqueles olhos puxados e as maçãs do rosto salientes seriam oriundos dos negros africanos! Pesquisas realizadas na China – não saberia dizer fontes precisas agora – e testes sanguíneos comprovaram a herança genética. Os resultados surpreenderam os pesquisadores chineses, que não apostavam nessa conclusão.

Tais estudos chineses mostram que os orientais, considerados o povo mais exótico do planeta, seriam todos descendentes desses ancestrais africanos. Foi analisado o êxodo do Homo Erectus africano, anterior ao Homo Sapiens, em direção à Ásia. Eles buscavam a sobrevivência e, atrás da caça, sua principal fonte de alimentação, por lá se espalharam, chegando aos lugares mais inóspitos, de temperaturas baixíssimas. Até hoje, existem bandos de nômades vivendo em regiões de difícil acesso, sob temperaturas baixíssimas.

São caçadores de renas selvagens, que montam acampamento seguindo a rota das renas, sua única fonte alimentar. Andam atrás das manadas e caçam durante todo o dia, na medida da necessidade. Se não têm sucesso, sacrificam uma das renas que domesticaram. Bebem o sangue ainda quente, usam a gordura, pele, chifres e comem carnes cozidas. Sua alimentação é somente a proteína da rena. Houve uma adaptação fisiológica para essa forma de vida. Tudo é coletivo. Mesmo sendo homens na natureza, o fato de se tratar de seres de linguagem os exclui da natureza, do instinto, e os situa no lado da cultura.

Vendo aquele documentário em que os homens vivem de forma tão primitiva, ocorreu-me que nós, que nos consideramos civilizados e modernos, talvez sejamos mais bárbaros do que esses bandos primitivos. Ali não existe essa mediação do dinheiro, da moeda; não existe consumismo nem objetos do desejo para estimular o inútil. Não tem TVs nem telefones; lojas, nem pensar! Parece inconcebível uma vida tão rudimentar. Creio que no Brasil poucas tribos indígenas vivem em tamanho isolamento da civilização.

 Nos afastamos da natureza, do uso da força bruta para garanti-la. Pagamos a intermediários para buscarem na natureza o que precisamos para sobreviver. Nas prateleiras dos supermercados tem de tudo, o útil e o fútil, não precisamos nem pensar de onde vêm tantos produtos. Mas é interessante pensar que hoje continuamos caçadores. Caçadores da moeda de troca, mas muito distantes das razões iniciais. Agora, vivemos atrás de dinheiro para a sobrevivência, e muito além dela, todas as mercadorias que hoje nos escravizam. Quem somos nós sem um celular? Sem internet?

Somos mais modernos e civilizados, temos muito conforto. Como disse João Ubaldo, no livro A ilha do pavão, na voz ilário índio Gaudino: branco acha que índio é burro? Não é. Índio também gosta de ‘çúcara’, índio gosta de ‘mufada’, índio não gosta de graveto, pedra, chão batido não!

Mas, mesmo assim, no fundo ainda somos selvagens. Selvagens e dotados de grande agressividade. Por não sermos animais guiados pelo instinto como os outros, porém agressivos e perigosos porque o individualismo nos afasta do coletivo. Sacrificamos o outro pelos nossos interesses e abandonamos a ética quando nos interessa enquanto lá, naquelas tribos, eles dividem tudo o que têm e é pouco, carne, peles, cabanas.

Aqui, nós civilizados, nem sempre compartilhamos o que temos porque desejamos ter mais, ser melhores e estar em vantagem. Queremos acumular mesmo se não pudermos consumir tanto e apesar da distribuição injusta. E desejamos poder mais.

Agora, pensando bem: quem serão de fato os primitivos?

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