A cada dia,
crianças e até mesmo adultos entram para as estatísticas de pessoas com
intolerância à lactose e buscam alternativas nos produtos preparados
especialmente para eles
Carlos Herculano Lopes
Estado de Minas: 07/09/2014A intolerância à lactose, que vem a ser uma doença resultante da ausência ou deficiência da enzima lactase nas células da mucosa do trato gastrointestinal, e, em consequência, uma inabilidade para se quebrar o dissacarídeo lactose presente no leite, para que possa ser absorvido, atinge, no Brasil, de 6% a 8% das crianças com menos de 3 anos. Entre os adultos, essa porcentagem é de 2% a 3%, segundo dados da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia. E mais: cerca de 60% das pessoas que desenvolvem essa intolerância não sabem que a têm e convivem com a doença sofrendo os seus efeitos. Para fazer frente a essa demanda, indústrias oferecem cada vez mais produtos como iogurtes e queijos sem lactose.
De acordo com Mariana Villela, nutricionista da Verde Campo, empresa instalada em Lavras, no Sul de Minas, que há cerca de três anos vem produzindo alimentos sem lactose, essa está presente no leite e seus derivados, como queijos, iogurtes, coalhada, requeijão e também em produtos que utilizam o leite em sua composição, como bolos, pães, biscoitos, bolachas, chocolates e outros. Os sintomas ou sinais clínicos apresentados pelas pessoas doentes, ainda segundo Mariana, são diarreia significativa acompanhada de desidratação; evacuação explosiva logo depois da ingestão do alimento; assadura perianal; distensão e dor abdominal; flatulência; desnutrição; acidose metabólica e enterite necrosante.
Formada em nutrição pelo Centro Universitário de Lavras (Unilavras), com especialização em nutrição e saúde pela Universidade Federal de Lavras (Ufla), Mariana Villela explica também que a intolerância à lactose pode ser congênita, onde bebês recém-nascidos já apresentam deficiência na lactase, resultando em diarreia e desidratação (às vezes letais) quando se alimentam de leite ou fórmulas à base de lactose. A deficiência de lactase primária, por sua vez, é a ausência de lactase, parcial ou total, que se desenvolve na infância ou em diferentes idades, até em adultos, ao passo que a deficiência secundária é o resultado de lesões no intestino delgado ou por alguma patologia, como enterite regional, colite ulcerativa, desnutrição e câncer, entre outras. “A intolerância à lactose é caracterizada pela ausência ou deficiência da enzima lactase, molécula responsável pela degradação da lactose em duas moléculas de açúcar menores, galactose e glicose. Essas moléculas são facilmente absorvidas pelo intestino, não causando, então, sintomas da doença”, diz Mariana.
Outros sintomas de intolerância à lactose podem ser dores de cabeça e vertigens inesperadas, perda de concentração, dificuldade de memória de curto prazo, dores musculares e articulares, cansaço intenso, alergias diversas, arritmia cardíaca, úlceras orais, dor de garganta e aumento de frequência da micção. “Se esses sintomas sistêmicos persistirem, é preciso que se faça uma avaliação para saber se, de fato, decorrem da intolerância à lactose, se são sintomas coincidentes ou se provêm da alergia à proteína do leite de vaca”, diz Mariana.
DIGESTÃO Quanto ao processo de tirar a lactose do leite, ela afirma que é adicionada ao alimento e aos seus derivados a enzima lactase, que é responsável pela hidrólise (quebra) da lactose em glicose e galactose, que são facilmente absorvidos pela mucosa intestinal. E, uma vez ocorrida a reação, a lactose não é novamente formada, sendo essa uma dúvida comum entre os consumidores intolerantes.
Teorias à parte, a nutricionista diz, ainda, que a exclusão total do leite e seus derivados por parte de quem tem intolerância à lactose deve ser evitada, pois isso pode acarretar prejuízo nutricional de cálcio, fósforo e vitaminas, podendo estar associada com a diminuição da densidade óssea e fraturas. Daí, no seu entender, a vantagem, por parte de quem tem intolerância, de consumir alimentos sem lactose.
“O ganho é que, agindo assim, o consumidor aproveita todos os benefícios do leite e seus derivados, como proteínas, cálcio, fósforos e vitaminas, que são muito importantes para a saúde e não desenvolvem os sintomas indesejados provocados pela presença da lactose”, afirma a nutricionista.
Ela explica também que a principal característica dos produtos livres de lactose é sua alta digestibilidade, e isso se dá porque a molécula de lactose é transformada em moléculas mais simples durante o processo produtivo. “Esse processo ocorre por meio da edição de enzima lactase, responsável pela quebra das moléculas de lactose, simulando o que ocorre no organismo humano durante a digestão. E, como resultado, os nutrientes do leite são absorvidos de maneira mais rápida e eficiente pelo organismo, trazendo uma agradável sensação de leveza e bem-estar”, diz Mariana.
Ainda de acordo com ela, os intolerantes à lactose têm de restringir o alimento causador da doença. “Depois de diagnosticado o problema, recomenda-se evitar o consumo do leite e seus derivados na sua forma natural. A boa notícia é que é possível viver bem e plenamente sem a lactose, uma vez que já existe uma série de produtos e fórmulas, como os que desenvolvemos aqui na Verde Campo, com as mesmas propriedades do leite, só que isentos da lactose”, conclui a nutricionista.
Para Álvaro Gazolla, diretor comercial da Verde Campo, que está no mercado há cerca de 10 anos, e em 2010 deu início às pesquisas e desenvolvimento da linha lacfree, para, no ano seguinte, lançar o primeiro iogurte sem lactose do Brasil, no início, o público tinha receio de experimentar os produtos, acreditando que o sabor não era agradável. Mas, com o tempo, isso foi mudando, e, hoje, a linha lacfree ocupa em torno de 5% do faturamento da categoria. “Atualmente, produzimos também queijos, entre eles, o cottage, iogurtes light e diet, além de creme de leite e requeijão, todos sem lactose”, diz Álvaro.
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