Zero Hora - 07/09/2014
Sim, vou falar de novo sobre Woody Allen, então, se você não o suporta,
pode pular para a página seguinte, ou me ler com ressalvas por eu ser
tão tendenciosa, ou simplesmente me dar outro voto de confiança: o filme
Magia ao Luar não é extasiante e não vai concorrer ao Oscar em nenhuma
categoria (figurino, talvez), e nem mesmo Colin Firth arrebata (pouco à
vontade no papel, meio afetado), mas quem se importa?
Trata-se de um legítimo produto Woody Allen, que a cada novo
trabalho leva para as telas as conclusões pessoais que vem colhendo no
transcorrer de sua vida. Isso é o que me fascina, diferentemente do que
os críticos profissionais analisam. Eu viajo para dentro da cabeça desse
homem que acompanho desde que ele tinha 36 anos e eu uns 10.
Hoje Woody Allen, aquele neurótico apavorado com a morte, buscando
incessantemente um sentido para a vida, cético de carteirinha, é um
senhor de quase 79 anos. Se eu, com 26 menos, já abandonei alguns
questionamentos irrespondíveis, imagine quem está, teoricamente, mais
próximo de apagar a luz.
É natural que cultivemos milhares de indagações, mas a tendência é
aceitar as simplificações que a maturidade traz - no final das contas, o
que sobra de uma vida são os resultados que não buscamos, mas que
aconteceram mesmo assim.
Magia. Truque. Ilusionismo. Depois de uma vida regida por planos,
metas e racionalismo, o inacreditável é que ficará marcado em nossa
biografia.
Durante muito tempo, Woody Allen não acreditou em nada que não
pudesse explicar, mas aos poucos ele relaxou e passou a duvidar de si
próprio, foi se dando alta e desfrutando de uma leveza que deixou de ser
sinônimo de pequenez, mas de facilitação.
Quem é que aguenta brigar infinitamente contra si mesmo, quem é que
tem fôlego para uma busca incessante por respostas que nunca serão
conclusivas? Muito melhor é admitir que as respostas mudam com o tempo e
que o comprometimento com nossa imagem se torna patético. Mais vale
relaxar e levar a sério apenas o que se sente, porque as teorias se
tornarão uma teimosia de estimação, nada além.
Eu também sempre fui muito cética, até que mudei. Virei a casaca,
deixei de torcer pelo nada e resolvi torcer pelo tudo. Astrologia,
anjos, telepatia, acaso, vibrações, energia: hoje respeito toda a
família Imponderável da Silva. E vou além, acredito profundamente num
troço chamado Amor, que não tem lógica, não tem explicação e não tem
racionalidade que o justifique. Basta um sorriso para fazer a mágica
funcionar.
Parece que me esqueci de falar do filme, mas o filme é sobre isso, e
se não for, que Woody Allen me perdoe as elucubrações: são tantos anos
de fidelidade ao seu trabalho que já me permito invadir sua alma sem
permissão.
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