domingo, 1 de março de 2015

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Final de análise

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Final de análise


Regina Teixeira da Costa
Estado de Minas: 01/03/2015



Sigmund Freud fotografado por Ferdinand Schmutzer, em 1926 (Museum Westlicht/divulgação
)
Sigmund Freud fotografado por Ferdinand Schmutzer, em 1926
Uma das coisas de que o psicanalista não pode se queixar é de ter uma vida profissional maçante. Só o fato de ler Freud e relê-lo nas subsequentes publicações e lançamentos por meio de outros autores já o torna uma pessoa agraciada pela sorte. Freud ganhou o Prêmio Goethe de Literatura e deixou uma grande obra. Dedicou-se a transmitir a existência do inconsciente!

Esse entusiasmo é despertado quando nos deparamos com leitores que têm a capacidade de percorrer sua obra em busca de sustentação para suas questões. Um deles é Regina Beatriz Silva Simões, psicanalista de São João del-Rei, que revisita Freud em sua dissertação de mestrado, agora livro.

A autora de Final de análise: possibilidades, impossibilidades e articulações (Editora Letramento) retoma momentos cruciais da teoria freudiana relativos ao complexo de Édipo e à sua herdeira, a castração, percorrendo casos clínicos e outros conceitos articulados ao artigo “Análise terminável e interminável” (1938).

Regina revisita também o psicanalista francês Jacques Lacan, minucioso leitor de Freud, que foi além dele com novos conceitos e ideias que trouxeram grande avanço à clínica psicanalítica. Sua reescrita do complexo de Édipo freudiano compõe um dos capítulos do livro.

Não poderia deixar de ser lembrado que ele formalizou teoricamente a questão do final de análise, deixada em aberto ainda como uma questão por Freud. Lacan progride na construção do edifício freudiano com novos conceitos, como o objeto a, o grande Outro e o final de análise, propondo o mecanismo do passe, formulação teórica que pretende testemunhar esse final.

Buscamos o analista por um sofrimento com o qual não conseguimos lidar. Porém, o fato de ir ao analista não garante que, efetivamente, se faça análise.

Para isso, é preciso muito mais do que a simples presença física em um consultório. É necessário que nos impliquemos com os sintomas e seu significado subjetivo e estabeleçamos um laço de amor transferencial, uma confiança capaz de nos fazer continuar rompendo caminho no rochedo da castração. Por causa desse rochedo, grande dificuldade a ser transposta, muitos não concluem o trabalho, conforme aponta Ana Maria Portugal, que nos apresenta o livro.

Pode-se recuperar um saber sobre o sintoma, obter a melhoria da angústia, a pacificação da ansiedade, o esvaziamento do imaginário, a suspensão de inibições – isso já é um ganho considerável. Saber um pouco mais sobre o desejo que nos move já faz grande diferença. Mas não basta.

Regina desenvolve o pensamento freudiano segundo o qual, para acompanhar o sujeito até o final, é preciso que o próprio analista tenha ido bem longe “na análise de si mesmo”. O aprendizado teórico da psicanálise, por si só, é insuficiente para a formação de um analista, pois é na experiência da própria análise que se adquire a convicção da realidade do inconsciente.

De acordo com Regina Beatriz, o final de análise produz uma criação em que pode emergir a porção inédita de cada um. O sujeito se responsabiliza por aquilo que é impossível dizer. Passa, assim, a recorrer ao Outro de uma nova maneira.

Concluo com as belas palavras da psicanalista Márcia Maria Rosa Vieira dedicadas à autora: “Pois bem, ‘confrontada com a solidão’ e com ‘a convicção do limite, do silêncio’, tal como diz em suas considerações finais, Regina Beatriz busca, com essa publicação, tornar legível e audível seu timbre”.

FINAL DE ANÁLISE: POSSIBILIDADES, IMPOSSIBILIDADES E ARTICULAÇÕES
• De Regina Beatriz Silva Simões
• Lançamento dia 14, às 10h, na Livraria Quixote, em BH; e dia 27, às 20h, no Centro Cultural da UFSJ, em São João del-Rei

Nenhum comentário:

Postar um comentário