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terça-feira, 20 de agosto de 2013

Reino Unido minimiza detenção de brasileiro para interrogatório - Bernardo Mello Franco,Diana Brito,Italo Nogueira

folha de são paulo
Namorado de jornalista que revelou esquema de espionagem americano cobra ação do Brasil
Chanceler brasileiro pede explicações a colega britânico e critica "desvios" na política de combate ao terrorismo
DO RIODE LONDRES
O Reino Unido minimizou ontem a detenção do estudante brasileiro David Miranda, 28, que no domingo foi retido com base em uma lei antiterrorismo quando fazia uma escala no aeroporto de Heathrow, em Londres.
Miranda, que foi liberado após interrogatório, é companheiro do jornalista Glenn Greenwald, autor das reportagens que revelaram a existência de esquema de espionagem da NSA (a agência de segurança nacional dos EUA).
Um porta-voz do premiê David Cameron saiu em defesa da lei antiterror. "Cabe à polícia decidir quanto à necessidade e à proporção do uso desses poderes", afirmou ao jornal "The Guardian".
Em nota, a embaixada britânica no Brasil afirmou que o assunto "continua sendo uma questão operacional da Polícia Metropolitana de Londres". O comunicado foi divulgado após o chanceler Antônio Patriota ter abordado o assunto em conversa telefônica com seu colega britânico William Hague.
Antes do telefonema, Patriota afirmara no Rio que a ação "não é justificável com base numa lei que se aplica a suspeitos por terrorismo".
Em evento para lembrar os dez anos da morte de Sergio Vieira de Mello, o chanceler disse que o brasileiro, funcionário da ONU, não aceitaria "desmandos e desvios no combate ao terrorismo", em clara referência ao caso.
"O terrorismo precisa ser combatido com muita seriedade, mas defendemos que seja dentro das boas práticas multilaterais. [...] Sem enquadrar pessoas em que não há justificativa alguma de suspeita de envolvimento com terrorismo", disse.
Miranda ficou detido em uma sala com seis agentes da Scotland Yard, quando fazia escala no país para voltar de Berlim ao Rio. De acordo com os britânicos, sua detenção durou menos de nove horas, mas, em entrevista à Folha, ele disse ter passado onze horas em poder dos agentes.
Miranda teve equipamentos apreendidos e permaneceu incomunicável. "Perguntaram sobre a minha vida inteira, sobre tudo. Seguraram o meu computador, videogame, celular, pen drives, máquina fotográfica", contou.
A viagem de Miranda foi financiada pelo "Guardian", para o qual Greenwald trabalha. Lá, ele visitou Laura Poitras, documentarista que auxilia o jornalista na divulgação dos documentos repassados pelo ex-técnico da NSA Edward Snowden.
A Casa Branca informou que as autoridades britânicas avisaram os EUA antes de prender Miranda, mas negou ter pedido a prisão e o interrogatório do brasileiro.
O embaixador britânico no Brasil, Alex Ellis, foi convocado para dar explicações.
Ao desembarcar no Brasil, o estudante de Comunicação disse esperar uma atitude firme do governo brasileiro.
"Espero que o governo brasileiro faça alguma coisa, porque a gente não sabe o que está acontecendo de verdade", afirmou Miranda. (DIANA BRITO, ITALO NOGUEIRA E BERNARDO MELLO FRANCO)

Ação foi 'muito atípica', diz ouvidor britânico
BERNARDO MELLO FRANCODE LONDRESO brasileiro David Miranda só poderia ser detido pela polícia britânica se fosse suspeito de terrorismo. A afirmação é do ouvidor independente David Anderson, que vai investigar se houve abuso na ação da Scotland Yard.
Ele disse à Folha que pode recomendar mudanças na lei antiterror se ficar constatado que o brasileiro foi detido ilegalmente no aeroporto.
"Posso dizer que a ação da polícia foi muito atípica. É raro alguém ser detido por nove horas com base na lei antiterror", afirmou o ouvidor.
"A lei dá poderes excepcionais e só pode ser usada em casos específicos. Se a polícia não tiver motivo para acreditar que o cidadão seja terrorista, ele deve ser liberado imediatamente", disse.
Anderson vai investigar se houve abuso na aplicação das leis antiterrorismo, que dão poderes especiais às autoridades desde 2000.
As autoridades britânicas são obrigadas, por lei, a apresentar uma justificativa clara ao ouvidor.
Se concluir que houve abusos, ele deve enviar um relatório especial ao Parlamento e sugerir mudanças imediatas na legislação.
Mais cedo, deputados da oposição trabalhista criticaram a detenção do brasileiro. Yvette Cooper, responsável por fiscalizar o Ministério do Interior, cobrou uma investigação urgente do caso.
"Qualquer suspeita de que os poderes contra o terrorismo estão sendo usados de forma incorreta deve ser investigada e esclarecida com urgência", afirmou.
    Sob ameaça
    'Guardian' diz ter destruído dados Vazados
    Emissários do premiê britânico, David Cameron, obrigaram o jornal "The Guardian" a destruir material sobre espionagem vazado pelo americano Edward Snowden, escreveu o editor-chefe do jornal, Alan Rusbridger. Se não cumprisse a recomendação, o jornal seria processado, segundo Rusbridger. Agentes teriam acompanhado a destruição de discos rígidos no porão do jornal, no mês passado.

    Entrevista
    'Fiquei 9 horas na sala recebendo ameaça de prisão'
    FABIO BRISOLLADO RIOO carioca David Michael dos Santos Miranda, 28, diz que, após duas horas circulando no aeroporto de Heathrow (Londres) sob custódia de agentes da Scotland Yard, ficou nove horas sendo interrogado. Ele diz que teve confiscados equipamentos em que havia arquivos de Edward Snowden.
    Estudante de marketing, ele é companheiro do jornalista britânico Glenn Greenwald, que revelou o conteúdo de parte dos arquivos de Snowden.
    Folha - Qual o motivo da ida para a Alemanha?
    David Miranda - Levar alguns dados para a Laura [Poitras], que trabalha com o Glenn desde o início do caso Snowden e trazer dados armazenados em dois pendrives e um HD. Tudo foi apreendido. Não sei nada sobre o conteúdo.
    Como foi a abordagem da polícia britânica?
    Embarquei em Berlim, com conexão em Londres. Lá a comissária avisou que todos deveriam sair com o passaporte em mãos. Três oficiais me esperavam. Ao verem meu passaporte, um disse: "Me acompanhe por favor, senhor."
    A Scotland Yard informou que você foi detido por nove horas com base na Lei de Combate ao Terrorismo.
    Mentira. Foram 11 horas. Antes de seguir para a sala, fiquei duas horas circulando com os oficiais.
    Como foi o interrogatório?
    Fui levado para uma sala branca, sem janelas, com quatro cadeiras, uma mesa e uma máquina para registrar impressões digitais. Fiquei ali nove horas, sendo ameaçado de prisão. De 30 em 30 minutos, me ofereciam água. Eu não bebia. Jogavam o líquido fora. Pegaram minha bagagem de mão. Vasculharam tudo. Sumiram um aparelho roteador e um "smartwatch".
    O que eles queriam saber?
    Eles me perguntaram várias vezes sobre minha relação com Glenn e minha participação no trabalho dele. Andavam em volta de mim enquanto falavam. Foi um ataque psicológico. Queriam saber se eu tinha acesso ao conteúdo enviado por Snowden. Expliquei que meu trabalho com Glenn estava restrito à área de marketing.
    O que mais perguntaram?
    Por que as pessoas protestavam nas ruas do Brasil.
    Você suspeitou que estava sendo monitorado?
    Estranhei quando não pude antecipar o voo a Londres e quando disseram que não tinha como comprar outra passagem. Na Alemanha, fui a um bar com a Laura e uma funcionária dela, que estava com uma mochila, que cheguei a carregar por alguns momentos. Quando estávamos no bar, a mochila sumiu.

      sexta-feira, 26 de julho de 2013

      Papa Francisco diz no Twitter que noite em Copacabana foi "inesquecível"

      Folha de São Paulo

      DO RIO

      Papa no BrasilEm seu Twitter oficial, o papa Francisco na manhã desta sexta-feira (26) disse que a Cerimônia de Acolhida dos jovens ontem (25) na praia de Copacabana, na zona sul do Rio, foi "inesquecível", e mandou uma bênção para todos os envolvidos no evento.
      Hoje, o papa tem uma extensa agenda, que começou com uma missa reservada na residência do Sumaré, onde está hospedado.
      Por volta das 9h30, o sumo pontífice seguirá para a Quinta da Boa Vista, zona norte da capital fluminense, parque próximo ao estádio do Maracanã, onde ouvirá a confissão de cinco jovens da Jornada Mundial da Juventude, cada um deles representando um continente.
      Às 11h30, o papa se encontra com cinco detentos no Palácio São Joaquim, sede da Arquidiocese do Rio de Janeiro, na Glória, zona sul da cidade. Às 12h está prevista uma oração do Angelus Domini, que será feita no balcão central do Palácio São Joaquim.
      Depois de compromissos com o comitê organizador da Jornada e de almoçar com Dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio, o papa Francisco volta para a residência oficial, onde ficará até 17h, quando partirá de helicóptero para o Forte de Copacabana.
      Às 18h começa a via-sacra com jovens na praia de Copacabana, uma representação da vida de Cristo em plena praia que é o cartão postal da cidade.
      Treze palcos foram montados ao longo do trecho de 900 metros, cada um deles destinado a encenação de uma das 14 estações da Via Sacra. A última cena será representada no palco principal, montado no Leme, diante do papa Francisco.

      Papa em Copacabana

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      J.P.Engelbrecht/Divulgação PRJ
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      Papa Francisco participa da missa da acolhida, em Copacabana, pela Jornada Mundial da Juventude Rio 2013
      O PAPA NO BRASIL
      Francisco encoraja luta contra a corrupção
      'Nunca desanimem' diante de 'injustiças' e desvios, afirma papa em discurso para jovens de comunidade pobre no Rio
      Em favela controlada por forças policiais, pontífice diz que não haverá 'pacificação' se desigualdade continuar
      FABIANO MAISONNAVEENVIADO ESPECIAL AO RIONum discurso de forte conteúdo social e recheado de mensagens políticas, o papa Francisco encorajou ontem os jovens a lutar contra a corrupção e as injustiças sociais.
      Visitando a favela Varginha, no Rio, que no início do ano passou a ser controlada pelas forças de segurança, o pontífice disse que nenhuma "pacificação" pode ser duradoura se as desigualdades sociais não forem corrigidas.
      "Vocês, queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção, com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício", disse o papa.
      A fala destoou do tom pastoral que marcou seus sermões e pronunciamentos desde que chegou ao país, na segunda-feira. Até então, ele havia se limitado a tratar das questões da fé católica, sem tangenciar temas que dizem respeito ao ambiente político do Brasil nas semanas que precederam a Jornada Mundial da Juventude.
      "Nunca desanimem, não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem pode mudar. Procurem ser vocês os primeiros a praticar o bem."O discurso do papa foi interpretado como uma alusão à onda de protestos iniciada no país em junho.
      O papa foi mais direto ao criticar políticas de combate à violência que não são acompanhadas de ações efetivas contra a desigualdade social.
      "Nenhum esforço de pacificação' será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma."
      Varginha é uma das favelas do Complexo de Manguinhos, um dos mais pobres e violentos da cidade. Em janeiro, ela ganhou uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). Lá havia uma das maiores cracolândias do Rio.
      O papa exortou ainda em seu discurso ricos e dirigentes políticos a saber "dar a sua contribuição para acabar com tantas injustiças sociais".
      Duro com os ricos e as classes dirigentes, Francisco elogiou a disposição de "colocar mais água no feijão" dos moradores da Varginha.
      "Vocês sempre dão um jeito de compartilhar a comida: como diz o ditado, sempre se pode colocar mais água no feijão'! E vocês fazem isto com amor, mostrando que a verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração!"
      Mas, num improviso ao ler seu discurso, também fez uma breve advertência contra o consumo de álcool.
      "Queria bater em cada porta, dizer bom dia', pedir um copo de água fresca, beber um cafezinho, e não um copo de cachaça, falar como a amigos de casa, ouvir o coração de cada um."

        'Estou fazendo a maior bagunça', diz papa a prefeito

        ITALO NOGUEIRA
        DO RIO
        LEANDRO COLON
        ENVIADO ESPECIAL AO RIO

        Papa no BrasilHoras antes de ser anunciada a mudança do local da missa final da Jornada Mundial da Juventude, o papa Francisco brincou com o prefeito do Rio, Eduardo Paes.
        "Estou fazendo como você falou para mim: não estou respeitando as regras e fazendo a maior bagunça. Obrigado pelo esforço que você tem feito", disse o pontífice, ao ser recebido por Paes na prefeitura ontem.
        Segundo o prefeito, o papa ainda o aconselhou sobre como acabar com a chuva que atinge a cidade desde o início da semana.
        "Ele disse: 'Tem até sol, mas está acima das nuvens'. E sugeriu mandar 12 ovos para as freiras clarissas, para santa Clara ajudar a melhorar o tempo. Vou providenciar urgente", disse Paes.
        É uma tradição católica pedir para santa Clara fazer parar de chover. Há várias simpatias: desde colocar ovos na janela e rezar à santa até levar alguns deles para as freiras clarissas.
        Paes ainda fez brincadeiras ao apresentar ao papa o coordenador técnico da seleção de futebol, Carlos Alberto Parreira, e o jogador de basquete Oscar Schmidt. O prefeito disse que ambos ganharam muito da Argentina, terra natal de Francisco.
        O pontífice foi à sede da Prefeitura do Rio para receber a chave da cidade e abençoar bandeiras olímpicas e paraolímpicas.

        sábado, 29 de junho de 2013

        Entrevista Eduardo Paes: Governos não deixarão legado da Copa

        folha de são paulo

        Eduardo Paes diz que rua rejeita políticos, não partidos

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        LETÍCIA SANDER
        ITALO NOGUEIRA
        DO RIO
        Prefeito da capital que atrairá todos os holofotes no domingo, sede da final da Copa das Confederações, Eduardo Paes (PMDB) diz que os governos erraram e não souberam tirar um legado da Copa do Mundo que está por vir.
        "Os governos em seus diversos níveis erraram em não perceber que esse evento tem muito mais do que jogo de futebol", afirmou, em entrevista concedida em seu gabinete na tarde de quinta-feira.
        Em 45 minutos de conversa com a Folha, o peemeedebista, que está em sua quinta legenda, disse que as ruas deixam claro que a população quer ser mais ouvida e reconhece a crise institucional das legendas. "Que partido tem imagem boa? Só os que estão por nascer. É a vida como ela é". Mas faz um mea-culpa. "O que o país diz é: vamos parar de curtir que viramos democracia, que tiramos 40 milhões da pobreza, que temos pleno emprego, e vamos avançar mais? A classe política deitou em berço esplêndido".
        Daniel Marenco-27.jun.13/Folhapress
        O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), em seu gabinete; segundo ele, classe poltícia 'deitou em berço esplêndido
        O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), em seu gabinete; segundo ele, classe poltícia 'deitou em berço esplêndido'
        Paes tenta dissociar o projeto olímpico do clima de mal-estar causado pelos gastos com a Copa, mas reclama de eventuais exageros nas interpretações do momento atual feitas mundo afora.
        "Vamos parar com essa mania do Brasil ficar se mostrando um país perfeitinho. Nós não somos. Mas ninguém aqui está lutando por liberdades, direitos para mulheres, a voto. Isso aqui não é primavera árabe. Isso aqui é uma democracia, consolidada, que se manifesta. Não vejo como um problema. Não tem que aceitar essa história de achar que o gringo vai olhar para cá e dizer: 'Olha, eles fazem manifestação'. Nós somos democratas".
        A seguir, os principais trechos:
        Folha - O Brasil e o Rio bateram muito bumbo pela conquista de grandes eventos. No fim do primeiro, a Copa das Confederações, a imagem que fica é de manifestações nas ruas, de violência. Isso o preocupa?*
        Eduardo Paes - Obviamente preocupa. Acho que o Brasil perdeu uma oportunidade com a Copa do Mundo. As ruas não disseram que são contra a Copa ou contra a Olimpíada. As ruas dizem o seguinte: somos contra a forma como se fez a Copa.
        Em que sentido essa oportunidade foi perdida?
        A gente não pode ver a Copa e a Olimpíada como eventos esportivos. Quando o mundo trouxe a Copa e a Olimpíada para o Brasil, eles disseram assim: ªEsse lugar no mundo merece nossa atenção pela sua performanceº. Seul fez a Olimpíada consolidando o papel dos tigres asiáticos, Barcelona faz a sua Olimpíada no momento em que a Europa quis recuperar a Espanha. O Brasil ficou na lógica do evento em si.
        O que fez o Brasil perder essa oportunidade?
        Um conjunto de coisas. A Fifa tem essa característica... Não estou dizendo se a Fifa é desonesta ou honesta. A Fifa não se preocupa com legado. Preocupa-se com o estádio.
        Não é ao governante que cabe esta preocupação?
        Começa pela Fifa, mas ela não pauta legado, pauta estádio. A Olimpíada, ao contrário da Copa, é mais manejável. No fim do dia é um prefeito, um governador e um presidente. Não são 12 prefeitos, 12 governadores... O governo federal, quando fez o PAC da Mobilidade da Copa, talvez tenha demorado a perceber que era uma oportunidade de novos investimentos que não guardam relação direta com a Copa.
        O governo federal errou?
        Não. É muito fácil jogar a culpa no governo federal. Os governos em seus diversos níveis erraram ao não perceber que esse evento tem muito mais do que jogo de futebol.
        Foi um bom negócio trazer a Copa?
        Acho que sim. Não exploramos [a oportunidade], mas ainda há tempo de recuperar. Não estou preocupado porque a imagem é de manifestação. Vamos parar com essa mania do Brasil ficar se mostrando um país perfeitinho. Nós não somos. Mas ninguém aqui está lutando por liberdades, direitos para mulheres, a voto. Isso aqui não é primavera árabe. Isso aqui é uma democracia, consolidada, que se manifesta. Não tem que aceitar essa história de achar que o gringo vai olhar para cá e dizer: "Olha, eles fazem manifestação". Nós somos democratas. Anos atrás não se podia fazer manifestação. Aí sim era para ter vergonha.
        Mudou algo no planejamento olímpico?
        Por enquanto não. Nem a Folha consegue criticar muito a Olimpíada ainda. A gente tem prestado contas. Estou atento a isso. Estava vendo que essa coisa da Copa ia terminar mal. Porque não estava vendo clareza no objetivo. Na Olimpíada, desde o início eu sei que vou fazer estádio [temporário] que vai virar escola no dia seguinte.
        Em 2007, o sr. era secretário de Esportes aqui no Rio. Não havia essa discussão de legado?
        Não. Nunca vi. No caso da Olimpíada, fui conversar com o [ex-prefeito de Barcelona, Pasqual] Maragall. Ele disse: "Não se preocupa, porque tem dois tipos de Jogos Olímpicos: os que se servem da cidade, e aqueles em que a cidade se servem dos Jogos. Sirva-se dos Jogos. Conflite organicamente com o COI, comande o processo".
        O sr. acha que na Copa não teve esse confronto com a Fifa?
        A Fifa não está nem aí para legado, tem a sua culpa. Mas a maior é dos governos.
        O tema mais polêmico da Olimpíada são as remoções...
        [Interrompe] Que não existem. A não ser uma, a Vila Autódromo. Dizer que a Vila Harmonia, no Recreio, saiu por causa de Olimpíada para fazer o Transoeste [corredor expresso de ônibus que liga Santa Cruz à Barra]... O que a Olimpíada tem a ver com Transoeste?
        A favela do metrô...
        O que tem a ver? Está rolando aí a Copa das Confederações e as pessoas estão morando do outro lado em apartamentos, muito melhor. Tudo virou, para o bem e para o mal, Copa e Olimpíada. Aquilo ali é um monte de gente morando em péssimas condições. Nunca expulsamos ninguém sem alternativa: aluguel social, apartamento, ou prédio para ficar pronto daqui a um tempo.
        Por que a Vila Autódromo vai ser removida?
        Porque ali tem o espaço do Parque Olímpico. Tem medidas de segurança, porque está numa área de proteção ambiental, é uma invasão irregular do espaço público e porque eu estou fazendo um belo bairro alternativo com moradia a 500 metros dali. É mentira dizer que tem milhares de remoções por causa da Olimpíada. A maioria é por causa da Transcarioca [corredor de ônibus que vai ligar a Barra ao Galeão]. E não tem atleta que vai usar BRT.
        Antes das manifestações a imagem do Rio já estava manchada pela série de estupros...
        [Interrompe] Que sequência de estupro?
        No Leblon, na van...
        [Interrompe] Olha só, a reconstrução da imagem do Brasil e do Rio é um processo. Nosso maior ativo para ganhar a Olimpíada foi dizer que a gente tinha um longo caminho a percorrer. Dizíamos que ela seria um ponto de virada. Nunca escondemos que o Rio tinha problemas com segurança, que o Rio tem problema de mobilidade, que tem pobre e rico. Nunca vendemos o paraíso.
        As cenas de quebra-quebra na cidade, operação policial com nove mortos no Complexo da Maré não assustam?
        Operação com nove mortos na Maré era toda semana.
        Mas ocorrer durante um grande evento como a Copa das Confederações...
        [Interrompe] Não é o melhor dos mundos. O ideal é que a gente vivesse num país com características suíças. Se bem que eu ia achar um saco. É o Brasil. Vamos enganar os outros? Infelizmente temos muitos problemas ainda. A cena da Maré era semanal.
        Alguém do COI o procurou manifestando preocupação?
        Ninguém. Também não mandaram cartinha de solidariedade dessa vez. Por que toda vez que dá uma lambança eles mandam. "Vocês são muito fofos, lindos, maravilhosos". Nem isso recebi.
        Uma das interpretações sobre as manifestações é que as ruas querem interferir mais nas decisões de governo. O sr. acha que se o país estivesse hoje buscando sediar uma Copa ou Olimpíada, a população deveria ser consultada?
        Acho que isso não é tema de plebiscito. Nas pesquisas, havia uma aprovação absurda para a Copa e a Olimpíada. Não vamos transformar o Brasil no reino das comunas ou das assembleias. Mas há uma clara posição das ruas de que querem ser mais ouvidos. Há duas questões: um país que clama por serviços de mais qualidade. Isso somado a uma série de valores, com mais força para a questão ética. O desejo de participar não é ficar fazendo plebiscito para tudo. É dizer: "Me ouçam! Não dá para ter impunidade".
        O carioca tem motivos para sair às ruas em protesto?
        O Haddad me disse uma coisa curiosa há alguns dias: "São Paulo vem numa situação difícil há algum tempo. Mas até três semanas atrás, eu encontrava um carioca e ficava até com inveja". Não pode ter mudado tanto. O Rio melhorou, as pessoas reconhecem. O que o país diz é: vamos parar de curtir que viramos democracia, que tiramos 40 milhões da pobreza, que temos pleno emprego, e vamos avançar mais? Em determinado momento, a classe política deitou em berço esplêndido.
        O povo tem rejeitado a presença dos partidos nas ruas. Os partidos estão em crise?
        As pessoas não rejeitaram os partidos, rejeitam os políticos, os personagens. Essa é uma crise de todos nós.
        O sr. faz um "mea culpa"?
        Claro. Só se eu fosse um delirante, vivendo no mundo na lua, eu acharia que o povo me ama por ter 66% dos votos.
        O sr. que já passou por cinco partidos preferiria disputar uma eleição numa candidatura avulsa?
        Não. Não acho que sou um bom exemplo. O sistema político brasileiro é muito frágil. Mas uma das coisas que devo fazer é trabalhar para fortalecer as legendas partidárias. Não porque elas são frágeis ficar... Posso ter minha versão porque mudei tanto, mas não cabe aqui [Paes costuma afirmar que suas passagens por PV, PFL, PTB e PSDB ocorreram acompanhando o ex-aliado César Maia. Na última, foi para o PMDB para candidatar-se à prefeitura em 2008 aliado ao governador Sérgio Cabral]. Meu papel como homem público não é só ser um bom prefeito.
        O seu partido, o PMDB, tem uma imagem negativa...
        [Interrompe] Que partido tem imagem boa? Só os que estão por nascer. Único partido com imagem boa é a Rede porque ainda não nasceu. É a vida como ela é.
        O PMDB deveria mudar alguma coisa?
        Deixo com você essa resposta.
        Mas é o sr. quem integra o partido.
        Deixo com você. Essa resposta é autoexplicativa.
        O senhor cedeu à pressão das ruas e baixou o preço do ônibus. É a prova de que esta era uma reivindicação legítima ou foi uma decisão ideológica?
        Nem um nem outro. Foi sensibilidade com o que as ruas estavam pedindo. As pessoas estavam se manifestando dizendo de maneira muito contundente que aquilo era inaceitável. Há um momento da manifestação popular em que você precisa dar resposta. Minha passagem é quase trinta centavos menor do que São Paulo e não gasto R$ 1,2 bilhão de subsídio. O modelo que montei é equilibrado. Agora, será que não pode ter avanço? Sei que avancei muito, mas concordo que tem que avançar muito mais. Tanto na qualidade dos serviços como na transparência do processo. Será que terão forças e pressões outras, que não o interesse público, irão agora se manifestar? Será que alguém vai dar uma liminar? Será que alguém vai fazer não sei o quê?
        Quando o sr. abaixou a tarifa, disse que poderia subsidiar. Mas depois disse que não precisava...
        Não disse que não precisava. No primeiro momento, disse que isso [a redução] significava, anualizado, R$ 200 milhões. Isso tem um custo. Se for um custo para o governo, chegar a R$ 400, R$ 500 milhões, é o custeio das Clínicas da Família. O que anunciei depois é que não iria subsidiar. Porque venho lutando contra o subsídio há três anos.
        Não fica a impressão de que o sr. não se esforçou antes para manter a tarifa, e depois encontrou um forma de reduzir?
        Não tenho essa fórmula ainda. Ela ainda não foi descoberta, não está colocada. Quero manter o sistema que eu criei, sem subsídio. O que eu anunciei é que eu não vou ceder o sistema que eu montei. Vou buscar catar isso em algum lugar. Posso acelerar a eficiência do sistema, a implantação de BRS, acelerar os BRTs. Talvez tenha que acelerar para isso.
        O sr. fez a primeira licitação de ônibus para a cidade, mas ela acabou mantendo os mesmos empresários e teve pouca disputa. Não fica a impressão de um jogo de cartas marcadas?
        Quando faz um processo licitatório, com essas características, quem tem 50 garagens estabelecidas pela cidade, 10 mil ônibus, sai naturalmente com vantagem.
        Quando o sr. decidiu abaixar a passagem?
        Eu vinha refletindo. Quando a voz da rua ficou clara...
        O Lula ligou?
        Sim, na semana passada.
        Ele está preocupado?
        O político que não está preocupado com o que está vendo, vive em outro mundo.
        Ele sugeriu a diminuição da tarifa do ônibus?
        Não, em nenhum momento. Nem a Dilma. Foi uma decisão minha. A única pessoa com quem eu conversei para reduzir a passagem foi o Fernando Haddad. Tomamos a decisão em conjunto.
        Como o sr. avalia a reação da presidente?
        Acho que o pronunciamento da presidenta e a reunião foram muito importantes. Precisávamos mais de uma demonstração de que o Estado brasileiro estava aqui, vamos respeitar a lei e a ordem. Agora pressupõe ações diretas e objetivas.
        E a ideia do plebiscito?
        Acho bom. Construir esse debate, uma cultura de plebiscito, de consultas populares. Isso não pode virar um radicalismo, mas em alguns temas sim.
        Tem certeza que estará com a Dilma no ano que vem?
        Totalmente. Acho fantástico ter uma disputa como Dilma, Marina, Aécio, Eduardo Campos. Algum deles é um populista, demagogo, ladrão? Não é. Mas acho que a Dilma merece ter um segundo mandato.
        E no Rio, como o sr. vê essa possibilidade de rompimento com o PT?
        Não vejo essa possibilidade. PT e o PMDB devem ter o mesmo candidato.
        O episódio da briga que o senhor teve com um carioca num bar pode lhe trazer prejuízos políticos?
        Me arrependo, como homem público, de ter perdido a cabeça. Tive uma reação que não deveria ser a reação do prefeito do Rio de Janeiro. Se fosse um cidadão normal, teria sido natural. Mas não sou. Devia ter tido controle suficiente para ouvir aquilo tudo sem reagir. Mas infelizmente não tive. Não sou esse super-homem, não. Gosto de sair, ir para a rua, tomar uma cervejinha, jantar fora com a minha mulher. Mas não fico satisfeito de jantar com a minha mulher e um sujeito ficar xingando a minha quinta geração. Bêbado.