terça-feira, 30 de outubro de 2012

36ª MOSTRA DE SP


Candidato argentino a concorrer ao Oscar tem roteiro brasileiro

O filme "Infância Clandestina", de Benjamín Ávila, foi escrito pelo paulista Marcelo Muller
Longa passado em 1979, durante a ditadura argentina, é baseado nas memórias do diretor e de seus irmãos
Divulgação
Cena do filme "infância Clandestina", um dos destaques de hoje da mostra de São Paulo
Cena do filme "infância Clandestina", um dos destaques de hoje da mostra de São Paulo
RODRIGO SALEM
DE SÃO PAULO

Futebol era um assunto proibido nas filmagens de "Infância Clandestina", produção que é um dos destaques de hoje da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Tudo em nome de uma boa causa, já que o filme é dirigido por um argentino, tem um roteirista brasileiro e foi coproduzido pelos dois países com ajuda de uma produtora espanhola.
"Sou um cineasta ditador. Só permitia a bandeira argentina no set", brincou o diretor Benjamin Ávila, num intervalo entre as exibições do longa no último Festival de Cannes, em maio passado.
"Falando sério, nada me parece mais lógico do que produzir esse filme com o Brasil, algo que nos dá um tom mais internacional."
"Sentimos que há menos compromisso com determinadas particularidades da política argentina e isso deixa o filme melhor", confirma o roteirista paulistano Marcelo Muller, que conheceu Ávila há 12 anos, quando estudava na Escola Internacional de Cinema e TV de Cuba.
A teoria parece funcionar. "Infância Clandestina" foi escolhido para representar a Argentina na batalha por uma vaga ao Oscar 2013, derrotando o favorito "Elefante Branco", de Pablo Trapero.
"O Brasil terá dois filmes para os quais torcer no Oscar", disse Muller à Folha, pouco após saber da escolha, em setembro. "'Infância Clandestina é bem diferente de 'O Palhaço' [o candidato brasileiro], então estamos somando."
Além de Muller, o drama tem a atriz paraibana Mayana Neiva e foi montado por Gustavo Giani, brasileiro que editou "Linha de Passe" (2008), de Walter Salles e Daniela Thomas, e "Xingu" (2012), de Cao Hamburger.
O tema não é incomum para os brasileiros. O drama acompanha a infância conturbada de Juan (o ótimo Teo Gutiérrez Moreno), que precisa mudar-se constantemente por causa da militância dos pais contra a ditadura argentina em 1979.
"A história é baseada na minha vida e de meus irmãos, mas não há situações traduzidas literalmente para o filme", revela o cineasta, que evitou construir um longa panfletário, investindo no bom humor e na intimidade dos personagens.
"As ideias estariam no roteiro de forma inevitável, então eu precisava me concentrar na emoção."
O drama de Ávila ainda tem a força do passado para sustentar sua força para o Oscar.
O primeiro filme latino-americano indicado para a categoria de filme estrangeiro, em 1986, foi "A História Oficial", que também mostra uma criança encarando a dura realidade da ditadura. O longa foi dirigido por Luis Puenzo, que é produtor de "Infância Clandestina".
"A diferença é que nosso filme não é sobre um rito de passagem. O menino sabe das consequências dos atos de seus pais", conta Muller.
INFÂNCIA CLANDESTINA
QUANDO hoje, às 21h30
ONDE Cinespaço Granja Vianna 1 (Rodovia Raposo Tavares, s/n, Km 22,5, Cotia; tel.: 0/xx/11 2898-9625)
CLASSIFICAÇÃO 14 anos

Nenhum comentário:

Postar um comentário