terça-feira, 30 de outubro de 2012

HÉLIO SCHWARTSMAN


HÉLIO SCHWARTSMAN
Mensagem das urnas

SÃO PAULO - O PT obteve uma fulgurante vitória nestas eleições municipais, mas boa parte do brilho vem da conquista de uma única cidade, São Paulo, que concentra 5,7% da população e 11% do PIB do país.
O tamanho do triunfo paulistano foi ainda magnificado pelo fato de que, trazendo o novato Fernando Haddad como candidato, o partido tenha derrotado um dos principais caciques tucanos num importante reduto do PSDB. É temerário, porém, interpretar os resultados municipais como uma prévia de 2014.
A melhor hipótese que li para explicar a disparidade dos desfechos do segundo turno foi a aventada por Melchiades Filho e André Singer, segundo os quais o baixo dinamismo econômico dos últimos anos contribuiu decisivamente para que as oposições locais derrotassem os candidatos situacionistas.
Se esse raciocínio é correto, como me parece que é, mais do que o enfraquecimento da oposição nacional, o que emerge das urnas de 2012 é um sinal de que, se a economia não reagir no próximo biênio, os sonhos continuístas da presidente Dilma Rousseff poderão enfrentar dificuldades. Tudo indica que uma recuperação está em curso, mas nunca se sabe. O seguro morreu de velho.
Algo parecido vale para a oposição. Seria desejável que ela se renovasse, mas deixar de fazê-lo não significa uma sentença de morte.
Se há uma lição política a tirar do que vem acontecendo na Europa, é a de que crises econômicas mais fortes têm o dom de transformar qualquer coisa que se pareça com oposição em situação. E crises de maior profundidade acontecem. Não conseguimos prever se elas virão em um, cinco ou dez anos, mas a ideia de que a economia possa funcionar sem sobressaltos parece cada vez menos crível.
Desconfio até que a tão louvada alternância no poder, fundamental na democracia, tenha mais a ver com ciclos econômicos do que com propostas e o debate de ideias.

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