sexta-feira, 26 de outubro de 2012

"Gonzaga - De Pai para Filho"



CRÍTICA DRAMA
'Gonzaga' exagera no melodrama e nos clichês
Longa de Breno Silveira sobre a relação do rei do baião com filho acerta no roteiro, mas escorrega no "timing"
Estevam Avellar/Globo
Cena do filme "Gonzaga - de Pai para Filho", de Breno Silveira
Cena do filme "Gonzaga - de Pai para Filho", de Breno Silveira


INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

São dois os eixos de "Gonzaga - De Pai para Filho".O primeiro diz respeito às relações pai e filho. O segundo, à busca e obtenção do sucesso. Nesse sentido, pouco muda de "2 Filhos de Francisco" (2005) para cá.

Mas Breno Silveira avança em seu projeto cinematográfico, ou pelo menos o roteiro se mostra mais inteiro. Trata-se aqui de chamar para o centro da trama as delicadas relações entre Gonzaga e seu filho, Gonzaguinha, ambos compositores célebres.
Desta vez não temos o pai ao mesmo tempo autoritário e protetor de "2 Filhos". Luiz Gonzaga está mais para autoritário e ausente. Em parte por razões profissionais, mas não só. Mas Gonzaguinha ressente-se disso ao longo da vida.
No mais, a mãe morre com tuberculose. A madrasta é madrasta. O pai o coloca num colégio interno e exige-lhe um anel de doutor etc. Gonzaga pai também se ressente: nunca terá certeza de ser de fato o pai dele.
Silveira estica a corda do melodrama até onde é possível: não só força a barra para que o espectador se comova (o uso abundante de música, a fotografia publicitária, tudo tem essa direção), também é preciso que os personagens vivam chorosos.
O que há de melhor vem da estruturação do roteiro, ora em "flash back" (o pai conta sua vida, suas perdas, ao filho que o desconhece), ora na atualidade (o filme situa-se num momento em que Gonzaguinha vai a Exu, Pernambuco, onde vive o pai, então no ostracismo).
É quando o filho busca compreender o pai e empreender uma aproximação que não pode se dar sem a evocação de dores, de parte a parte.
Os maiores problemas vêm do apego excessivo de Silveira ao clichê. Há momentos em que parece disposto a servir-se de todos os existentes, o que tende a aborrecer o espectador, tanto mais que Silveira parece não gostar de fazer uso das elipses.
A deficiência de "timing" torna o filme, por momentos, enormemente enfadonho.
No geral, pode-se pensar num filme que só retém do homem o seu valor de troca: valemos o que ganhamos. O filme parece acreditar na necessidade do sucesso para "ser alguém" mais até do que Gonzaga.
Mais do que exercício de um realismo antiquado, estamos diante de um cinema que se faz postulando o primado do emocional sobre o conhecimento (como a dizer, a exemplo da TV: "Nós sabemos o que acontece; a você cabe sentir").
Agora, claro, todas essas questões desaparecem quando começa a música de Gonzaga: aí o filme entra em estado de graça.
GONZAGA - DE PAI PARA FILHO
DIRETOR Breno Silveira
PRODUÇÃO Brasil, 2012
ONDE Espaço Itaú Frei Caneca, Kinoplex Vila Olímpia, Marabá Playarte e circuito
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO regular

Para viúva de Gonzaguinha, nada ficou de fora

LUCAS NOBILE

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Dentre as diversas celebrações do centenário de nascimento de Luiz Gonzaga -comemorado no dia 13 de dezembro-, o filme "Gonzaga - De Pai para Filho" é a que deve ter maior repercussão no país.
Mesmo assim (e talvez por seu alcance nacional), está longe de ser unanimidade em termos de fidelidade histórica. Familiares do Velho Lua minimizam as omissões do roteiro, que trata da conturbada relação entre pai e filho.
"É comum atrito entre pai e filho. Seu Luiz simpatizava com os militares, tinha quadros de Médici e Geisel, e o Gonzaguinha era comunista. O filme não deixou nada de fora", diz Louise Margarete Martins, a Lelete, viúva de Gonzaguinha e que conviveu com ele de 1979 até 1991.
Ela também rejeita a versão de que Gonzagão seria estéril. "Não ficou provado. Não teve teste de paternidade. Conviveram pouco, mas deu tempo para um reencontro bonito. E filme tem de criar elã, uma fantasia, um folclore."

Musical de João Falcão representa os traços míticos do rei do baião

Espetáculo em cartaz no Rio interpreta figura lendária de Gonzaga

MARCO AURÉLIO CANÔNICO

DO RIO

Quando a lenda se torna fato, encena-se a lenda. Esse foi o método que o diretor João Falcão adotou para falar de Luiz Gonzaga em seu novo musical, em cartaz no Rio.
Diferentemente do filme de Breno Silveira, "Gonzagão - A Lenda" não se preocupa com a precisão factual.
"Foi uma opção de estilo, não gosto de espetáculo que fica tentando fazer a pessoa conhecer a história, não é uma aula, eu queria fugir do documental", diz Falcão.
"Gonzaga é um mito no Nordeste, como Lampião. Eu achei interessante falar do Luiz com esse tom de fábula."
A peça conta a história de uma trupe teatral que encena momentos da vida de Luiz Gonzaga, boa parte deles tirados dos causos que o próprio contava em seus shows.
São nove atores em cena (além de quatro músicos) e, assim como no filme que estreia hoje, há entre os protagonistas um forrozeiro profissional que nunca havia atuado: Marcelo Mimoso, 31.
"Eu nunca tinha nem ido ao teatro", diz o cantor, também taxista, que foi descoberto pelo diretor tocando na noite da Lapa carioca.
"Quando fiz o teste, eu disse para o João: 'Só não sou ator'. Ele me respondeu: 'Nego velho, não se preocupe, vai dar tudo certo'", diz o carioca, filho de paraibanos.
"Mimoso é o mais próximo da imagem que a gente tem do Gonzaga, do timbre, da construção. Ele tem forró dentro da alma", diz o diretor.
E se o forró está na alma da peça, como seria de se esperar, as canções de Gonzaga que são usadas para narrar a trama nem sempre aparecem nas versões mais conhecidas.
"Como não é um musical biográfico, eu tive liberdade de não precisar me ater a triângulo, zabumba e sanfona", diz o diretor musical Alexandre Elias, que começou na carreira em uma peça de Falcão sobre a outra lenda do ritmo, Jackson do Pandeiro.
Assim, "Assum Preto" vira uma peça para violoncelo e voz, como um "prelúdio de Bach", "Pouca Diferença" vem como jazz e "Roendo Unha" como drum 'n' bass.

GONZAGÃO - A LENDA
QUANDO de qui. a dom., às 19h; até 16/12
ONDE Sesc Ginástico (r. Graça Aranha, 187; tel.: 0/xx/21/2279-4027)
QUANTO de R$ 24 a R$ 32
CLASSIFICAÇÃO 12 anos


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