CRÍTICA DRAMA
'Gonzaga' exagera no melodrama e nos clichês
Longa de Breno Silveira sobre a relação do rei do baião com filho acerta no roteiro, mas escorrega no "timing"Estevam Avellar/Globo | ||
Cena do filme "Gonzaga - de Pai para Filho", de Breno Silveira |
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
São dois os eixos de "Gonzaga - De Pai para Filho".O primeiro diz respeito às relações pai e filho. O segundo, à busca e obtenção do sucesso. Nesse sentido, pouco muda de "2 Filhos de Francisco" (2005) para cá.
Mas Breno Silveira avança em seu projeto cinematográfico, ou pelo menos o roteiro se mostra mais inteiro. Trata-se aqui de chamar para o centro da trama as delicadas relações entre Gonzaga e seu filho, Gonzaguinha, ambos compositores célebres.
Desta vez não temos o pai ao mesmo tempo autoritário e protetor de "2 Filhos". Luiz Gonzaga está mais para autoritário e ausente. Em parte por razões profissionais, mas não só. Mas Gonzaguinha ressente-se disso ao longo da vida.
No mais, a mãe morre com tuberculose. A madrasta é madrasta. O pai o coloca num colégio interno e exige-lhe um anel de doutor etc. Gonzaga pai também se ressente: nunca terá certeza de ser de fato o pai dele.
Silveira estica a corda do melodrama até onde é possível: não só força a barra para que o espectador se comova (o uso abundante de música, a fotografia publicitária, tudo tem essa direção), também é preciso que os personagens vivam chorosos.
O que há de melhor vem da estruturação do roteiro, ora em "flash back" (o pai conta sua vida, suas perdas, ao filho que o desconhece), ora na atualidade (o filme situa-se num momento em que Gonzaguinha vai a Exu, Pernambuco, onde vive o pai, então no ostracismo).
É quando o filho busca compreender o pai e empreender uma aproximação que não pode se dar sem a evocação de dores, de parte a parte.
Os maiores problemas vêm do apego excessivo de Silveira ao clichê. Há momentos em que parece disposto a servir-se de todos os existentes, o que tende a aborrecer o espectador, tanto mais que Silveira parece não gostar de fazer uso das elipses.
A deficiência de "timing" torna o filme, por momentos, enormemente enfadonho.
No geral, pode-se pensar num filme que só retém do homem o seu valor de troca: valemos o que ganhamos. O filme parece acreditar na necessidade do sucesso para "ser alguém" mais até do que Gonzaga.
Mais do que exercício de um realismo antiquado, estamos diante de um cinema que se faz postulando o primado do emocional sobre o conhecimento (como a dizer, a exemplo da TV: "Nós sabemos o que acontece; a você cabe sentir").
Agora, claro, todas essas questões desaparecem quando começa a música de Gonzaga: aí o filme entra em estado de graça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário