Justiça?
Quase chego a pensar que as coisas estavam melhores antes de o ministro Joaquim Barbosa entrar em cena
YO ME voy! Sei que a eleição está fervendo e que só faltou o Pedro Bial no debate BBB de quarta-feira. Mas, infelizmente, vou embora. Uma pena.
Como já disse aqui, adoro votar, serei uma velhinha que irá de andador, maca, soro na veia ou seja como for cumprir seu dever cívico.
Só que desta vez vou ter de justificar. Por um motivo muito aborrecido: férias em Nova York. Perderei inclusive a conclusão do julgamento do mensalão, o mais momentoso evento de todos os tempos. Nem mesmo a corrida de bigas de "Ben-Hur" pode superá-lo em espetacularidade.
Os bate-bocas entre os juízes entrarão para os anais. Revivemos Clóvis Bornay e Evandro de Castro Lima, superamos Emilinha Borba e Marlene. Nada se assemelha em intensidade ou, ouso dizer, tensão erótica ao que temos visto.
Bem, ao menos agora a nação rubro-negra e a torcida tricolor (refiro-me aos dois lados do Fla-Flu) poderão descansar e refletir sobre pormenores desprezados em meio à movimentação toda.
Durante a sempre brilhante intervenção da colunista Dora Kramer, na BandNews FM, na tarde da última quarta-feira (que é quando eu também estou no ar), uma pulga veio fustigar-me a orelha.
Dora, jornalista de grande distinção que, além do mais, se serve de um português impecável, comemorava o resultado do julgamento e os frutos que iremos colher. Comemorava o fato de os trabalhos da Corte terem sido captados pela TV e ocorrido diante dos olhos da população. Lamento não reproduzir ipsis litteris, Dora se expressa que é uma "fleece" para os ouvidos. Fora que ela é uma das colunistas políticas mais respeitadas do país.
Mesmo assim, esta mula sem cabeça que vos fala não entendeu direito. E, como naquele dia eu tinha colocado o cabresto de traz para frente, fui obrigada a intervir: "Mas, Dora, que benefício traz assistir ao julgamento dia após dia, se a linguagem usada no STF é tão técnica que um leigo não entende patavina do que é dito?".
Ué, fiz mal? No fim das contas, a Dora, eu e você, ninguém entende o que é dito ali. É como linguagem de sinais para surdos-mudos: a gente acha que está entendendo, que está pescando um pouquinho, mas, quando vai ver, não decifrou nadinha.
É assim o "juridiquês" usado no STF. Porém, no fim do dia, o que fica é aquela impressão de que o indignado relator colocou ordem no galinheiro e o mais cordato revisor não está com nada. Daí chega lá dentro dos aposentos deles e o relator toma bronca dos colegas.
E nenhum de nós se lembra mais de que, lá no comecinho, a defesa teve apenas uma hora para arguir a favor de cada acusado. Uma hora contra semanas e semanas do juiz Joaquim destrinchando ponto por ponto do seu frango de um processo do qual não cabe recurso.
Nós não nos damos conta porque cansamos de corrupção, de malversação do dinheiro público. Peraí. Também cansamos de crime do colarinho branco, não é? Já nem me lembro mais. Confundo porque, pelo que eu tinha entendido, o STF ia julgar as duas coisas separadamente, mas, aos 45' do segundo tempo, embolou tudo, não foi isso?
A Dora terminou dizendo o que o Flu (ou será o Fla?) acha: que de hoje em diante os superadvogados não vão mais poder evitar que seus clientes acabem presos.
Mas vem cá: se para isso foi preciso promover um espetáculo de cunho político com esse grau de desequilíbrio, quase chego a pensar que as coisas estavam melhores antes de o Joaquim subir ao palco.
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