O autor ou autores
RIO DE JANEIRO -
Nos últimos meses, sempre que se mencionou "Avenida Brasil" na imprensa, sua autoria, popularidade e glória foram atribuídas ao roteirista João Emanuel Carneiro. Ele era o autor da novela. A qual teve importantes diretores, cujos nomes, embora saíssem diariamente nos créditos, só eram conhecidos dos profissionais do ra-mo. É como se dá a "teoria do autor" na TV brasileira.
Ao contrário do cinema, cujos críticos e historiadores atribuem a autoria dos filmes aos diretores, na TV isso é privilégio dos roteiristas. Assim, "Roque Santeiro" (1985) era uma novela de Dias Gomes; "Vale Tudo" (1988), de Gilberto Braga; "Mulheres de Areia" (1993), de Ivani Ribeiro; "O Clone" (2001), de Gloria Perez; e "Mulheres Apaixonadas" (2003), de Manoel Carlos. Quem se lembra do nome dos diretores?
Já no cinema, exceto os cinéfilos, quem sabe o nome dos roteiristas de John Ford, Hitchcock, Buñuel, Fellini ou Carlos Manga? O próprio João Emanuel Carneiro (com Marcos Bernstein) foi o roteirista do premiadíssimo "Central do Brasil" (1998). Mas, para a história, este será sempre um filme do diretor Walter Salles.
O que torna o roteirista de novela tão mais importante que o roteirista de cinema? Talvez o fato de, na TV, os capítulos serem escritos pouco antes de ir ao ar e, às vezes, o enredo ou o destino de um personagem ter de mudar segundo solicitações externas. Sem contar que, no tempo da ditadura, o roteirista precisava estar sempre à mão, para adequar a novela às exigências dos homens. Já o filme de cinema só começa a ser rodado depois do roteiro pronto e, a partir daí, apenas o produtor e o diretor apitam.
Falta algo nessa teoria do autor. Não há grande roteiro de novela que sobreviva a um diretor equivocado nem grande filme de cinema que não tenha começado por um grande roteiro.
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