sábado, 27 de outubro de 2012

Vencedor do Jabuti diz que prêmio causou desconforto


Paranaense Oscar Nakasato lamenta votação controversa que selou sua premiação


Vitória do romancista de primeira viagem foi beneficiada por jurado que distribuiu notas baixas para favoritos

MARCO RODRIGO ALMEIDA

DE SÃO PAULO

Oscar Nakasato estava em um supermercado de Apucarana, interior do Paraná, quando recebeu uma ligação informando que era o vencedor do prêmio Jabuti na categoria romance.
O professor universitário paranaense de 49 anos ganhou no dia 18 o mais tradicional prêmio literário do Brasil com seu romance de estreia, "Nihonjin", mas mal teve tempo de comemorar.
Quando chegou em casa, outras ligações, de jornalistas e amigos, já avisavam que estava envolvido em uma grande controvérsia.
"Esse prêmio devia me proporcionar apenas alegria, mas me causou um desconforto muito grande. Em muitos momentos, um desconforto maior que a alegria", diz.
A vitória de Nakasato foi favorecida pelas notas extremamente baixas que um dos jurados, identificado à época apenas como "C", concedeu a alguns dos nomes favoritos, como Ana Maria Machado.
A identidade dos jurados só será conhecida em 28/11, mas aFolha revelou na última quarta que "C" é o crítico e editor Rodrigo Gurgel.
Embora não tenha contrariado o regulamento, Gurgel foi acusado de manipular o resultado para favorecer autores menos conhecidos.
"Essa especulação de que houve manipulação para eu ganhar tem me incomodado além da conta", afirma.
Nakasato diz não conhecer Gurgel. Não leu os livros finalistas, mas acha que "as notas dadas a Ana foram muito estranhas. Se fosse comigo, também acharia estranho".
Ele ainda defende mudanças no regulamento. "Como o júri é pequeno, possibilitou que um jurado tivesse um poder muito grande."
Matuto do interior, como gosta de se definir, Nakasato é daqueles que sempre fazem de tudo para escapar de uma polêmica. Encarar as dezenas de jornalistas que o procuraram depois do anúncio do prêmio foi um tormento ao qual ainda não se acostumou.
Os próximos dias podem trazer mais turbulências. O ganhador da categoria romance é geralmente um dos favoritos ao prêmio de livro do ano, principal do Jabuti.
O vencedor será conhecido no dia 28/11. Se ganhar novamente, já antevê novas entrevistas e questionamentos sobre o resultado.
"Se tivesse ficado apenas entre os dez finalistas, sem ter ganhado, talvez tivesse sido melhor", imagina.
PERCALÇOS
Até chegar ao centro da polêmica no Jabuti, o romance de Nakasato passou por uma série de percalços.
"Nihonjin" nasceu da pesquisa de doutorado do escritor sobre personagens nipo-brasileiros na literatura nacional. Não achou mais que 15, quase todos secundários às tramas, estereotipados e com pouca profundidade.
Frustrado, resolveu em 2002 contar a saga de imigrantes japoneses que chegaram ao Brasil no começo do século 20.
Embora sua própria família seja um exemplo -os avós de Nakasato chegaram a São Paulo em 1913-, ele garante que quase nada há de autobiográfico no romance.
Nakasato dedicou quatro anos ao projeto. Outros quatro passou tentando publicar o livro. Não lembra o número exato, mas diz ter sido recusado por todas as grandes editoras do país.
A sorte mudou em 2010, ao vencer o Prêmio Benvirá. O júri era composto por Ana Maria Martins, Nelson de Oliveira e José Luiz Goldfarb, curador do Jabuti. Nakasato ganhou R$ 30 mil e viu seu livro finalmente publicado.
"No romance, destaca-se a competente reconstrução histórica, numa linguagem transparente, sem afetação", disse Oliveira àFolha.
Até a publicação do título, ele era autor de alguns contos e levava uma vida tranquila como professor de literatura na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, em Apucarana, onde vive há cinco anos.
Nakasato reconhece a visibilidade que o Jabuti traz para para um autor desconhecido, mas, se pudesse, transferiria a atenção para seus livros e permaneceria "bem quietinho no meu canto".
Enquanto não pode, prepara sem pressa o próximo romance. De prêmios, não quer saber por enquanto.

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