MARCOS CINTRA
A César o que é de César
O tempo vai reabilitar a gestão Kassab, tão mal avaliada hoje. Brasileiro quer prefeito obreiro, eleitoreiro. No futuro, veremos o legado duradouro de Kassab
A gestão Kassab não deve ser avaliada exclusivamente com base em critérios de consumo imediato. Seu sofrível desempenho na avaliação popular será reabilitado em futuro próximo, quando com certeza sua administração passará a ser lembrada com mais benevolência.
Há duas variáveis fundamentais na avaliação de um gestor público: a expectativa dos eleitores e a concepção do próprio gestor em relação à sua missão.
Os brasileiros apreciam administrações com altas taxas de investimentos em obras. Gestões "obreiras", que inflam investimentos (realizando o sonho das empreiteiras), em geral recebem boas avaliações populares, ainda que façam minguar salários dos servidores públicos e outros gastos de custeio e manutenção.
O segundo elemento a ser considerado é a percepção do prefeito Kassab acerca de sua própria missão. Houve uma clara opção por uma cidade com adequada estrutura funcional, na qual os equipamentos existentes funcionem com qualidade e de forma permanente, equilibrada e uniforme, em detrimento de investimentos em obras.
Aplicando esses conceitos na avaliação da gestão Kassab é fácil concluir que não houve uma gestão populista cuja meta seria o atendimento dos desejos de curto prazo da população, com a resultante retribuição eleitoral imediata. De fato, aquela gestão investiu moderadamente em obras (ainda que tenha sido a única a investir no metrô desde Olavo Setubal). Investiu cerca de 9,5% das receitas municipais, ao passo que a gestão "obreira" de Maluf, por exemplo, investiu mais de 30%.
Mas por outro lado Kassab ampliou recursos no custeio e na manutenção dos serviços públicos essenciais visando aprimorar a qualidade dos mesmos. Os gastos correntes com manutenção, custeio e funcionamento da máquina pública, excluindo despesas com pessoal e dívida pública, passaram de 39% em 2004 para 53% em 2011 em relação à receita orçamentária.
Acredito que o cidadão paulistano concorda que a cidade está mais bem cuidada e que os serviços públicos funcionam com mais eficiência do que no passado.
A qualidade da educação melhorou, os salários do funcionalismo foram valorizados, hospitais e equipamentos de saúde são geridos pelas melhores instituições privadas do país. As escolas e creches estão bem instaladas e equipadas, o Cidade Limpa teve sucesso reconhecido mundialmente e as maiores favelas da cidade foram urbanizadas.
Na saúde, destaca-se o aumento de mais de 70% das equipes do programa Saúde da Família em sete anos. O número de médicos saltou de 8.606 em 2004 para os atuais 14.294. Foi publicado o edital para a maior parceira público-privada para hospitais na América Latina.
Na educação, destacam-se a ampliação da carga horária das aulas e a substituição de 159 salas de lata, onde estudavam 75 mil crianças há sete anos. Entre 2005 e 2012, o salário dos professores com nível universitário aumentou 114% e as vagas em creches cresceram de 60 mil para 210 mil. Foram reformados, desde 2005, nove teatros e 38 bibliotecas.
Kassab ainda deu concretude a projetos fundamentais para a cidade, como a abertura da Copa, a candidatura para sediar a Expo 2020 (exposição global de projetos urbanos), a construção do maior e mais moderno centro de convenções e exposições do mundo em Pirituba e a estruturação de operações urbanas como Nova Luz, Rio Verde-Jacú e outras.
Houve ainda o início efetivo do plano desenvolvimento da zona leste, com concessões de benefícios fiscais e o início da construção do Polo Institucional e Tecnológico de Itaquera. Kassab deu também início à renegociação da dívida municipal com o governo federal
Kassab pensou na cidade em longo prazo, de forma estruturante, e não imediatista e conjuntural. Não buscou aplauso imediato, mas o reconhecimento duradouro de haver colaborado na construção de uma cidade moderna e eficiente para as futuras gerações de paulistanos.
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