CARLOS HEITOR CONY
O rei e o povo
RIO DE JANEIRO - Alienação é isso aí. Coerente com a minha incoerência, não tomei conhecimento da recente eleição presidencial nos Estados Unidos. Não torci por ninguém nem me alegrei com a vitória de um dos candidatos, que me parece ter sido do agrado da mídia nacional.Alguns leitores reclamaram por eu não ter escrito uma única linha sobre o assunto e tenho motivos para isso. Meu desprezo pela democracia representativa é cada vez maior. Devido à faixa etária, não voto nem votava antes, quando era obrigado a isso.
Cumpria o chamado dever cívico indo até a cabine, mas votava em branco. Sempre que há oportunidade, clamo por uma reunião dos maiores gênios da humanidade em todos os setores da humana lida. Tentariam descobrir uma fórmula para exercer a democracia sem necessidade de campanhas e financiamentos. Qualquer solução seria lucro, desde que mantida a liberdade política, ideológica e física dos cidadãos.
A representatividade é comprada ou imposta pelas camadas mais fortes da sociedade. Seja pela vil moeda, seja pela força. Há ditadores que se reelegem com 99% dos votos.
No último filme da dupla o Gordo e o Magro, depois de muita trapalhada, os dois se apoderam de uma ilha deserta e inútil no meio do oceano. Majestoso como sempre, o Gordo se proclama rei, primeiro e único daquele território esquecido pela história e pela geografia.
Com aquela cara de choro que era sua marca, o Magro cutuca o rei e pergunta o que ele, Magro, vai ser naquele reino abandonado. Com um gesto soberano, apontando o dedo para o peito do companheiro, o Gordo decreta: "Você será o povo!".
Não havia nenhum eleitor para referendar a distribuição dos cargos. Mas se houvesse, o mais forte seria o rei e o mais fraco seria o povo.
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