Mariana Peixoto
Estado de Minas: 23/11/2012
Vale a pena ver de novo? E de novo? E de novo? O filme Nosso lar (2010) será exibido de amanhã a 17 de dezembro oito vezes nos canais Fox e Fox NatGeo HD; Houve uma vez dois verões (2002), de amanhã a 15 de dezembro, sete vezes nos canais Sony, AXN (e suas versões HD) e Sony Spin, com algumas exibições em canais diferentes no mesmo dia; e Xuxa abracadabra (2003), exibido ontem à noite, ganha nova sessão hoje, no fim da tarde, no Warner. Não é preciso ser telespectador superatento para perceber que, de uns tempos para cá, a produção cinematográfica brasileira tem aparecido com mais frequência (e um excesso de reprises, como nos exemplos acima) em canais que, até então, pouco ou nada exibiam de programação nacional.
Isso nada mais é do que reflexo da Lei 12.485/11 (a chamada nova lei de TV a cabo), que regulamenta o setor de TV por assinatura e que passou a vigorar em setembro. Pela lei, as emissoras de TV por assinatura deverão exibir cotas semanais de conteúdo nacional no horário nobre (entre 18h e 0h). Procurados pela reportagem, os canais não deram declarações sobre o assunto.
Para cumprir as cotas de empacotamento previstas em lei, um terço daqueles oferecidos em cada pacote terá que ser de canais brasileiros de espaço qualificado. Canais classificados como “superbrasileiros” (com, no mínimo, 12 horas de conteúdo nacional produzido por produtores independentes) passaram a figurar em todos os pacotes de diversas operadoras de TV paga. Alguns, inclusive, são também “supernovos”. Um dos caçulas do time leva o nome de Curta!. No ar desde o dia 1º, está disponível para 9,6 milhões de assinantes (à exceção da Sky, está sendo distribuído em todas as outras operadoras de TV paga).
Preliminares
O nome é autoexplicativo, mas não limitador. Além de curtas-metragens (o canal nasceu em decorrência do Porta Curtas, portal que reúne no acervo 7,7 mil produções catalogadas e 1 mil filmes para serem assistidos on-line), o Curta! vai também exibir médias e longas, tanto de ficção quanto documentais. “Tivemos que entrar no ar de um dia para o outro, então, agora, estamos exibindo uma programação preliminar. Cento e oitenta curtas já estão pré-contratados, mas ainda não conseguimos a estrutura para apresentá-los como queríamos”, afirma o diretor do canal, Julio Worcman.
O conteúdo que será exibido vai ser selecionado por um comitê de programação. A ideia é, também, levar os próprios realizadores para a frente da tela. “É um canal que não vai ter apresentador. Quem abordará os filmes e programas serão pessoas que atuam naquele universo, curadores e realizadores. Um cineasta, por exemplo, apresentará seu próprio longa. Curadores de festivais vão fazer seleções de filmes para o canal.” Por lei, o Curta! é obrigado a exibir 12 horas diárias de conteúdo nacional e independente. “Nesse primeiro momento, vamos exibir conteúdo licenciado”, continua Worcman. Mais pra frente, o canal vai exibir produções inéditas.
A cadeia produtiva
Com tudo isso, entra em ação o outro vértice da cadeia que tem ganhado muito com a mudança na lei e a criação de cotas: a produção. A demanda, é inegável, cresceu substancialmente no último ano. A produtora mineira Camisa Listrada, até então mais envolvida com projetos dedicados ao cinema, criou recentemente núcleo de TV. Sua primeira produção é Expedições Burle Marx, série de quatro episódios dirigida por João Vargas Penna sobre as incursões do paisagista e artista plástico pelo país. A série está sendo produzida para a TV Brasil. “Esse produto faz parte dessa nova política audiovisual. Esse é o primeiro, mas já temos outros três projetos para serem desenvolvidos”, afirma o produtor André Carrera.
A série sobre Burle Marx está sendo desenvolvida com verba do chamado Fundo Setorial do Audiovisual. “Para você conseguir a primeira licença da Agência Nacional de Cinema (Ancine), já tem que ter negociado o projeto com um canal de TV”, continua Carrera. Também por causa da nova lei da TV paga, o catálogo de filmes da Camisa Listrada está sendo vendido para outros canais (até então, seus filmes foram vendidos para o Canal Brasil, TV Brasil, TV Câmara e Sesc TV). “Nos últimos dois meses, recebi proposta de um canal para licenciar todo o meu acervo para exibição. Estou estudando ainda propostas isoladas”, acrescenta Carrera.
Sócia da Quimera Filmes, produtora de Helvécio Ratton, Simone Magalhães Matos comenta sobre o aquecimento do mercado em decorrência da nova lei. “A partir de Belo Horizonte é complicado fazer esse contato. Quem comercializa os filmes são as distribuidoras, que estão de olho na nova demanda de mercado, ampliando suas carteiras e ficando mais agressivas nesse setor. Estou conversando com um distribuidor paulista, que está querendo representar todos os filmes da Quimera”, explica ela. Simone comenta que cada venda de filme é realizada por um prazo e um número de exibições prevista por contrato. “O que venho sentindo é que os novos contratos estão aumentando o número de exibições e o prazo de licença (a média era de dois anos e oito exibições). É uma forma de os canais se protegerem e cumprirem a cota”, acrescenta. Recentemente, ela vendeu o filme Pequenas histórias (2007) para oito exibições em 36 meses, para a TV Aparecida, do interior de São Paulo.
Maior produção, mais interesse
A programação nacional está em destaque até em espaços que não entram na obrigatoriedade prevista por lei. O NOW, serviço de TV sob demanda da Net, maior operadora de TV paga do país, está oferecendo ao assinante grande oferta de longas-metragens brasileiros. Em torno de 100 filmes de sucesso recentes, como O palhaço e E aí, comeu?, a clássicos da cinematografia nacional, como Todas as mulheres do mundo (1967), e até as populares pornochanchadas dos anos 1970 (um dos destaques é o filme As massagistas, de 1976). “A nova lei não influencia no conteúdo do video on demand, mas acreditamos que como tem aumentado a produção de conteúdo nacional por meio das cotas, aumentará também o interesse”, afirma Alessandro Maluf, gerente de produto da operadora.
Isso nada mais é do que reflexo da Lei 12.485/11 (a chamada nova lei de TV a cabo), que regulamenta o setor de TV por assinatura e que passou a vigorar em setembro. Pela lei, as emissoras de TV por assinatura deverão exibir cotas semanais de conteúdo nacional no horário nobre (entre 18h e 0h). Procurados pela reportagem, os canais não deram declarações sobre o assunto.
Para cumprir as cotas de empacotamento previstas em lei, um terço daqueles oferecidos em cada pacote terá que ser de canais brasileiros de espaço qualificado. Canais classificados como “superbrasileiros” (com, no mínimo, 12 horas de conteúdo nacional produzido por produtores independentes) passaram a figurar em todos os pacotes de diversas operadoras de TV paga. Alguns, inclusive, são também “supernovos”. Um dos caçulas do time leva o nome de Curta!. No ar desde o dia 1º, está disponível para 9,6 milhões de assinantes (à exceção da Sky, está sendo distribuído em todas as outras operadoras de TV paga).
Preliminares
O nome é autoexplicativo, mas não limitador. Além de curtas-metragens (o canal nasceu em decorrência do Porta Curtas, portal que reúne no acervo 7,7 mil produções catalogadas e 1 mil filmes para serem assistidos on-line), o Curta! vai também exibir médias e longas, tanto de ficção quanto documentais. “Tivemos que entrar no ar de um dia para o outro, então, agora, estamos exibindo uma programação preliminar. Cento e oitenta curtas já estão pré-contratados, mas ainda não conseguimos a estrutura para apresentá-los como queríamos”, afirma o diretor do canal, Julio Worcman.
O conteúdo que será exibido vai ser selecionado por um comitê de programação. A ideia é, também, levar os próprios realizadores para a frente da tela. “É um canal que não vai ter apresentador. Quem abordará os filmes e programas serão pessoas que atuam naquele universo, curadores e realizadores. Um cineasta, por exemplo, apresentará seu próprio longa. Curadores de festivais vão fazer seleções de filmes para o canal.” Por lei, o Curta! é obrigado a exibir 12 horas diárias de conteúdo nacional e independente. “Nesse primeiro momento, vamos exibir conteúdo licenciado”, continua Worcman. Mais pra frente, o canal vai exibir produções inéditas.
A cadeia produtiva
Com tudo isso, entra em ação o outro vértice da cadeia que tem ganhado muito com a mudança na lei e a criação de cotas: a produção. A demanda, é inegável, cresceu substancialmente no último ano. A produtora mineira Camisa Listrada, até então mais envolvida com projetos dedicados ao cinema, criou recentemente núcleo de TV. Sua primeira produção é Expedições Burle Marx, série de quatro episódios dirigida por João Vargas Penna sobre as incursões do paisagista e artista plástico pelo país. A série está sendo produzida para a TV Brasil. “Esse produto faz parte dessa nova política audiovisual. Esse é o primeiro, mas já temos outros três projetos para serem desenvolvidos”, afirma o produtor André Carrera.
A série sobre Burle Marx está sendo desenvolvida com verba do chamado Fundo Setorial do Audiovisual. “Para você conseguir a primeira licença da Agência Nacional de Cinema (Ancine), já tem que ter negociado o projeto com um canal de TV”, continua Carrera. Também por causa da nova lei da TV paga, o catálogo de filmes da Camisa Listrada está sendo vendido para outros canais (até então, seus filmes foram vendidos para o Canal Brasil, TV Brasil, TV Câmara e Sesc TV). “Nos últimos dois meses, recebi proposta de um canal para licenciar todo o meu acervo para exibição. Estou estudando ainda propostas isoladas”, acrescenta Carrera.
Sócia da Quimera Filmes, produtora de Helvécio Ratton, Simone Magalhães Matos comenta sobre o aquecimento do mercado em decorrência da nova lei. “A partir de Belo Horizonte é complicado fazer esse contato. Quem comercializa os filmes são as distribuidoras, que estão de olho na nova demanda de mercado, ampliando suas carteiras e ficando mais agressivas nesse setor. Estou conversando com um distribuidor paulista, que está querendo representar todos os filmes da Quimera”, explica ela. Simone comenta que cada venda de filme é realizada por um prazo e um número de exibições prevista por contrato. “O que venho sentindo é que os novos contratos estão aumentando o número de exibições e o prazo de licença (a média era de dois anos e oito exibições). É uma forma de os canais se protegerem e cumprirem a cota”, acrescenta. Recentemente, ela vendeu o filme Pequenas histórias (2007) para oito exibições em 36 meses, para a TV Aparecida, do interior de São Paulo.
Maior produção, mais interesse
A programação nacional está em destaque até em espaços que não entram na obrigatoriedade prevista por lei. O NOW, serviço de TV sob demanda da Net, maior operadora de TV paga do país, está oferecendo ao assinante grande oferta de longas-metragens brasileiros. Em torno de 100 filmes de sucesso recentes, como O palhaço e E aí, comeu?, a clássicos da cinematografia nacional, como Todas as mulheres do mundo (1967), e até as populares pornochanchadas dos anos 1970 (um dos destaques é o filme As massagistas, de 1976). “A nova lei não influencia no conteúdo do video on demand, mas acreditamos que como tem aumentado a produção de conteúdo nacional por meio das cotas, aumentará também o interesse”, afirma Alessandro Maluf, gerente de produto da operadora.
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