Atores héteros sabiam que a doença era mais comum entre gays e viciados em drogas, mas quem filmava se preocupava
Estúdios passaram a filmar cenas somente com preservativo, mas a prática caiu após uma clínica acelerar testes
Holly, a filha, também faz parte do negócio. No mês passado, ela dirigiu um filme pornográfico na remota fazenda da família nas montanhas acima de Malibu.
Eles se lembram da torrente de medo quando os artistas começaram a morrer de Aids na década de 1980.
"Era de petrificar", disse Randall. "Você não quer ser o responsável por alguém fazer amor e depois sofrer com uma morte demorada. A doença acabou com a graça da coisa."
O primeiro teste para Aids foi lançado em 1985 e o setor o adotou, mas não com muita eficácia.
"A gente tinha o 'Furgão do Sangue' na escolha do elenco", contou Knipe. "Era uma ambulância que tirava sangue, mas o resultado só saía depois de duas semanas."
Para piorar, os primeiros testes eram para anticorpos do vírus que só se desenvolviam meses após a contaminação.
HETEROSSEXUAIS
Os atores heterossexuais sabiam que a doença era mais comum entre homens gays e viciados em drogas, mas quem fazia filmes gays e heterossexuais os preocupava. John C. Holmes, por exemplo, o mais famoso ator daquela época, também fez filmes gays. Ele teve a aids diagnosticada em 1985, murchou até pesar 40 quilos e morreu três anos mais tarde.
"Éramos um setor pequeno e fofoqueiro", disse Knipe. "Quando se ficava sabendo que um cara era bi ou tomava drogas, nenhuma garota trabalhava com o sujeito."
Alguns produtores, entre eles o casal, pararam de filmar cenas de penetração.
Alguns atores mudaram de hábito.
Nina Hartley, enfermeira diplomada e atriz desde 1984, disse que não deixa um ator ejacular dentro dela desde 1986. "Simplesmente é arriscado demais", declarou.
Os filmes pornôs costumam terminar com ejaculação sobre a atriz; embora as feministas considerem isso aviltante, para Hartley, esse "recurso" salvou dezenas de vidas entre 1984, quando a Aids passou a fazer parte do cenário, e 1998, quando foi imposto o teste regulamentado pelo setor.
Naquele ano, 1998, aconteceu o maior escândalo da área. Até então, os produtores aceitavam resultados de testes no papel de muitos médicos. Então, uma mulher após a outra começou receber testes positivos para o HIV. Sharon Mitchell, ex-atriz com doutorado em sexualidade humana e capacitada a coletar amostras de sangue, foi contratada pelo setor para investigar o caso. Ela descobriu que as oito mulheres tinham feito cenas de sexo anal com o ator Marc Wallice, com quem a própria Mitchell já havia trabalhado.
Durante entrevista, ela contou que fez os produtores de Wallice o atraírem a sua sala com uma oferta de US$ 10 mil. "Então, nós praticamente o sequestramos e eu tirei o sangue dele. O resultado chegou com uma carga viral muito alta."
Durante coletiva de imprensa na clínica Adult Industry Medical, em Sherman Oaks, Califórnia, aberta por ela com o apoio do setor, ela apontou Wallice como o provável "paciente zero".
RESULTADO ALTERADO
Em entrevistas dadas na época a publicações ligadas ao entretenimento adulto, Wallice negou acusações de haver mudado o resultado positivo de uma clínica obscura de Burbank para negativo.
Os estúdios passaram a filmar cenas somente com preservativo, mas a prática caiu quando a clínica de Mitchell acelerou os testes.
O consultório chegou a fazer 1.200 exames por mês e contava com um banco de dados que poderia ser consultado pelos produtores.
Ela se recorda de haver examinado Darren James, em 2004, após este ter filmado no Brasil e, novamente, 26 dias mais tarde. O primeiro teste deu negativo, mas segundo Mitchell, o ator não parecia bem.
"Eu pedi para ele parar de trabalhar, mas ele ejaculou dentro de 13 mulheres. Quando soube disso, logo vi que entre três e cinco delas testariam positivo, e três estavam infectadas."
Foram as últimas transmissões confirmadas no setor. Desde então, James apoiou a campanha para tornar as camisinhas obrigatórias nos sets de filmes pornográficos.
Então, no ano passado, o banco de dados da clínica foi invadido por hackers; os registros médicos, nomes e endereços de centenas de artistas foram publicados na internet, provocando um furor. Os atores ameaçaram processos por invasão de privacidade e o Estado determinou que Mitchell obtivesse um novo alvará para a clínica. Em vez disso, ela a fechou.
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