sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Ex-juiz Garzón procura se reinventar após condenação


Suspenso, magistrado espanhol diz à Folha que vai continuar 'lutando'
Famoso por processos como o contra Pinochet, ele agora assessora os governos de Equador e Colômbia e o WikiLeaks
MARÍA MARTÍNCOLABORAÇÃO PARA A FOLHA"Quem pensaria que minha família ia estar mais tranquila antes que agora?".
O ex-juiz espanhol Baltasar Garzón, 57, sorri após enumerar a enorme lista de tarefas pouco comuns da sua agenda desde que foi suspenso pela Justiça espanhola, em fevereiro deste ano (leia texto ao lado).
Entre elas, está a defesa do líder de WikiLeaks e inimigo público dos EUA Julian Assange, ainda refugiado na embaixada do Equador em Londres, ou a supervisão da renovação do sistema judicial no Equador.
Cada uma em um lugar do globo, mas poucas na Espanha, onde há nove meses é difícil encontrá-lo.
Os vínculos do ex-juiz são especialmente fortes na Colômbia, onde dirige um programa de entrevistas, assessora a Promotoria na investigação de crimes e colabora com os indígenas do vale do Cauca, em conflito com o governo pela presença em seu território tanto da guerrilha das Farc como do Exercito.
Garzón, que já qualificou de "valente" a decisão do presidente Juan Manuel Santos de iniciar conversações com as Farc, insistiu na ideia de que o colombiano "quer realmente a paz".
O processo contra Garzón, condenado a 11 anos de inabilitação, dividiu a sociedade espanhola e provocou protestos em várias partes do mundo -o Ministério de Exteriores enviou aos embaixadores um memorial para que defendessem a sentença nos países em que servem-, mas ainda nenhuma outra corte revogou a condenação.
Sente-se derrubado? "Ainda não, sigo lutando. Mas está claro que me foderam," reconhece Garzón à Folha durante um almoço na 15ª Conferencia Internacional Anticorrupção, celebrada no início do mês em Brasília.
Na Espanha, o magistrado, responsável por processos contra terroristas, ditadores (entre eles o chileno Augusto Pinochet), redes de narcotráfico e de lavagem de dinheiro, perdeu a escolta.
SEM SALÁRIO
A decisão enfureceu o juiz. Na Espanha, lembra ele, até alguns vereadores vivem acompanhados de guarda-costas, herança de cinco décadas de convivência com o grupo terrorista basco ETA.
A vida do ex-juiz, que dirige uma fundação que leva seu nome, mudou até nas questões mais práticas.
Ele, por exemplo, perdeu seu salário -a defesa de Assange não é remunerada- e diz que passou a controlar mais rigidamente suas despesas, mesmo trabalhando "mais que nunca".
A nova rotina inclui ameaças recebidas, que ele não revela de quem.
O ex-juiz reivindica que a "perseguição política" de Assange por parte dos EUA é "um ataque massivo à liberdade de expressão".
"E eu sei que falando isso ganho mais inimigos naquela parte norte do mundo". Mas, vista a trajetória do ex-juiz, para ele, o inimigo quanto maior, melhor.

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