sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Barbara Gancia


Inteligência de Alckmin vai mal?
Até entendo o governador minimizar os fatos com a intenção de preservar a população de São Paulo
Até um tailleurzinho de manga três quartos mandei fazer, cren­te de que ia ser convidada para a posse no STF. Se a Dilma abafa com aquela manguinha pelo meio do braço, eu, que tenho seu porte e a mesma postura de leão de chácara, também poderia botar pa­ra quebrar, não?
Mas o tailleur acabou ficando lá, jogado na poltrona do quarto. Joa­quim Batman não me chamou para sua festa, ontem, em Brasília.
Algo me diz que a Soninha Franci­ne, o Luiz Flávio D' Urso e o João Dória, essa gente que está sempre do lado certo, foi lá fazer pose. Não? Bem, então outros foram, a lista de celebridades convidadas era quilo­métrica, que eu fiquei sabendo.
Agora, falando sério, o que eu que­ro saber é: Mano Brown foi? O cria­dor do Museu Afro Brasil, Emanoel Araujo, foi? Duvido. Mes­mo que tivessem sido convidados, teriam tido dificuldades de chegar a Brasília a tempo.
Está duro se locomover em Sam­pa. E não é o trânsito. Anda difícil conviver diariamente com ônibus queimados, toque de recolher (mesmo inexistentes), com uma guerra chamada de silenciosa nos Jardins, mas bem ruidosa na perifa.
Algumas vítimas desse confronto morreram alvejados por grupos de extermínio, outras por vingança contra a Rota, outras na briga entre as polícias Militar e Civil, que já dura quase tanto tempo quanto a dis­puta pela Faixa de Gaza, e tem ain­da aqueles que estão morrendo porque convém aproveitar a oca­sião e encaixar desafetos em qual­quer uma dessas modalidades.
Números: 400 policiais deram baixa, 96 morreram em um mês, um comandante da Rota foi exone­rado durante a eleição e um secre­tário da Segurança foi posto no olho da rua. São dados realmente intri­gantes diante da insistência do go­vernador Geraldo Alckmin de que não há crise na Segurança ou de que o PCC constitua ameaça.
A criminalidade de fato parecia estar sob controle. O desequilíbrio recente deve indicar que o uso da truculência só resolve no curto prazo. Ajuda ter feito uma limpa na corrupção policial? Sem dúvida. Palmas também pelo investimento em informatização (é o mínimo).
Mas o que dizer do basicão? Veja só: estive em Nova York durante o furacão Sandy. Não havia meio de carregar o meu iPhone, e olha que eu circulei em total liberdade, para cima e para baixo, mesmo em locais onde havia luz. Mas o preso no Es­tado de São Paulo consegue carre­gar e ainda dar golpe pelo celular a partir do presídio. É um show!
Os funcionários são corrompí­veis? Que se faça outro tipo de sele­ção, pagando outro salário, dando outro treinamento, com outra fis­calização. Será possível, meu são Joaquim Barbosa da Bat Caverna? Uma coisa tão simples?
Na pior hi­pótese, que se contratem proctolo­gistas 24 horas para cada presídio, sei lá! O que não dá mais é o governo federal priorizar a sua politicagem como a ajuda papo furado prometi­da pelo ministro da Justiça (tem até uma conversa de uma mala de um zilhão de dólares que resolveria o problema do bloqueio do celular) e o nosso governador sempre colocar como prioridade seu projeto políti­co pessoal.
Na repercussão à mudança de secretário da Segurança, ontem, neste mesmo caderno, os próprios oficiais que ocupam ou ocuparam cargos importantes dentro da polícia lamentaram a escolha do sucessor de Ferreira Pinto, dizendo que ele será um estranho no ninho. Ou se­ja, algo está muito errado e vai levar tempo para se resolver.
Até consigo entender que o gover­nador minimize os acontecimen­tos com a intenção de não alarmar a população. Mas sabe que às vezes tenho impressão de que ele real­mente não tem a menor ideia do que está acontecendo?

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