domingo, 11 de novembro de 2012

PERFIL: Eduardo Leite


 PREFEITO QUE FICOU CÉLEBRE
POR EXIBIR SEU TORSO NU NA
INTERNET QUER COMO ALIADA
A FAMA GAY DE PELOTAS





MAIÁ MENEZES
maia.menezes@oglobo.com.br


Incógnito na profusão de políticos que desbravaram as ruas do país atrás de votos, nas últimas eleições, Eduardo Leite (PSDB), de 27 anos, alçou voo nacional uma semana depois de escolhido prefeito de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Protagonista inconformado do frisson digital causado pela publicação, na web, de uma foto sua, sem camisa, tomando chimarrão, Dudu, como é chamado em família, já tem fan page, não para de ser perguntado sobre o assunto e ganhou a alcunha de “prefeito perfeito”. A boa notícia para seus eleitores: vai, duas vezes por mês, abrir seu gabinete para receber pelotenses. Aviso: exclusivamente para ouvir e falar sobre questões da cidade.

No momento da foto, retirada do Facebookantes da eleição, Eduardo estudava para um concurso do Senado, jura. Era, segundo ele, o dia mais quente em Pelotas em cerca de 40 anos. Os amigos o convidaram para sair, ele disse que não, uma amiga passou para conversar, e ele se deixou fotografar. Do que se arrepende? De ter postado a foto.

— Eu decidi tirar (da rede social) porque expunha demais o corpo. Apesar de não achar nada de mais. A questão é que, depois que entra lá, a imagem não é mais nossa — lamenta.

Ali está o resultado de um investimento que o prefeito eleito começou a fazer no ano passado, quando procurou uma nutricionista, em busca de equilíbrio alimentar. Preocupação com a saúde, não com a estética, ressalva.

A dieta foi interrompida na campanha, mas os 30 minutos de corrida diários foram substituídos por caminhadas de até cinco horas ao lado de aliados. O chocolate ele só se permitiu no dia do último debate com seu adversário, o petista Fernando Marroni.


A vida mais reservada que a política agora impõe é o ônus por uma conquista que ele vem perseguindo desde a infância. Aos 7 anos, lembra o pai, José Luis Marasco Cavalheiro Leite, Dudu via programa eleitoral como se fosse desenho animado. Foi presidente do grêmio da escola e, na campanha para o cargo, ensaiava o talento que depois levou para as telas da TV gaúcha este ano, nos 12 minutos de programa eleitoral: com um amigo, Nede Santana Jr., seu vice na eleição do Grêmio, estrelava o programa de entrevistas “Nedu na minha casa”. Eduardo, que fazia teatro e danças tradicionais gaúchas, ficou popular entre os alunos ao propor um modelo de uniforme mais moderno, igual para meninos e meninas.

— Ele era um grande organizador de festas de garagem na campanha para o grêmio. Nós éramos os DJs — lembra Nede, hoje assessor do gabinete de Eduardo.

Dudu chegou a estudar saxofone, dos 14 aos 18 anos, mas, apaixonado por samba, se desenrola bem no acordeom e no banjo, nas apresentações com a banda da família.

— É uma banda para consumo interno — diz o prefeito, que está solteiro “no momento”. Teatro, TV, festas, nada preparava Eduardo para a vida de celebridade pós-eleitoral.

— Eu disse que iria mudar inteiramente a vida dele, que ele teria que abdicar dessa fase da juventude, em que se pode cometer excessos. A história da foto é uma demonstração disso. Uma coisa que um jovem faria normalmente, ele não pode mais — sentencia o pai.

— Esse desgaste me deixou apreensiva. Não gosto de exposição — completa a mãe, a cientista política Rosa Eliana de Figueiredo.

Mesmo sem a foto do prefeito eleito descamisado, em uma semana a fan page “50 tons de Eduardo Leite” recebeu 1.300 curtidas. É fruto de uma brincadeira: dez mulheres na faixa dos 30 viram uma foto dele com terno e gravata cinza e começaram um lobby pró-Dudu como protagonista do filme “50 tons de cinza”, inspirado no livro.

— Estamos providenciando um presente para ele, que tem sido simpático com nosso assédio — tieta Graziela Silva, de 31 anos, corretora de seguros de São Bernardo do Campo. A vice Paula Mascarenhas prefere capitalizar a popularidade de outra forma:

— Mal terminou a campanha, e ele virou um sucesso nacional. Então eu disse: vamos fazer do limão uma limonada. Estão dizendo que ele é bonito. E é verdade. Pelo menos os olhares estão voltados para cá. De repente a gente bota Pelotas no cenário nacional.

Lidar com o estigma da cidade, ele já tira de letra. Alvo de estudo acadêmico, a propalada fama de cidade gay começou no final do século XIX, quando os charqueadores locais, riquíssimos, enviavam os filhos para estudar em Paris. Os então rústicos gaúchos voltavam refinados, com novo jeito de vestir e se comportar socialmente. Eram taxados de efeminados. Criava-se ali a lenda urbana. Pesquisa do IBGE, de junho do ano passado, mostra Pelotas, conhecida como Princesa do Sul, em 252º lugar no ranking de cidades do país mais escolhidas por casais gays para viver. Eduardo é categórico: vai usar a fama para atrair turistas.

— Combater a fama de Pelotas seria homofobia. Isso não é ofensa. Pode ser aproveitado, com projetos turísticos. É um público que faz um turismo rentável — diz.






Nenhum comentário:

Postar um comentário