IMAGINAÇÃO
prosa, poesia e tradução
Fim de semana
Cena 8
Mulher - Desculpas, desculpas, mil vezes desculpas.
Homem 2 - Você não tem absolutamente nada do que se desculpar.
Mulher - Que gostoso este suco.
Homem 2 - É bacuri.
Mulher - Deslumbrante. A gente pode falar isso de um suco? Deslumbrante?
Homem 2 - Deslumbrante é você. Deslumbrante!...
Homem 1 - Cuidado que o marido dela é atirador de facas!
Mulher - Eu não me alimentei direito, eu não dormi direito... A vida de uma mulher do atirador de facas de circo não é nada fácil.
Homem 1 - A vida de um caixa de pedágio também não é nada fácil.
Menino - A vida de um atirador de facas é fácil, é muito fácil, é só treinar bastante.
Homem 2 - Está melhor?
Mulher - Pra eu melhorar mesmo só se eu for pro Japão!
Homem 2 - Você está toda roxa...
Mulher - Eu caí. Eu tenho labirintite.
Menino - Meu pai brigou com minha mãe porque ele bebeu cerveja. Minha mãe odeia cerveja e cigarro, não é, mamãe?
Homem 2 - Se vocês quiserem descansar, eu moro logo ali.
Mulher - Imagina, nós precisamos mesmo ir. Como eu disse, hoje temos apresentação. O show não pode parar.
Homem 1 - É muito bonito o circo de vocês.
Mulher - Não é nosso, nós somos apenas os artistas. Nós precisamos muito dele.
Homem 2 - Apenas? Não é o circo que faz os artistas e sim os artistas que fazem o circo!
Mulher - (Sorri.) Vocês não me deram os desejos. (Todos entregam os papéis pra ela.) Serão devidamente amarrados nos bambus e queimados no ritual. As estrelas apaixonadas atenderão, mas só se vierem do fundo, bem do fundo do coração. Eu estava aqui, olhando para este pasto onde os cavalos correm nos finais de semana e levam as crianças de domingo para a liberdade, para a alegria... Nós passamos bilhões, trilhões de anos sendo pó de estrela. E nesses poucos anos tão frágeis que passamos aqui, neste planeta perdido nesta galáxia gigantesca, perdemos o pouco tempo que nos resta hipnotizados com as ilusões de felicidade que o ego da nossa insignificante existência cria. Talvez a vida também seja uma ilusão. Uma doce ilusão. Realmente chegou nossa hora. Foi um prazer inesquecível conhecê-los, cavalheiros. O dever nos chama. Eu espero vocês no circo. Vamos lá, fazer de cada dia uma obra-prima! Arigatô.
Menino - Arigatô.
Homem 2 - Nenhuma existência é insignificante. (Pega os balões.)
Homem 1 - O que você está fazendo?
Homem 2 - Estes balões são para o palhaço Bombom.
(Solta os balões. Beethoven - Tempest Sonata mvt. 3. Blecaute.)
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