Sérgio Rodrigo Reis
Estado de Minas: 03/12/2012
A rotina do Giramundo anda agitada. Para montar Alice no país das maravilhas, espetáculo inspirado no clássico do autor inglês Lewis Carroll (1832-1898), repleto de referências fantasiosas, surrealistas e efeitos mirabolantes, o grupo de teatro de bonecos se cercou de colaboradores. A banda Pato Fu, além de compor a trilha, emprestou o talento de Fernanda Takai para interpretar a voz de Alice. O Grupo Galpão dará a contribuição cênica, que ficará a cargo de Eduardo Moreira. Dos recursos de alta tecnologia virão as soluções plásticas capazes de encher os olhos da plateia com efeitos especiais. Por fim, o próprio autor do clássico entrará em cena para narrar a história. O espetáculo tem estreia prevista para abril.
A escolha do ator que fará o escritor exigiu atenção especial. O mineiro Beto Militani passou por testes para conduzir a trama, contracenando com bonecos de variadas técnicas, desde as tradicionais marionetes aos que ganharão movimento graças aos recursos de robótica, e alguns que serão como roupas para serem vestidos por atores/marionetistas. A intenção é explorar os variados recursos desenvolvidos ao longo de quase 40 anos de atuação do Giramundo. Os dias têm sido de definições nos bastidores. No fim da semana passada, todos os envolvidos se reuniram para afinar os detalhes da montagem e conhecer os desenhos dos novos bonecos.
O desejo deles é impressionar. Personagens como o Dodô, o Conga e o Rato serão gigantes. “A ideia é fazê-los em proporções maiores que as usuais, para explorar palcos de grandes teatros”, avisa o diretor Marcos Malafaia. Para dar um tom enlouquecido à cozinheira, os olhos dela deverão se mexer aceleradamente. A intenção com as cartas do baralho, que têm função primordial na trama, é chamar a atenção. A Rainha de Copas deverá girar em torno do próprio eixo, exibindo imagens em frente e verso. O Rei terá movimento horizontal. Já o Valete ganhará movimento pendular. Alice será a personagem mais realista da história do Giramundo. “A proposta é deixar as pessoas em dúvida se ela é ou não real”, adianta Malafaia, que coordena a construção dos bonecos, que já começou.
Animação Recursos de computação importados dos grandes estúdios de animação americanos estão sendo utilizados no processo. A partir de estudos serão criados modelos 3D, para só depois começarem a ser construídos. “Ajuda muito, porque o escultor e o executor poderão girar o desenho e entender melhor a forma antes de construí-los”, explica o diretor. Com o Gato, outro personagem importante que, na visão de Malafaia, anda meio distorcido nas versões atuais do texto, a proposta é retomar sua personalidade original. “Ele não é fisicamente coerente. Aparece, desaparece e, em alguns momentos, volta a aparecer, porém somente algumas partes do corpo.” Recursos de computação serão usados para dar veracidade ao felino.
Em seis semanas, os bonecos estarão prontos. É quando será realizada a sincronização dos elementos reais com os vídeos e os efeitos especiais. A música, outro eixo fundamental, entrará nesse momento. Coube a John Ulhoa, guitarrista do Pato Fu, ao lado da vocalista Fernanda Takai, a composição da trilha. “Tivemos que ter uma definição antes das cenas e dos textos para criar as músicas. Serão 90 minutos, que, mais adiante, lançaremos em disco.” Fernanda Takai anda feliz com o desafio. Tanto de cantar quanto interpretar a voz de Alice. “Estou concentrada na composição”, avisa. Mais adiante, ela se debruçará sobre a construção da personagem. As referências já existem. “Imagino que Emília, de Monteiro Lobato, me ajudará nessa tropicalização de Alice. Tenho em comum a ela o bom humor e a curiosidade.”
O resultado da peça que encerra a trilogia de remontagem de grandes clássicos, iniciada com a versão de Pinocchio (2005), de Carlo Collodi, e Vinte mil léguas submarinas (2007), de Júlio Verne, ainda é uma incógnita. “Não sabemos como será tudo ao fim”, conta Marcos Malafaia, com satisfação estampada no rosto. Para ele, o espetáculo deverá fechar um ciclo. “Queríamos a presença maciça da música e que bonecos dialogassem com vídeos. Pinocchio foi mais simples, intensificamos os recursos em Vinte mil... e, agora, a proposta é de ampla interação”, avisa. O grande desejo é de que a sensação de quero mais provocada em shows musicais se repita em cena. “Meu sonho é que, ao fim, o público peça bis. E já vou avisando que, se pedirem, vai ter. Vamos preparar uma cena especial para esse momento.”
Os escolhidos
Ao ator Beto Militani caberá interpretar o autor inglês Lewis Carroll (1832-1898), que aparecerá em cena como espécie de mestre de cerimônias, contracenando com bonecos. Escolhido em testes, ele será dirigido pelo experiente ator e diretor do grupo Galpão, Eduardo Moreira: “Tive a felicidade de me chamarem e estou me sentindo honrado”.
O ator também anda satisfeito com o desafio.
“Tem sido um prazer, um presente e uma responsabilidade. Estar em cena representando um personagem complexo como Lewis Carroll atuando num grupo que, há 40 anos, lida com trabalho de bonecos é um desafio. Terei que encontrar uma conexão entre o mundo dos bonecos e a realidade e ainda por cima atuando.
” A tarefa não será simples,
pois o papel é complexo.
O autor, além de genial, era gago e professor da Universidade de Oxford,
na Inglaterra.
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