Rebeca Ramos
Estado de Minas: 28/12/2012
A equação é simples: sem equilíbrio psicológico, sem sexo de qualidade. Descartados problemas físicos, se o sexo não está prazeroso, o que o dificulta vem da mente. Autoestima baixa, depressão, ansiedade e traumas estão entre as complicações mais frequentes. E os efeitos não se restringem apenas à insatisfação sexual. Podem comprometer as relações sociais, alertam especialistas. Por isso, buscar o autoconhecimento e resolver rusgas passadas são atitudes imprescindíveis para usufruir dos prazeres da vida.
Nos consultórios, quando o problema é tratado, predominam justificativas que envolvem traumas recorrentes da iniciação sexual, como falta de preliminares e/ou de lubrificação, e bloqueios culturais. O sexólogo Ronaldo Félix explica que, em geral, há uma baixa autoconsciência corporal e uma ainda menor autoconsciência do próprio aparelho genital, bem como do seu potencial orgástico. “A baixa autoestima é o principal motivo adjacente a todos os demais que, em nosso entendimento, concorrem para manter a pessoa presa ao passado traumático e aos fatores limitadores de uma vida sexual satisfatória. Não no sentido mais popular, de se gostar, mas no sentido de se cuidar”, diz.
O cenário não poderia resultar em nada mais do que uma relação sexual ruim. As queixas mais frequentes, ele conta, referem-se às dificuldades em relaxar e em se envolver física e emocionalmente com o parceiro. Segundo a sexóloga Walkiria Fernandes, a pessoa deprimida costuma perder ou diminuir a motivação para diversas coisas na vida, inclusive o sexo. “Além disso, alguns antidepressivos costumam diminuir tanto o desejo sexual quanto a possibilidade de se chegar ao orgasmo, e isso pode fazer com que a mulher se sinta ainda mais desmotivada”, afirma.
Normalmente, a pessoa que tem a autoestima baixa apresenta pouca assertividade, que é a capacidade de saber expressar desejos, pensamentos e sentimentos sem a preocupação de ser aprovada e aceita pelos outros. “A autoestima não é apenas o quanto gostamos de nós mesmos, mas também o quanto nos orgulhamos de nós. Quando a pessoa não se orgulha e não se gosta, tende a ser muito insegura e costuma se preocupar muito em agradar os outros”, descreve.
A especialista considera que no sexo esse comportamento se reflete na preocupação em ser aceita, em demonstrar uma satisfação sexual e, de certa forma, na intenção de chegar ao orgasmo “para causar uma boa impressão”. “Quanto mais a mulher se cobra o orgasmo, menos condições ela tem de alcançá-lo”, garante.
Efeitos da memória Entram também no turbilhão de pensamentos que vêm à cabeça antes, durante e depois do sexo os problemas e traumas não resolvidos. “Tudo o que ficou registrado no inconsciente de forma negativa relacionado principalmente ao sexo ou à figura masculina pode fazer com que a mulher projete suas vivências no ato sexual ou na relação com o parceiro. Isso pode comprometer a entrega no momento do sexo”, diz Walkiria.
A psicóloga clínica Maraci Sant’Ana cita ainda o efeito de problemas psicológicos mais duradouros, como o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), o transtorno bipolar do humor, o transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e a síndrome do pânico. “Além disso, há casos ligados às crenças e à falta de informação. Qualquer um desses problemas pode trazer tristeza, pessimismo, desesperança, cansaço físico e mental, sentimento de pesar e de fracasso”, cita.
Segundo Maraci, toda situação que compromete o prazer pode ser caracterizada como problema sexual. É comum a mulher com o desejo diminuído ter pouca ou nenhuma motivação para o sexo e fazê-lo apenas para satisfazer o parceiro. E é normalmente esse mesmo companheiro que indica a importância da ajuda especializada. “Raramente essa iniciativa parte da mulher. Para ela, nesses casos, ter ou não ter sexo não faz muita diferença.”
Terapia meniza loqueios
Há situações em que a mulher tem desejo e excitação, mas encontra dificuldade em atingir o orgasmo. De acordo com a psicóloga clínica Maraci Sant’Ana, a estimativa é de que mais da metade da população feminina enfrente esse problema no momento da penetração. Se não há um complicador físico, como uma doença, e a mulher atinge o clímax sexual de outras formas – pela masturbação, por exemplo –, há, sim, uma questão a ser resolvida.
A solução, diz o sexólogo Ronaldo Félix, é baseada em tratamento psicológico. Ele conta que as abordagens teóricas mais utilizadas são as cognitivas-comportamentais e as psicanalíticas. Conhecer o próprio corpo está entre os desafios propostos nas sessões. “Encontro uma resistência muito grande quanto à masturbação. Em geral, a autocarícia se faz necessária no desenvolvimento da autoconsciência genital e orgástica”, explica o especialista.
O orgasmo, segundo a sexóloga Walkiria Fernandes, é tanto uma condição física quanto psicológica. Física porque é um ato reflexo que ocorre em resposta a um estímulo, e psicológica porque normalmente ocorre quando há ao menos um mínimo de entrega ao momento erótico ou à fantasia sexual. Quando a mulher fica na expectativa de atingir o orgasmo, ela passa a ter pouca percepção de suas sensações eróticas. “Assim, mesmo que a excitação alcance a plenitude, o fato de esperar o orgasmo acaba a interrompendo”, ressalta.
Ler sobre o assunto para diminuir dúvidas e a ansiedade, e afastar preconceitos e crendices, é imprescindível, indica a sexóloga. Outro caminho recomendado é manter um relacionamento que inclua a conversa com o parceiro sobre o assunto. Havendo necessidade, um especialista deve ser procurado. “A insatisfação sexual pode acarretar mais e mais insatisfação, levando, inclusive, à aversão ao sexo”, alerta. (RR)
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