Bruna Sensêve
Estado de Minas: 14/01/2013
Ainda bebês, eles recebem os cuidados preciosos das mães. Na infância, aprendem que não podem chorar ao se machucar. A adolescência traz dúvidas sobre a saúde sexual que devem ser solucionadas por conta própria. Na vida adulta, o auge da forma física os deixa despreocupados com o bem-estar do organismo. Ao envelhecer, estão turrões o suficiente para não aceitar conselhos. Diferentemente das mulheres, os homens não veem a consulta médica como rotina, mas como medida emergencial. Agem como se estivesse imune às doenças, consideradas sinais de fragilidade. As consequências são as piores possíveis. A maior incidência de doenças e taxas de mortalidade estão entre eles.
A partir de hoje, o Estado de Minas publica uma série de reportagens com as principais questões que atingem a saúde sexual masculina. Questões que, por preconceito e estereótipos culturais, são desconhecidas ou ignoradas. “É a fantasia de que nunca vão adoecer, mas, ao mesmo tempo morrendo de medo de isso ocorrer. Dentro da nossa cultura machista, os homens ficam desprivilegiados quando estão muito adoentados”, avalia o coordenador da área técnica de saúde do homem do Ministério de Saúde, Eduardo Chakora.
De acordo com levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Urologia em 2012, apenas 49% dos homens disseram ir ao médico para consultas anuais. Os outros afirmaram fazer uma visita a cada dois anos (20%), a cada três anos (12%) ou não ir em momento algum (19%). A resposta para os baixos índices estaria também na forma que são encarados certos exames, como o toque retal. De acordo com a mesma pesquisa, somente 32% dos homens fizeram o teste, enquanto em detrimento de 76% que sabem que ele é usado para detectar o câncer de próstata. Entre os mais de mil entrevistados, 77% concordam que o exame não é realizado por preconceito e 54% acreditam que o medo também existe.
Os dados se confirmam na prática. Balduíno Amaral, de 81 anos, perdeu um amigo para a doença há dois anos. “Ele nunca foi ao médico. A mulher dele disse para mim e eu sabia que ele nunca tinha ido. Acabou morrendo. Quando descobriu, já era tarde”, conta. Balduíno é o patriarca da família Amaral. Segundo ele, durante sua juventude, sua atitude era semelhante à do amigo. “Achava que a pessoa só deveria ir ao médico quando tinha alguma coisa”. Ele afirma que a maior parte dos homens da sua idade tem essa resistência a ir ao consultório e fazer exames. “Mudei porque minha mulher sempre faz com que eu vá.”
O hábito virou lição para o resto da família. Filho de Balduíno, Américo Amaral, de 49, faz exercícios físicos regularmente, tem alimentação saudável e vai ao médico para consultas anuais. “Meu pai fala que a única coisa que temos que cuidar é a saúde, o resto dá-se um jeito. É o que tento passar para os meus filhos”, diz Américo. No mesmo caminho segue Gustavo Amaral. Seis décadas de distância do avô, porém, não livraram o jovem de 17 anos dos estereótipos que ele considera ultrapassados. “Nossa sociedade é muito machista. Achar que é coisa de mulher é um absurdo. Estamos no século 21 e temos pessoas com essa mentalidade. Isso é saúde”, critica.
Segundo Chakora, o impacto desse comportamento no sistema público de saúde é enorme, já que geralmente eles recorrem aos serviços de saúde apenas quando uma doença está em estágio avançado. A resistência é ainda maior, de acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, Aguinaldo Nardi, quando envolve a saúde sexual, já que o homem terá que expor suas intimidades em locais em que há uma grande concentração de mulheres.
Nardi sugere uma adaptação no atendimento de saúde como uma das formas de contornar o problema. Países da Europa e nos Estados Unidos têm feito com que a preocupação com a saúde vire um hábito dos homens. As empresas fazem exames rotineiros em seus funcionários que incluem a avaliação da próstata, por exemplo. Nessas nações, houve queda média de 40% da mortalidade por câncer de próstata.
TABU “Esse foi o efeito do trabalho de levar os homens a buscarem atendimento médico o quanto antes. A questão lá já é tratada de forma muito mais precoce, aqui ainda não conseguimos”, avalia Nardi. “O homem latino enxerga sua sexualidade de forma diferente. A própria sociedade não tem um conceito de educação sexual. Conversar sobre sexualidade na família latina ainda é um tabu.”
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