quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Editoriais FolhaSP

folha de são paulo

A ameaça norte-coreana
A expectativa de algum arejamento no regime da Coreia do Norte, após a ascensão do jovem ditador Kim Jung-un, se esfacelou com a detonação de uma bomba nuclear em Kilju, no nordeste do país.
O terceiro teste subterrâneo confirma a nação asiática como maior fator de instabilidade na região, com seu governo sempre disposto a chantagear inimigos e até aliados.
A explosão foi a mais violenta da série de três, algo entre 4 e 10 quilotons (20% a 50% do poder da bomba de Hiroshima), embora haja indícios de que partiu de artefato pequeno o bastante para se acomodar numa ogiva. Como houve um bem-sucedido teste balístico em dezembro passado, a Coreia do Norte estaria hoje mais perto da capacidade de alvejar vizinhos como Coreia do Sul e Japão.
O alvo principal da provocação de Kim Jung-un, contudo, parece estar ao norte da fronteira. Principal aliado (se não único) de seu regime, a China passa por delicada transição na cúpula do poder, com a entronização de Xi Jinping como líder máximo da ditadura irmã.
Interessa a Kim testar a disposição dos chineses para manter a linha de comércio bilateral (US$ 5,9 bilhões em 2012) que impede norte-coreanos de precipitar-se na penúria e no caos. Cada vez mais engajada em contrastar o poderio dos EUA, ao menos no setor asiático, a China não pressionará tão cedo o regime do país que lhe serve de tampão para afastar das fronteiras a influência militar norte-americana na Coreia do Sul.
A temeridade norte-coreana decerto leva irritação a Pequim, mas não a ponto de tornar aceitável uma escalada de sanções internacionais contra o vizinho. Na prática, chancela-se o uso da ameaça nuclear por norte-coreanos como um tipo de seguro contra supostas articulações externas para derrubar o regime. Kim contará com o apoio da nova direção chinesa, de corte igualmente conservador.
Não será ainda desta vez, acredita-se, que o Conselho de Segurança das Nações Unidas adotará resoluções duras, "prontas e críveis", contra a ditadura norte-coreana, como demandam os Estados Unidos. Para contornar o veto inevitável da China, o colegiado tende a abrandar novas restrições cogitadas para obter consenso.
As sanções, portanto, devem seguir focalizadas diretamente sobre o bloqueio do desenvolvimento de mísseis nucleares. É pouco provável que envolvam a interrupção do fornecimento de petróleo, por exemplo, que continuará a ser provido pela China -embora a Coreia do Norte, ao contrário do Irã, já tenha provado do que é capaz.


EDITORIAIS
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Telefonia imóvel
Deficiências das operadoras de celular não são novas nem desconhecidas pela Anatel, mas agência reguladora falha na defesa dos usuários
No celular, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversa com a sucessora, Dilma Rousseff, e a ligação cai. A falha se repete duas vezes. O relato de um ministro, de agosto de 2012, é um exemplo acabado das agruras do usuário de telefonia móvel no país.
Não há, portanto, novidade no relatório da agência reguladora do setor, a Anatel, que indica estar abaixo do estipulado a qualidade da internet por celular ou tablets (3G) e do envio de mensagens de texto (SMS).
O estudo apontou que, entre agosto e outubro do ano passado, 4% do tráfego de internet e SMS teve falhas de conexão ou envio. É o dobro do limite permitido, fixado pela própria Anatel.
Ainda mais preocupante é que, apesar de os problemas serem recorrentes, a agência não age com rigor para impedir que se repitam. Segundo a Anatel, nenhuma das operadoras será punida desta vez, mas não estão descartadas medidas "severas", se necessárias.
A transigência poderia ser aceitável se o setor de telefonia móvel não fosse figura frequente nos diversos rankings de reclamações de consumidores. As operadoras de celular lideraram, por exemplo, a lista de reclamações aos vários Procons do país em 2012.
Nem mesmo a reação de julho do ano passado, quando a Anatel suspendeu a venda de novos números pelas marcas Oi, Tim e Claro, parece ter produzido efeitos.
Desde então, não são raros os relatos de panes no sistema das três operadoras e também da Vivo (que não foi punida na ocasião), como a que afetou milhões de usuários no Estado de São Paulo no mês passado.
A infraestrutura é claramente insuficiente para acomodar o crescimento do número de usuários -há mais de uma linha de celular por habitante- e dos acessos à internet por aparelhos móveis.
No final de 2012, a média era de 66 milhões de acessos via banda larga móvel (3G) por mês. Um crescimento de 170% em relação ao início de 2011.
As operadoras dizem, em sua defesa, que ampliaram os investimentos. Prometem fazer novos aportes para melhorar a qualidade do serviço. Para o consumidor que paga caro, no entanto, o salto de qualidade não se materializou nem parece à vista.
O celular, para o brasileiro, é muitas vezes o único telefone de que dispõe para falar com amigos e clientes. E, com cada vez mais frequência, também sua porta de entrada para a internet.
Oferecer um serviço ruim e a preços exorbitantes é intolerável. Cabe à Anatel cobrar das empresas a garantia de que entregarão o que prometem à agência e aos usuários.

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