Desde 2004, número foi de 2 para 14; hoje, somente 5% dos profissionais ativos têm formação específica na área
Federais colocam no mercado neste ano 600 novos museólogos, mas setor público não cria vagas no mesmo ritmo
É um fenômeno que fez multiplicar os dois cursos disponíveis em 2004, restritos a Rio e Salvador, para os atuais 14 cursos espalhados por todas as regiões do Brasil.
Apenas 5% dos 20 mil profissionais dos 3.200 museus do país têm formação em museologia. Neste ano, chegarão ao mercado os primeiros formandos dessa nova leva de cursos, vindos de 600 vagas criadas em universidades federais nos últimos anos.
Será a primeira geração de profissionais com formação específica no país, o que começa a mudar uma realidade de autodidatas que há décadas estão à frente das maiores instituições do país.
"Programas [acadêmicos] estão aparecendo um pouco mais tarde do que explodiram em várias partes do mundo. Mas é a profissionalização do nosso circuito", diz Ivo Mesquita, diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo.
"É a demanda de um circuito que vai se consolidando como segmento econômico importante."
Essa expansão acadêmica também ganhou fôlego com a criação, em 2009, dentro do MinC, do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), órgão com maior autonomia para monitorar esse setor.
"Nós ajudamos a estruturar e pensar currículos", diz José do Nascimento Júnior, presidente do Ibram. "Entendemos que não tem como fazer política pública sem conhecimento formal na área."
O Conselho Federal de Museologia estabeleceu, no ano passado, o piso salarial de R$ 5.026 para recém-formados em jornadas de 40 horas semanais de trabalho.
O profissional com mestrado, ou que tenha entre oito e 16 anos de formado, ganha R$ 7.487. Doutorado ou mais de 16 anos de experiência pós-formatura elevam o piso para R$ 8.978.
Embora o governo tenha reagido com rapidez na expansão da oferta, os cursos criados a toque de caixa nem sempre dão conta do recado.
Um deles, o da Universidade Federal de Santa Catarina, teve problemas com o Ministério da Educação, que considerou irregular o uso quase exclusivo de professores de antropologia como docentes do curso de museologia.
Quase todos os cursos disponíveis no país tomam como base o modelo criado em 1931 na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), que se baseou no currículo da Escola do Louvre, em Paris, mesclando disciplinas de ciências sociais, arqueologia e antropologia.
Outro problema é a dificuldade na absorção dos novos profissionais pelo mercado, o que exigiria a abertura mais rápida de concursos para contratação em museus públicos, entrave para a renovação que o governo pretende.
"A maioria dos museus do país tem profissionais que não estão aptos. No interior do país, isso se agrava", diz Ivan Coelho de Sá, coordenador de museologia da Unirio. "Há uma tendência discreta de mudança, mas o governo tem feito muito pouco."
PATRIMÔNIO
Enquanto a máquina do governo é lenta demais para incorporar esses profissionais à esfera pública, empresas privadas, como Oi e Globo, viraram destino para novos museólogos ao implantar projetos de preservação da memória e do patrimônio.
"Há hoje no país uma escassez enorme de museólogos formados", afirma Amaro Lins, secretário de educação superior do Ministério da Educação, que investiu R$ 10 bilhões na ampliação de cursos das federais desde 2008.
"Precisaremos de um bom tempo para atender à demanda", completa ele.
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