Walter Sebastião
Estado de Minas: 05/02/2013
A indiazinha Tainá, cujo sonho é se tornar guerreira e defender a floresta, deixa para trás as “grifes” famosas e crava a marca de estrelar a primeira franquia do cinema brasileiro a chegar ao terceiro episódio.
A estreia nacional de Tainá – A origem está marcada para sexta-feira, véspera de carnaval. O filme conta o início da trajetória da órfã adotada pelo “vô” Tigê (Gracindo Júnior), que não desiste de sua importante missão. Rejeitada por ser menina, ela vai à luta com a ajuda de Laurinha (Beatriz Noskoski), amiguinha da cidade, e de Gobi (Igor Ozzy), um índio meio nerd, que adora eletrônica.
Rodado no Amazonas, no Pará e no Acre, o longa brasileiro traz tudo o que a região oferece: florestas, árvores gigantescas e rios que parecem mar, além de onças, macacos, preguiças e araras. A heroína ganhou novo rosto: o papel coube a Wiranu Tembé, de 5 anos, descoberta na aldeia paraense de Tekohaw e selecionada entre 2,2 mil meninas da região amazônica.
O roteiro previa uma atriz de 7 anos, mas a indiazinha se saiu tão bem que os planos foram adequados à idade dela. “Quando vi a Wiranu, não consegui tirar mais os olhos. É uma Tainá muito especial”, afirma a diretora Rosane Svartman. A pequena atriz tinha 4 anos quando o longa-metragem começou a ser rodado. Nem sequer falava português. Mas as brincadeiras daquela menina em sua tribo encheram os olhos de Rosane. E entraram no filme. Tainá-Wiranu escala um pé de açaí de mais de 10 metros. “Quando a vi fazendo aquilo, pedi ao roteirista para criar a cena sem cortes, para mostrar que é tudo verdade”, revela a diretora.
Tainá – A origem busca, sobretudo, a emoção. “Mostramos como a protagonista se tornou a guerreira que conhecemos de outros filmes, e também como uma menina se transforma a partir de aventuras, desafios e do convívio com amigos”, explica Rosane Svartman. O fascínio por essa personagem vem da mistura de dois elementos: a heroína da floresta e a pequena guerreira, ingênua e sábia. Palavra de origem tupi-guarani, tainá quer dizer estrela, raio de luz, luz da manhã.
Trabalhar com atores mirins foi um desafio e tanto para a diretora. O mais importante é levar para a tela o frescor que a criança transmite na vida real. “O que aparece fluente, espontâneo, leve e simples no filme é produto de muito trabalho”, avisa Rosane. Isso significa planejar ensaios que tratem as situações da trama como brincadeira, além de evitar que as tensões do set afetem a criançada.
Filmar na Amazônia é complicado. “Chove, faz sol, tem lama, chão arenoso, muito bicho, mosquito. Você tem de pegar barco, van, avião. Mas a região é belíssima, chegamos a locais que estão entre os mais bonitos do mundo”, garante a diretora. Em resumo, Tainá – A origem buscou retratar toda a magia, grandiosidade, beleza e diversidade da floresta.
Outro desafio: filmar bichos selvagens, que não podem ser adestrados. “O macaco ia de um lado para o outro. A equipe, pacientemente, era obrigada a esperar o momento em que a onça decidia se levantar”, relembra Rosane. Foi necessário criar unidade apenas para captar as cenas da fauna.
Tanto esforço valeu a pena: Tainá – A origem já estreia com um prêmio: o de melhor filme, na opinião do público, concedido pelo International Children’s Film, realizado na Califórnia (EUA).
Pai coruja
A história da série Tainá começou quando Pedro Rovai integrava a equipe que filmava documentário sobre populações ribeirinhas da Amazônia. Encantado em ver as crianças se divertindo sem ter brinquedo algum, o produtor propôs a franceses um filme sobre esse aspecto da vida amazônica.
“Mas eles vieram com catástrofe e drama social, enquanto eu imaginava algo otimista, para cima. Ou seja: um filme sobre a alegria das crianças destinado aos pequenos – não aos adultos. E com uma visão encantadora, mas não idílica, da Amazônia. Algo diferente do que vemos todos os dias sobre aquela região”, conta Rovai.
Em 2000, surgiu a primeira incursão de Tainá no cinema: Um aventura na Amazônia, dirigido por Tânia Lamarca e Sérgio Bloch. O segundo longa, de Mauro Lima, foi lançado em 2004: A aventura continua. Esses trabalhos caíram nas graças de ambientalistas, escolas e de festivais de cinema. Conquistaram 22 prêmios em eventos internacionais dedicados à produção infantil.
“Tainá é algo raro: uma personagem de cinema que não veio da literatura ou da televisão”, afirma, vaidoso, Pedro Rovai. Aspecto fundamental do sucesso da série, ressalta ele, é o carisma das Tainás: a pioneira Eunice Bahia, hoje com 21 anos, e agora Wiranu Tembé. Ambas foram descobertas pelo produtor de elenco Cláudio Barros.
A satisfação com o bom resultado não apaga um problema. Produções dessa natureza são caras. “Falta-nos estrutura, como a dos norte-americanos, para fazer filmes assim”, observa Rovai. Por enquanto, A origem encerra o ciclo, acredita o “pai” de Tainá. “Vai ficar na história do nosso cinema o fato de, um dia, um sujeito corajoso ter feito essa trilogia”, orgulha-se.
Os novos planos para a indiazinha, por enquanto, são apenas sonho. Rovai torce para que Tainá seja a estrela de outra série. Desta vez, em animação produzida para a TV.
Pluft vem aí
Rosane Svartman é formada em cinema pela Universidade Federal Fluminense. Diretora e roteirista, ela trabalha também na TV: atualmente, integra a equipe de Malhação (Rede Globo). Lançou dois livros para jovens: Melhores amigas e Onde os porquês têm resposta; dirigiu os longas Como ser solteiro (1998), Mais uma vez amor (2005) e Desenrola (2001). Atualmente, ela desenvolve projeto para adaptar Pluft, o fantasminha, clássico teatral de Maria Clara Machado, para o cinema. “Saio da floresta diretamente para o mundo dos fantasmas”, brinca ela.
Três perguntas para...
Rosane sVARTMAN
CINEASTA
Como é assinar a série de cinema que, pela primeira vez no Brasil, chega ao terceiro episódio?
Acho muito bom o Brasil ter suas franquias, algo comum no cinema internacional. São histórias que constroem um público. Para mim, isso é também uma corrente de afeto. E, nesse sentido, compartilho o mérito com todos que fizeram Tainá 1 e 2 e com o Pedro Rovai, criador do personagem.
O que fazer cinema significa para você?
Ouvi de um professor, ao rodar o primeiro longa, que não deveria me preocupar em fazer o meu grande filme, mas em contar uma boa história no cinema. Tento levar essa lição de despretensão para cada trabalho. Assistir a um filme, na sala escura, em situação em que a imagem faz um ‘solo’, é experiência forte.
Por que você optou pelo ofício?
Faço filmes para festejar a vida. Procuro histórias que fazem o público se sentir bem, se divertir. Quando apresento um filme para o público, gosto de dizer, no início da sessão: ‘Boa viagem’. Cinema significa o grande mergulho em um novo universo.
A estreia nacional de Tainá – A origem está marcada para sexta-feira, véspera de carnaval. O filme conta o início da trajetória da órfã adotada pelo “vô” Tigê (Gracindo Júnior), que não desiste de sua importante missão. Rejeitada por ser menina, ela vai à luta com a ajuda de Laurinha (Beatriz Noskoski), amiguinha da cidade, e de Gobi (Igor Ozzy), um índio meio nerd, que adora eletrônica.
Rodado no Amazonas, no Pará e no Acre, o longa brasileiro traz tudo o que a região oferece: florestas, árvores gigantescas e rios que parecem mar, além de onças, macacos, preguiças e araras. A heroína ganhou novo rosto: o papel coube a Wiranu Tembé, de 5 anos, descoberta na aldeia paraense de Tekohaw e selecionada entre 2,2 mil meninas da região amazônica.
O roteiro previa uma atriz de 7 anos, mas a indiazinha se saiu tão bem que os planos foram adequados à idade dela. “Quando vi a Wiranu, não consegui tirar mais os olhos. É uma Tainá muito especial”, afirma a diretora Rosane Svartman. A pequena atriz tinha 4 anos quando o longa-metragem começou a ser rodado. Nem sequer falava português. Mas as brincadeiras daquela menina em sua tribo encheram os olhos de Rosane. E entraram no filme. Tainá-Wiranu escala um pé de açaí de mais de 10 metros. “Quando a vi fazendo aquilo, pedi ao roteirista para criar a cena sem cortes, para mostrar que é tudo verdade”, revela a diretora.
Tainá – A origem busca, sobretudo, a emoção. “Mostramos como a protagonista se tornou a guerreira que conhecemos de outros filmes, e também como uma menina se transforma a partir de aventuras, desafios e do convívio com amigos”, explica Rosane Svartman. O fascínio por essa personagem vem da mistura de dois elementos: a heroína da floresta e a pequena guerreira, ingênua e sábia. Palavra de origem tupi-guarani, tainá quer dizer estrela, raio de luz, luz da manhã.
Trabalhar com atores mirins foi um desafio e tanto para a diretora. O mais importante é levar para a tela o frescor que a criança transmite na vida real. “O que aparece fluente, espontâneo, leve e simples no filme é produto de muito trabalho”, avisa Rosane. Isso significa planejar ensaios que tratem as situações da trama como brincadeira, além de evitar que as tensões do set afetem a criançada.
Filmar na Amazônia é complicado. “Chove, faz sol, tem lama, chão arenoso, muito bicho, mosquito. Você tem de pegar barco, van, avião. Mas a região é belíssima, chegamos a locais que estão entre os mais bonitos do mundo”, garante a diretora. Em resumo, Tainá – A origem buscou retratar toda a magia, grandiosidade, beleza e diversidade da floresta.
Outro desafio: filmar bichos selvagens, que não podem ser adestrados. “O macaco ia de um lado para o outro. A equipe, pacientemente, era obrigada a esperar o momento em que a onça decidia se levantar”, relembra Rosane. Foi necessário criar unidade apenas para captar as cenas da fauna.
Tanto esforço valeu a pena: Tainá – A origem já estreia com um prêmio: o de melhor filme, na opinião do público, concedido pelo International Children’s Film, realizado na Califórnia (EUA).
Pai coruja
A história da série Tainá começou quando Pedro Rovai integrava a equipe que filmava documentário sobre populações ribeirinhas da Amazônia. Encantado em ver as crianças se divertindo sem ter brinquedo algum, o produtor propôs a franceses um filme sobre esse aspecto da vida amazônica.
“Mas eles vieram com catástrofe e drama social, enquanto eu imaginava algo otimista, para cima. Ou seja: um filme sobre a alegria das crianças destinado aos pequenos – não aos adultos. E com uma visão encantadora, mas não idílica, da Amazônia. Algo diferente do que vemos todos os dias sobre aquela região”, conta Rovai.
Em 2000, surgiu a primeira incursão de Tainá no cinema: Um aventura na Amazônia, dirigido por Tânia Lamarca e Sérgio Bloch. O segundo longa, de Mauro Lima, foi lançado em 2004: A aventura continua. Esses trabalhos caíram nas graças de ambientalistas, escolas e de festivais de cinema. Conquistaram 22 prêmios em eventos internacionais dedicados à produção infantil.
“Tainá é algo raro: uma personagem de cinema que não veio da literatura ou da televisão”, afirma, vaidoso, Pedro Rovai. Aspecto fundamental do sucesso da série, ressalta ele, é o carisma das Tainás: a pioneira Eunice Bahia, hoje com 21 anos, e agora Wiranu Tembé. Ambas foram descobertas pelo produtor de elenco Cláudio Barros.
A satisfação com o bom resultado não apaga um problema. Produções dessa natureza são caras. “Falta-nos estrutura, como a dos norte-americanos, para fazer filmes assim”, observa Rovai. Por enquanto, A origem encerra o ciclo, acredita o “pai” de Tainá. “Vai ficar na história do nosso cinema o fato de, um dia, um sujeito corajoso ter feito essa trilogia”, orgulha-se.
Os novos planos para a indiazinha, por enquanto, são apenas sonho. Rovai torce para que Tainá seja a estrela de outra série. Desta vez, em animação produzida para a TV.
Pluft vem aí
Rosane Svartman é formada em cinema pela Universidade Federal Fluminense. Diretora e roteirista, ela trabalha também na TV: atualmente, integra a equipe de Malhação (Rede Globo). Lançou dois livros para jovens: Melhores amigas e Onde os porquês têm resposta; dirigiu os longas Como ser solteiro (1998), Mais uma vez amor (2005) e Desenrola (2001). Atualmente, ela desenvolve projeto para adaptar Pluft, o fantasminha, clássico teatral de Maria Clara Machado, para o cinema. “Saio da floresta diretamente para o mundo dos fantasmas”, brinca ela.
Três perguntas para...
Rosane sVARTMAN
CINEASTA
Como é assinar a série de cinema que, pela primeira vez no Brasil, chega ao terceiro episódio?
Acho muito bom o Brasil ter suas franquias, algo comum no cinema internacional. São histórias que constroem um público. Para mim, isso é também uma corrente de afeto. E, nesse sentido, compartilho o mérito com todos que fizeram Tainá 1 e 2 e com o Pedro Rovai, criador do personagem.
O que fazer cinema significa para você?
Ouvi de um professor, ao rodar o primeiro longa, que não deveria me preocupar em fazer o meu grande filme, mas em contar uma boa história no cinema. Tento levar essa lição de despretensão para cada trabalho. Assistir a um filme, na sala escura, em situação em que a imagem faz um ‘solo’, é experiência forte.
Por que você optou pelo ofício?
Faço filmes para festejar a vida. Procuro histórias que fazem o público se sentir bem, se divertir. Quando apresento um filme para o público, gosto de dizer, no início da sessão: ‘Boa viagem’. Cinema significa o grande mergulho em um novo universo.
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