terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Infiéis por natureza

folha de são paulo

Livros usam teoria evolucionista, genética e neurociência para explicar cientificamente a traição
IARA BIDERMANDE SÃO PAULO"Não é o que você está pensando. É só uma manifestação de minha herança genética". Se seu parceiro (ou sua parceira) vier com essa, desconfie: ele(a) já deve ter lido o lançamento "A Química do Amor" (ed. Best-Seller, 350 págs., R$ 39,90).
Novinho nas livrarias, o livro trata de antigas questões: por que amamos e queremos sexo. E do velho problema: por que amamos um e desejamos fazer sexo com outros.
Escrito pelo neurocientista norte-americano Larry Young e pelo jornalista Brian Alexander, faz parte da categoria de livros que traduzem os conceitos científicos para a linguagem "de gente" e para temas populares, como a infidelidade.
Young e Alexander afirmam que a monogamia sexual não é uma determinação biológica para homens e mulheres, mas não vão tão longe quanto os autores de outro livro, "Sex at Dawn" (leia ao lado), que pregam que a promiscuidade é a verdadeira natureza humana.
A obra não fica só nisso. "Explicamos a química cerebral que leva ao desejo sexual e os mecanismos biológicos que entram em ação quando formamos vínculos afetivos", diz Young.
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Folha - A monogamia é uma tendência dos humanos?
Larry Young - Infelizmente (ou felizmente, dependendo do ponto de vista), a monogamia sexual não é uma tendência natural.
Estudamos em laboratório um tipo de rato que é socialmente monogâmico -machos e fêmeas formam casais que ficam juntos por anos e criam juntos os filhotes. Mas, se um macho está no campo longe de casa e aparece uma fêmea, ele pode trair a parceira e fazer sexo com a outra. Essa fêmea também pode estar traindo seu par. Mas ambos vão voltar para suas casas e seus parceiros à noite e cuidar de suas famílias.
Os humanos provavelmente têm a mesma tendência biológica: amar uma pessoa, mas, de vez em quando, ter um caso com outra. A maioria dos mamíferos não têm conexão emocional com o parceiro com que faz sexo. Homens e mulheres têm conexões que fazem com que queiram ficar mais tempo junto de seus parceiros, mas, como acontece com os ratos de laboratório, sua química cerebral também pode os levar a trair.
Por que as relações monogâmicas são as prevalentes?
A cultura, a sociedade e a religião incentivam a monogamia sexual e os relacionamentos que duram a vida toda, por isso a monogamia parece ser mais comum, mas isso não implica que seja natural. E mesmo nas muitas pessoas que conseguem ser fiéis por toda a vida, seus cérebros continuam mandando comandos eventuais para que traiam.
O sr. concorda com autores que afirmam que a promiscuidade é da natureza humana?
Não. Homens e mulheres são diferentes de outros mamíferos por buscarem parceiros sexuais para criar vínculos. Ficam juntos por outras razões que não apenas sexo, desejam ficar próximos de seus parceiros e sentem saudades deles quando estão separados. Nosso cérebro está programado para se apaixonar. No livro, descrevemos em detalhe como algumas substâncias químicas (oxitocina, dopamina, vasopressina) fazem as pessoas se ligarem a quem amam e como outras substâncias criam o desejo sexual.

    A Pré-História era uma festa, dizem pesquisadores
    RICARDO BONALUME NETODE SÃO PAULOO homem das cavernas Fred Flintstone era monogâmico e fiel à sua mulher, Wilma. Mas os personagens de desenho animado não correspondem à realidade, segundo a tese de dois especialistas em psicologia evolutiva. Para eles, a promiscuidade era generalizada na Pré-História. E isso afetaria o comportamento sexual humano até hoje, algo mostrado pelo alto índice de adultério.
    A tese está no livro "Sex at Dawn" (sexo na alvorada), do americano Christopher Ryan e da moçambicana Cacilda Jethá, lançado em 2011. Escrito em linguagem popular, o livro virou best-seller.
    A dupla investiu contra uma ideia supostamente "sagrada": a de que os seres humanos são naturalmente propensos à monogamia, o que eles chamaram de "flintstonização" do passado.
    Sobrou, claro, para o naturalista britânico Charles Robert Darwin (1809-1882). Segundo o principal autor da teoria da evolução não dá para falar em promiscuidade generalizada. Para ele, apesar de os machos estarem sempre prontos para o próximo caso -justificado pela ideia de deixar o maior número de descendentes-, as fêmeas querem ter um parceiro fixo que lhes dê segurança para cuidar dos filhotes.
    Já a dupla de pesquisadores sugere que na maior parte da Pré-História as pessoas dividiam tudo: comida e parceiros sexuais. Não haveria a noção de paternidade, pois não haveria como comprová-la, já que o sexo seria "livre".
    O ser humano só teria deixado de ser promíscuo graças à agricultura e ao sedentarismo. A propriedade privada se estenderia à mulher, que teria de ser vigiada para o homem ter certeza de que o filho era de fato seu herdeiro.
    Não é uma tese propriamente nova, mas Ryan e Jethá a embelezaram com dados da psicologia, da antropologia, da história e da biologia. Porém, os dados seriam seletivos, segundo críticas de seus pares acadêmicos. Aquilo que não apoiaria a tese tenderia a ser deixado de lado.
    Por exemplo, o fato de o bebê humano depender dos pais por muito tempo. Isso explicaria a formação de pares monogâmicos. Wilma precisa de Fred para cuidar de Pedrita.

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