Joel Silveira
RIO DE JANEIRO - Emocionante o documentário de Geneton Moraes Neto exibido pelo canal Globo News no último sábado, sobre Joel Silveira, apresentado como o "maior repórter brasileiro". Pessoalmente, duvido sempre de expressões como "o maior" isso ou aquilo. O próprio Joel considerava João do Rio como o maior repórter, e eu sempre discordei dessa escolha. Conheço uns cinco que foram melhores do que ele, o Joel inclusive.Agora, que Joel foi dos mais brilhantes e honestos jornalistas e, além disso, um escritor de primeiríssimo time são afirmações que eu sempre faço quando escrevo ou falo sobre ele. Além disso, foi um extraordinário ser humano. Das minhas seis prisões durante o regime militar, tive três em companhia dele, na mesma cela (com sua mania de limpeza, todas as manhãs ele lavava os seus lençóis e os meus, sujos com uma poeira que vinha do gasômetro próximo do Batalhão de Guardas, em São Cristóvão).
Ele me apresentou a Jânio Quadros e fizemos juntos uma das últimas entrevistas com o ex-presidente, de quem ele era devoto. Também entrevistamos em Roma o "marquês" Enrico Berlinguer, líder do comunismo italiano, na via delle Botteghe Oscure, sede do PC.
Certa vez, levei à sua casa um disco com sua música preferida, "Firenze Sogna", que ele aprendera quando cobria a Segunda Guerra Mundial. Joel equilibrava o copo de uísque na cabeça e cantava para sua mulher, Iracema: "Sull'Ar-no d'argento si specchia il firmamento". De repente, gritou: "Iracema, liga para o Squeff, ele precisa ouvir o 'sottto il raggio della luna', que venha depressa! Por que ele não aparece mais?".
Squeff, correspondente de "O Globo", fora seu colega durante a cobertura da guerra. Havia morrido fazia dois anos, mas, para Joel, bastava Iracema telefonar.
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