Estado de Minas: 15/05/2013
Fernando Pessoa disse
que “o poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir
que é dor a dor que deveras sente.” Manoel de Barros diz que o poeta é
um vidente, vê coisas que não existem. Poeta é o sujeito que inventa.
Com sua caligrafia miúda, todos os dias ele se fecha no lugar de ser
inútil, seu escritoriozinho de escrever poesia. Há mais de 50 anos ele
se ocupa de construir inutilidades como o abridor de amanhecer e o
esticador de horizonte.
Devo ao meu amigo Paulo Vilara, que nos anos 1970 morou em Campo Grande, a descoberta desse poeta deslumbrante. Ele me enviou três livros do fenômeno, desconhecido para mim e quase todos ao redor. Li os exemplares e os levei ao Suplemento Literário do Minas Gerais, que voltara a ser comandado pelo nosso Murilo Rubião.
Uma ótima matéria foi publicada e só recuperei os meus livrinhos décadas depois. Paulinho Assunção e sua mulher tinham se apaixonado por eles. Guardaram bem guardados em seus corações e só quando a obra se espalhou pelas livrarias eles me devolveram com delicada mensagem. Um pouco depois, Millôr Fernandes, em seu Pif Paf, revelava ao Brasil a maravilha de poesia que havia descoberto. A partir daí, o fechado meio cultural se abriu para o inquestionável.
Lembro esses fatos porque assisti, esta semana, ao DVD Só dez por cento é mentira, uma beleza que recomendo a todas as pessoas sensíveis que me leem. Manoel foge de entrevistas, por se sentir uma pessoa letral e não oral: a palavra oral não dá rascunho. Mas ele se comoveu com os jovens que sonhavam gravar um vídeo sobre ele e resolveu falar: “Tragam suas máquinas amanhã e eu respondo o que achar que devo”.
É comovente ouvir o que ele diz além dos livros. Sujeito encantador e não folclórico, ciente da felicidade de ter comprado para si o ócio. “Há varias maneiras sérias de não dizer nada. Mas só a poesia é verdadeira. Noventa por cento do que escrevo é invenção. Só dez por cento é mentira”. Daí o nome do DVD.
Para ele, o mestre inspirador foi Chaplin, que inventou o herói vagabundo. “Charles Chaplin monumentou os vagabundos”. Ou: “Só as coisas rasteiras me celestam. As coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis, elas desejam ser vistas de azul”.
Que lugar a poesia ocupa em sua vida?, perguntam-lhe. “Todos os lugares. Não sei fazer mais nada. Quer dizer: sei abrir porta, puxar válvula, apontar lápis, comprar pão às seis da tarde, essas coisas.”
Segundo ele, o olho vê, a lembrança revê, a imaginação transvê. É preciso trasver. “O tempo só anda de ida. A gente nasce cresce amadurece envelhece e morre. Para não morrer é preciso amarrar o tempo no poste. Eis a ciência da poesia: amarrar o tempo no poste.”
Devo ao meu amigo Paulo Vilara, que nos anos 1970 morou em Campo Grande, a descoberta desse poeta deslumbrante. Ele me enviou três livros do fenômeno, desconhecido para mim e quase todos ao redor. Li os exemplares e os levei ao Suplemento Literário do Minas Gerais, que voltara a ser comandado pelo nosso Murilo Rubião.
Uma ótima matéria foi publicada e só recuperei os meus livrinhos décadas depois. Paulinho Assunção e sua mulher tinham se apaixonado por eles. Guardaram bem guardados em seus corações e só quando a obra se espalhou pelas livrarias eles me devolveram com delicada mensagem. Um pouco depois, Millôr Fernandes, em seu Pif Paf, revelava ao Brasil a maravilha de poesia que havia descoberto. A partir daí, o fechado meio cultural se abriu para o inquestionável.
Lembro esses fatos porque assisti, esta semana, ao DVD Só dez por cento é mentira, uma beleza que recomendo a todas as pessoas sensíveis que me leem. Manoel foge de entrevistas, por se sentir uma pessoa letral e não oral: a palavra oral não dá rascunho. Mas ele se comoveu com os jovens que sonhavam gravar um vídeo sobre ele e resolveu falar: “Tragam suas máquinas amanhã e eu respondo o que achar que devo”.
É comovente ouvir o que ele diz além dos livros. Sujeito encantador e não folclórico, ciente da felicidade de ter comprado para si o ócio. “Há varias maneiras sérias de não dizer nada. Mas só a poesia é verdadeira. Noventa por cento do que escrevo é invenção. Só dez por cento é mentira”. Daí o nome do DVD.
Para ele, o mestre inspirador foi Chaplin, que inventou o herói vagabundo. “Charles Chaplin monumentou os vagabundos”. Ou: “Só as coisas rasteiras me celestam. As coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis, elas desejam ser vistas de azul”.
Que lugar a poesia ocupa em sua vida?, perguntam-lhe. “Todos os lugares. Não sei fazer mais nada. Quer dizer: sei abrir porta, puxar válvula, apontar lápis, comprar pão às seis da tarde, essas coisas.”
Segundo ele, o olho vê, a lembrança revê, a imaginação transvê. É preciso trasver. “O tempo só anda de ida. A gente nasce cresce amadurece envelhece e morre. Para não morrer é preciso amarrar o tempo no poste. Eis a ciência da poesia: amarrar o tempo no poste.”
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