O Juízo Universal
RIO DE JANEIRO - No ótimo "O Juízo Universal" (1961), filme do italiano Vittorio de Sica, recém-lançado em DVD no Brasil, uma voz vinda das nuvens anuncia: "Hoje, às 18h, começa o Juízo Universal!". Como todos têm pecados a pagar, o alvoroço é geral. Uma grã-fina, interpretada por Silvana Mangano, sente-se responsável pelo Juízo, por causa das trampolinagens que seu marido, um empresário vivido por Jack Palance, cometeu para lhe dar casacos de peles, joias, iates e até um arranha-céu -e, histérica, passa a denunciá-lo na frente das visitas."Por mim", ela grita, enquanto ele tenta fechar-lhe a boca, "você se manchou, traiu, pecou, extorquiu, perverteu, corrompeu, roubou, fraudou, furtou, copiou, assaltou, usurpou, deturpou, especulou, falsificou, desfalcou, difamou, degenerou, depravou, prevaricou, transviou, aviltou, pilhou, subornou e se apropriou!"
Deve ter sido isso que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), quis dizer outro dia ao denunciar o grau de roubalheira e de impunidade no país. "Os grandes casos de corrupção no Brasil foram descobertos por acidente", disse ele. "O controle é zero. O sujeito fica rico, bilionário, com fazenda, indústria, patrimônio, e não acontece nada. O povo não sabe de um décimo do que se passa contra ele. Se não, ia faltar guilhotina para a Bastilha, para cortar a cabeça de tanta gente que explora esse sofrido povo brasileiro".
A queda da Bastilha aconteceu em 1789, e a guilhotina só foi instituída três anos depois -porque o carrasco não estava dando conta de cortar tantas cabeças com o machado. Bem, não importa. Alckmin completa: "[Para a] corrupção, o paraíso é o Judiciário" e, se dependermos da Justiça, as coisas "ainda vão levar 20 anos para mudar".
Alckmin é otimista. O problema é se tivermos de esperar pelo Juízo Universal.
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