Médico-rapper incentiva pessoas a tomar controle da sua saúde
Zubin Damania é um médico que trabalhou durante dez anos no Hospital da Universidade de Stanford (Califórnia), considerado um dos melhores nos EUA. Agora vive em Las Vegas onde tem a proposta de criar um novo sistema de saúde com foco na promoção e na prevenção de saúde.
Damania também caiu no gosto dos internautas como o rapper ZDoggMD, seu alter ego. Ele usa o humor em uma série de vídeos no YouTube para informar pacientes sobre como tomar o controle da sua saúde.
Com rap e, por vezes, com uma luva de Michael Jackson, ele parodia a cultura pop para falar de problemas vão desde as precárias condições do trabalho médico, as sacanagens dos planos de saúde, o câncer de próstata até sobre hemorroidas. Vocês podem assistir a alguns dos vídeos no link: http://zdoggmd.com/
Para Damania, o atual sistema de saúde americano (e por que não o brasileiro também?) está longe de oferecer o melhor para os pacientes. E, em parte, ele atribui isso ao enfraquecimento do papel do médico.
"Hoje a rotina do médico é uma mistura de rondas no hospital, horas no telefone com as companhias de seguros, documentos tediosos, chegar em casa tarde e não ter tempo para a família, e só se preocupar com erros cometidos em algum lugar ao longo do caminho."
"Há tantas peças, mas fundamentalmente o relacionamento humano é ignorado neste sistema", disse ele.
Damania conta que estava à procura de equilíbrio em sua profissão quando seu amigo Tony Hsieh, CEO do site de compras Zappos, fez uma proposta.
O empresário pediu-lhe para desenvolver e liderar um sistema de saúde, como parte do Projeto Downtown, uma iniciativa liderada por Hsieh para revitalizar o centro de Las Vegas.
Com um empurrão da mulher, uma radiologista da Universidade de Stanford, Damania aceitou o desafio. "Nosso objetivo é fazer a coisa certa em Las Vegas, para que possamos construir e ampliar, e sutilmente interromper o que está acontecendo na área da saúde", disse ele.
Damania conta que se inspirou em Clayton Christensen, autor de "The Innovator's Prescription", que sugere o desenvolvimento de novas ideias às margens do atual sistema de saúde.
O projeto Vegas se encaixa nessa proposta, com uma comunidade diversificada que inclui pequenos empresários, profissionais liberais, artistas e outros trabalhadores autônomos.
A nova clínica é uma parceria com Iora Saúde, uma empresa que implementou um modelo de atenção à saúde semelhante no Brooklyn, Atlantic City e outras áreas dos EUA.
O sistema envolve agentes de saúde, de preferência da comunidade local, bem como enfermeiros e médicos, todos trabalhando no tratamento de cada paciente.
Durante as manhãs, toda a equipe se reúne para discutir a situação de cada paciente programado para ser visto naquele dia.
Em tese, é a mesma proposta do programa Saúde da Família, com alguns acréscimos. Por exemplo, haverá orientação em nutrição, atividades físicas e consultas psicológicas. De novo, a ideia é que o paciente tome o controle da sua saúde.
Damania está convencido de que o seguro saúde deva ser deixado de fora da atenção primária. "Os incentivos para cuidar dos doentes são muitas vezes distorcidos pela forma como as companhias de seguros pagam médicos e procedimentos."
A proposta da clínica é que os pacientes paguem uma taxa fixa de menos de US 100 para os cuidados primários (que incluem consultas presenciais, e-mail e por telefone) e que tenham um plano de seguro para situações de emergência ou cuidados especiais. "Nós não usamos o seguro automóvel para trocar nossos pneus", compara.
Alguns empregadores já informaram que pagarão a taxa para os trabalhadores como parte de um plano de benefício. A expectativa é que modelos como esse ajudem a reduzir o custo dos cuidados de saúde.
Os projetos do rapper ZDoggMD não são menos ambiciosos. Após a filha de Damania apresentar os vídeos do pai ao professor do ensino fundamental, surgiu o plano de adaptar as canções de rap da saúde para o ambiente escolar. Ele chama isso de escola Doc.
Cláudia Collucci é repórter especial da Folha, especializada na área da saúde. Mestre em história da ciência pela PUC-SP e pós graduanda em gestão de saúde pela FGV-SP, foi bolsista da University of Michigan (2010) e da Georgetown University (2011), onde pesquisou sobre conflitos de interesse e o impacto das novas tecnologias em saúde. É autora dos livros "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de "Experimentos e Experimentações". Escreve às quartas, no site.
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