FERNANDO RODRIGUES
DE BRASÍLIA
DE BRASÍLIA
Os milhares de manifestantes que marcharam ontem nas ruas de grandes metrópoles estão divorciados dos grandes partidos políticos.
Nenhuma legenda conseguiu ainda capitalizar a seu favor os protestos. Por essa razão, torna-se imprevisível o desfecho do movimento. Pode resultar em algumas mudanças ou dar em nada.
Até o início da noite de ontem, apesar da invasão da cobertura do prédio do Congresso Nacional, o nível de violência havia caído em relação aos dias anteriores.
É um sinal de que talvez novos líderes estejam surgindo e exercendo influência.
Esse é o primeiro passo para que um movimento espontâneo se torne orgânico.
Só que até agora não há vasos comunicantes com o establishment da política. Dos quatro principais pré-candidatos a presidente em 2014, três são de agremiações tradicionais --Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).
A última vez que estiveram a favor de um ato público de alguma magnitude foi em 1992, contra o então presidente Fernando Collor.
Já a pré-candidata à Presidência Marina Silva, que está organizando a Rede, é a única cujo discurso flerta com os manifestantes.
Assim como ela, os que marcham não apresentam com grande clareza propostas do ponto de vista prático. Apenas querem um mundo melhor.
Seria arriscado para Marina se aproximar dos manifestantes e tentar faturar algum apoio para o seu novo partido. Movimentos horizontais e espontâneos tendem a rejeitar essas abordagens.
Dilma, Aécio e Eduardo Campos teriam ainda mais dificuldade. Há, portanto, tendência não desprezível de os protestos ficarem órfãos por algum tempo de um representante político. Até despontar um nome novo.
Nunca é demais lembrar que, em 1988, ninguém sabia quem seria eleito presidente no ano seguinte. Mas havia uma insatisfação difusa no Brasil. As pessoas pareciam insatisfeitas com tudo, ainda mais com a hiperinflação.
Emergiu um político alagoano desconhecido, jovem, cuja proposta principal era combater a corrupção e os marajás. Fernando Collor de Mello ganhou o Palácio do Planalto em 1989 com amplo apoio das ruas. Caiu em 1992 da mesma forma.
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