terça-feira, 18 de junho de 2013

Contra - Atônitos, governos não conseguem entender atos - Igor Gielow

folha de são paulo
PAÍS EM PROTESTO
CONTRA
* ONDA DE PROTESTOS ATINGE 12 CAPITAIS, NA MAIOR MOBILIZAÇÃO DEPOIS DO 'FORA COLLOR' * PALÁCIO DOS BANDEIRANTES E CONGRESSO VIRAM ALVO * SP REÚNE 65 MIL E TERÁ NOVO ATO HOJE
Dilma, Alckmin, Haddad, Cabral, Sarney, Feliciano, partidos políticos, corrupção, polícia, violência, saúde, educação, cotas, inflação, imprensa, Fifa, Copa do Mundo e, é claro, transporte público.
As manifestações que ganharam corpo em São Paulo desde o último dia 6 contra o reajuste das tarifas de transporte tomaram o país ontem e se tornaram um enorme protesto contra tudo e contra todos.
Houve atos em 12 capitais, que reuniram ao menos 215 mil pessoas, segundo estimativas oficiais, na maior mobilização desde as passeatas que culminaram com o impeachment de Fernando Collor, em 1992.
Sedes de poder viraram alvo em cinco capitais. No Rio, onde houve o protesto mais violento, o prédio da Assembleia Legislativa foi invadido. Em Brasília, o teto do Congresso foi ocupado. Manifestantes tentaram entrar no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, mas foram contidos pela PM.
Em São Paulo, ao menos 65 mil participaram do ato, segundo o Datafolha. Desses, 84% não têm preferência partidária. Haverá novo protesto hoje às 17h.
O dia também teve declarações em tom conciliador de políticos em relação às manifestações, como da presidente Dilma e dos ex-presidentes FHC e Lula.
    ANÁLISE - PAÍS EM PROTESTO
    Atônitos, governos não conseguem entender atos
    Planalto ainda tenta achar uma forma de escapar da 'linha de tiro' dos manifestantes
    IGOR GIELOWDIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIAÀ falta de uma Bastilha, para ficar na pretensão das alas autointituladas revolucionárias dos protestos Brasil afora, temos a laje do Congresso Nacional.
    Às cenas de aglomeração, vandalismo e repressão policial somaram-se imagens simbólicas da "ocupação" do símbolo do poder central.
    Enquanto isso, os governantes demonstram sua dificuldade de compreender a natureza dos atos. Estão atônitos com a marcha.
    A frase divulgada pela presidente Dilma Rousseff, é reveladora. São apoiadas, diz Dilma, manifestações pacíficas --típicas de "jovens".
    O problema dessa leitura, além de óbvia, é que ela não encontra destinatário. Quem são esses "jovens"? A própria cena no Congresso ontem demonstrava isso: havia queixas sobre praticamente tudo, inclusive o nada.
    Isso dificulta a vida do negociador-em-chefe do governo, Gilberto Carvalho, que também havia falado algo genérico sobre a importância de ouvir as "angústias". Acostumado a lidar com movimentos sociais, ele falou para o éter, para o ciberespaço de onde as forças que demonstram parecem ter vindo.
    Há o cálculo político. Se em São Paulo o prefeito Fernando Haddad (PT) e, principalmente, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) saem chamuscados do episódio, o Planalto ainda tenta dar um jeito de escapar da linha de tiro dos manifestantes.
    Afinal de contas, lidar com os atos é, até aqui, problema dos Estados. Não por acaso, a violenta repressão de quinta em São Paulo deixou atordoado o governo Alckmin, que alterna pregações pela ordem com tentativas de contemporização.
    Ao dizer que apoia manifestantes pacíficos, Dilma no limite evita pintar um alvo no rosto --embora não irá faltar acusações de uso político visando a conquista de São Paulo no ano que vem; o embate de tucanos com o pré-candidato José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, não é nada casual.
    Mas parece difícil: sem uma pauta específica, protestos difusos pelo país tendem a mirar o "Grande Outro", para ficar em linguagem psicanalítica. E o "Grande Outro", no Brasil, trabalha lá mesmo, na praça dos Três Poderes.

      Nenhum comentário:

      Postar um comentário