segunda-feira, 3 de junho de 2013

Eduardo Almeida Reis - Medicina‏

Urbano também pode ser afável, civilizado, cortês, coisa que o paulistano definitivamente não é, como também pode significar antigo povo da Ligúria 


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 03/06/2013 

Filho de médico, amigo de médicos, paciente de médicos, ex-quase estudante de medicina, dói-me noticiar certos fatos que mancham pequena parcela da medicina brasileira. Por isso, segurei o quanto pude a publicação deste comentário, que hoje solto no maior constrangimento.

No Hospital Evangélico de Curitiba, o segundo maior da cidade, médica feia pra dedéu, “dona” do quarto pavimento, onde fica a UTI, agilitava a morte dos pacientes do SUS visando a abrir vagas para pacientes mais rentáveis. Jogava tamancos nos funcionários, fumava sem parar na UTI que dirigia, um negócio espantoso. Fosse o philosopho advogado de defesa da dra. Virgínia, garanto que seria considerada inimputável. Ela deve ter espelho em casa e no hospital. Depois de se ver na superfície lisa e polida, a doutora tem a obrigação moral de sair desligando tubinhos. Não deixa de ser curioso notar que o ilustre advogado, incumbido da defesa da senhora acusada de matar centenas de pessoas, se chama dr. Mattar.

No Araxá, que fica em Minas Gerais, um médico atendeu pedreiro assaltado e o mandou de volta para casa com uma lâmina de faca ainda metida no peito. Pedreiro fortíssimo passou três meses, espetado por dentro, vivendo à base de remédios contra a dor das espetadas, até que alguém se lembrou de tirar uma radiografia torácica do pobre cidadão. Operado, promete voltar ao trabalho. O médico distraído não quis falar à imprensa.

Em Poços de Caldas, também nestas Minas, quatro médicos foram condenados a penas que vão de oito a 11 anos de reclusão. Motivo: retiravam órgãos de seus pacientes para comercialização em transplantes supostos de render R$ 200 mil por mês. Dois outros facultativos, que hoje têm mais de 70 anos, ficaram livres da cadeia. E tudo isso num só noticiário de uma única edição de um telejornal.

Paraíso urbano

Vi na tevê e anotei na hora, para conversar com os leitores do grande jornal dos mineiros: São Paulo, a maior cidade do país, vem de aperfeiçoar o paraíso urbano, isso é, paraíso relativo ou pertencente a cidade. Sim, porque urbano também pode ser afável, civilizado, cortês, coisa que o paulistano definitivamente não é, como também pode significar antigo povo da Ligúria, na Itália, donde se conclui que a Ligúria já não tem urbanos.

O paraíso paulistano começou com os apartamentos de 29m2, evoluiu para 25m2 e agora anuncia apês de 21m2, com garagem. Preço dos novos apês de quarto, banho e cozinha em 21m2 (com garagem): R$ 250 mil. Isso mesmo que você entendeu: duzentos e cinquenta mil reais, ou 125 mil dólares no dia em que componho estas bem traçadas.


O construtor explicou que vende o prédio inteiro em um dia, como vendeu os prédios com imensos apartamentos de 25m2 e os outros, que dispõem de quarto, banheiro e cozinha em gigantescos 29m2.


Dizer o quê? O jovem empresário da construção civil explicou ao repórter que a exigência legal de vaga na garagem encarece a obra. Jovem jornalista gorducha, que comprou apê de 25m2, explicou que no princípio trombava no mobiliário, cama, sofá, mesa, tudo junto, mas já se acostumou.

Em 1990, quando andei num sufoco financeiro que não tinha mais tamanho, morei num quarto e sala, sem garagem, emprestado por um amigo. Mas o banheiro era razoável e – pasme o leitor – tinha bidê! Sem elevador, o apê de fundos, segundo andar, deve orçar (o prédio existe até hoje) pelos 35m2. Comportava geladeira na cozinha, enquanto no apê paulistano a jornalista gorducha tem, coitada, um frigobar. E não tem bidê, mas tem garagem utilíssima para guardar o carro destinado a ficar parado nos engarrafamentos de 250 quilômetros ou mergulhar nos rios em que se transformam as ruas e avenidas da maior cidade brasileira.

O mundo é uma bola

3 de junho de 1553: inauguração da Universidade do México. Em 1822, dom Pedro recusa fidelidade à Constituição portuguesa e convoca a primeira Assembleia Constituinte brasileira. Pelo menos é o que está na Wikipédia. Acho a informação esquisita, porque os gritos do Ipiranga foram dia 7 de setembro do mesmo ano, quando, segundo nos contou o padre Belchior Pinheiro, o príncipe obrava de cócoras às margens do riacho, agoniado por uma disenteria com dores que apanhara em Santos. Terminada a obra, levantou-se, abotoou a fardeta e teria gritado: “Laços, fora, soldados! Pelo meu sangue, pela minha honra, pelo meu Deus, juro fazer a independência do Brasil!”. Em seguida, montou sua besta baia gateada (que tinha malhas negras nos jarretes e nos joelhos) e disparou para o centro de São Paulo, que essas obras às margens de riachos nunca foram confortáveis. Falta-me tempo para ver se a recusa de fidelidade à Constituição portuguesa foi mesmo dia 3 de junho, mas vejo que nessa data, em 1926, foi estabelecido em Portugal um regime militar.

Em 1962, fundação da Igreja Pentecostal Deus é Amor, mas boa mesmo é a Adud, Assembleia de Deus dos Últimos Dias, daquele santo estuprador que mora em modesto apartamento de 4 milhões de dólares na Avenida Atlântica.

Ruminanças

“Inclino-me a crer que a ignorância é a mãe da felicidade.” (Cândido de Figueiredo, 1846-1925)

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