segunda-feira, 3 de junho de 2013

Historiadora lança livro sobre abusos sexuais de soldados americanos na Normandia

folha de são paulo
JENNIFER SCHUESSLER
DO "NEW YORK TIMES"

The New York TimesOs soldados que desembarcaram na Normandia no Dia D foram recebidos como libertadores, mas quando as tropas americanas voltaram para casa, no final de 1945, muitos cidadãos franceses as viam sob uma luz muito diferente.
Na cidade portuária de Le Havre, o prefeito foi bombardeado por cartas de moradores nervosos que se queixavam de bebedeiras, acidentes com jipes, assédio sexual - "um regime de terror", como disse um deles, "imposto por bandidos de uniforme".
Esta não é a "maior geração", como passou a ser retratada em conhecidos livros de história. Mas em "What Soldiers Do: Sex and the American G.I. in World War II France" [O que os soldados fazem: sexo e o soldado americano na França na Segunda Guerra Mundial], a historiadora Mary Louise Roberts se baseia em arquivos franceses, registros militares americanos, propaganda da época da guerra e outras fontes para propor uma tese provocante: a libertação da França foi "vendida" para os soldados não como uma batalha pela liberdade, mas como uma aventura erótica entre francesas super-sensuais, provocando nos soldados um "tsunâmi de desejo sexual" que a população francesa, massacrada e desconfiada, muitas vezes considerou um segundo ataque a sua soberania e dignidade.
"Eu não podia acreditar no que estava lendo", disse Roberts, professora de história francesa na Universidade de Wisconsin em Madison, ao lembrar o momento em que encontrou as queixas dos cidadãos em um arquivo obscuro no Havre. "Peguei minha pequena câmera e comecei a fotografar as páginas."
Enquanto os argumentos de Roberts podem ser difíceis de vender para leitores habituados a narrativas mais heróicas, seu livro está conquistando o elogio de colegas. "Nossa cultura embalsamou a Segunda Guerra como 'a guerra boa', e não revisitamos o cadáver com muita frequência", disse David M. Kennedy, historiador na Universidade Stanford, na Califórnia. "Esse livro", acrescentou, é "um sopro de ar fresco" que, como ele diz, oferece menos uma descoberta que uma constatação.
Roberts enfatiza que o heroísmo e o sacrifício dos soldados americanos foram reais, e inspiraram gratidão. Mas as fontes francesas também revelam uma profunda ambivalência por parte dos libertos, argumenta.
Seu livro cita propaganda militar e notícias da imprensa que mostram a França como "um tremendo bordel habitado por 40 milhões de hedonistas", como colocou a revista "Life". (Amostras de frases em francês no jornal militar "Stars and Stripes": "Você é muito bonita" e "Seus pais estão em casa?")
Nos Arquivos Nacionais em College Park, Maryland, Roberts encontrou evidências - entre elas uma foto desfocada - que confirmam anedotas pitorescas que há muito circulavam sobre o Blue and Gray Corral, um bordel montado perto da aldeia de St. Renan em setembro de 1944 pelo major general Charles H. Gerhardt, comandante da divisão de infantaria que desembarcou em Omaha Beach, em parte para conter uma onda de acusações de estupro contra as tropas. (Ele foi fechado depois de apenas cinco horas.)
Na França, Roberts também encontrou uma carta desesperada do prefeito do Havre, de agosto de 1945, que pedia aos comandantes americanos que montassem bordéis fora da cidade, para conter as "cenas contrárias à decência" que ocupavam as ruas. Eles se recusaram, em parte, argumenta Roberts, por temerem que permitir a prostituição seria malvisto pelas "mães e namoradas americanas", como disse um soldado.

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